O especialista: Cicatrizes que ficam

saude_monicagiacomini.jpgFreqüentemente, chegam aos serviços médicos crianças com fraturas ou com outras contusões que levam os profissionais de saúde a suspeitar de violência ou maus-tratos. Diante de qualquer suspeita, a obrigação desses profissionais é pedir ajuda psicológica para investigar o caso. Muitas vezes, a criança não consegue contar o que ocorreu. Nesse caso, o psicólogo hospitalar deve observar o seu comportamento em conjunto com a equipe médica.

O psicólogo deve analisar a relação de cada familiar com a criança, sua afetividade e possíveis contradições no seu discurso. Associada à conclusão do médico, da assistente social e de outros profissionais, o psicólogo deve enviar o laudo ao fórum da região para que o juiz tenha mais subsídios para concluir o parecer sobre o caso. Quando realmente ocorrem maus tratos, a alta hospitalar fica atrelada à deliberação judicial. Por isso, a avaliação dos profissionais deve ser rápida para que a criança não espere muito pela alta.

O registro dessa vivência existirá independente da idade da criança, comprometendo seu desenvolvimento emocional. Isso pode comprometer a relação da criança com outras pessoas e com seus próprios sentimentos. Muitas podem apresentar tendência ao isolamento e a sentimento de menos valia, que a afasta do meio social e restringe seus vínculos afetivos. Quando o agressor é próximo e querido, a criança vive um turbilhão emocional: raiva, revolta, rejeição e abandono. Porém, como nessa relação ainda pode existir o amor, às vezes, a vítima, inconscientemente, tente preservar o agressor, como se acreditasse que mereceu a agressão.

Passar por essa experiência pode ganhar novo significado, o que ajuda a seguir em frente, mas não elimina o trauma. O tratamento psicológico tende a aparar arestas e cuidar das feridas, mas não elimina as cicatrizes.

Monica Giacomini Guedes da Silva, especialista em psicologia hospitalar.

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