O especialista: Até quando?

ms02131206.jpgAs dramáticas mortes da modelo Ana Carolina Reston e da estudante de moda Carla Sobrado Casale, ambas com apenas 21 anos, demandam uma reflexão profunda acerca da ditadura estética à qual uma parcela significativa de jovens mulheres se submete.

A presente reflexão leva em conta as saudáveis resistências aos ditames impostos pela cultura do ?body fitness?. Contudo, não há como negar o exponencial aumento de casos de anorexia e bulimia e de outros distúrbios conhecidos como doenças da beleza.  

De desígnio divino ou de limitações anatômicas, a beleza passou a ser um ato de vontade, de esforço e um denotativo de caráter. A sociedade de consumo traz a mensagem de que só é feio quem quer, ?moralizando o corpo?. E nos tempos atuais o corpo passa a ser o principal objeto de consumo.

Beleza é artigo de primeira necessidade. Mas por ela se paga um alto preço. E quais são os padrões? Definitivamente magros. Nas palavras da própria Carla: ?Eu prefiro morrer a ser gorda?. Somos cruéis com aqueles que fogem aos padrões estéticos definidos como ideais. É preciso refletir como o corpo se tornou um objeto persecutório para grande parte das mulheres.

Qualquer menina gordinha pode relatar como foi excluída. Mais grave é o fato de que somos absolutamente tolerantes com esta forma de discriminação, que se perpetua na fase adulta. Sabe-se que inúmeras empresas não contratam pessoas gordas, deixando de lado aspectos genéticos e psíquicos, na certeza de que a gordura é apenas uma questão de ?força de vontade?.   

E não se trata apenas dos casos de obesidade. Após 10 anos de pesquisa, tendo entrevistado cerca de 100 mulheres para minha tese de doutorado, e à frente de um laboratório que trata doenças da beleza, não posso deixar de reafirmar a intolerância, real ou imaginária, que grande parte dessas mulheres relata.

Nada trará de volta as duas jovens. Por isso mesmo devemos denunciar o preconceito e as inúmeras pressões a que tantas pessoas são submetidas. Parar de banalizar a anorexia e a bulimia, realidade de tantas jovens, e gritar cada vez mais alto que cada um de nós é dono de seu corpo e que este foi feito para nos servir e não para nos aprisionar.

Joana de Vilhena Novaes, doutora em psicologia clínica e autora do livro O Insuportável Peso da Feiúra: sobre as mulheres e seus corpos.

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