ms02251006.jpgA tradição canadense de promover conferências mundiais sobre aids com grande conteúdo científico não se confirmou em Toronto recentemente. Pesquisadores e cientistas de todo o mundo afirmaram que o tom político da conferência foi mais acentuado em relação à inovação. A partir dessas conclusões, surgem dois caminhos de discussões muito interessantes. O primeiro é que a pesquisa clínica não é uma máquina programada e também exaure seus recursos e descobertas, e nem sempre há grandes inovações terapêuticas substanciais para serem apresentadas a cada ano. Para os que buscam, de forma avassaladora, as novidades apresentadas pelas conferências, é necessário notar que aquilo que não se viu em Toronto certamente será visto em Sydney, no ano que vem, e depois no México, em 2008.

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Outra questão, muito pontual, sobre o porquê de poucos estudos clínicos que evidenciariam novidades no tratamento de combate ao vírus HIV, pode ter origem na base política da questão e nas manifestações contundentes e até agressivas, cada vez mais freqüentes em eventos dessa natureza, contra as empresas de pesquisa clínica, laboratórios que financiam tais pesquisas. O mantra do desrespeito constitucional às patentes já fez com que empresas deixassem de investir e, pior, registrar seus produtos inovadores para HIV/aids em países importantes, o que só piora a relação entre pacientes e cuidadores, do ponto de vista terapêutico.

Existe um espaço enorme e não conflituoso entre empresas, classe médica, ONGs e autoridades governamentais para ser preenchido na melhoria do tratamento e da adesão, formatado em diálogos consistentes e sem histerias. O respeito aos diferentes pontos-de-vista não deve levar ao conflito, mas ao diálogo permanente. O grupo de negociação de medicamentos para o tratamento do HIV, que reúne 17 paises da América do Sul, Caribe e mais o México, já descobriu os caminhos do diálogo e obteve excelentes resultados nas últimas negociações regionalizadas. Nesse aspecto, não me surpreendeu ver o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, colocar a fundação que preside à disposição de intermediações para países carentes de acesso, em especial os do continente africano.

Mas, entre a escassez de novidades terapêuticas e a invasão quase agressiva por manifestantes à sala de imprensa, forçando a produção de notícias, fiquei com a paz reinante no Global Village. Ali, pacificamente, demonstrou-se o quanto os avanços científicos se harmonizam com o mundo do bem e de astral elevado. Foi lá que encontrei monges budistas vindos da Tailândia, catequizando uma delegação de peruanos religiosos acerca do uso correto de preservativos femininos. Definitivamente, o mundo do diálogo é um mundo melhor.

Antonio Carlos Salles, diretor de assuntos corporativos da Bristol-Myers Squibb.

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