As UTIs são áreas habitualmente fechadas e separadas física e funcionalmente do restante do hospital. Foram desenvolvidas há cerca de 50 anos para reunir, em um mesmo espaço, pacientes gravemente doentes ou em risco de morte e pessoal qualificado e equipamentos complexos para aperfeiçoar o tratamento de doenças graves e diminuir a mortalidade.
A eficiência desse conceito em atingir tais objetivos foi tão grande que, rapidamente, se construíram UTIs em praticamente todos os hospitais de médio e grande portes no mundo. Entretanto, vários problemas surgiram, entre eles, a falta de capacitação da equipe para atender os pacientes e a desumanização da unidade.
As UTIs mais antigas foram construídas em áreas adaptadas dos hospitais, sem espaço físico adequado tanto para os pacientes e seus familiares quanto para médicos e enfermeiros. Nessas circunstâncias, as primeiras equipes de saúde alocadas para atender os pacientes gravemente doentes não possuíam ambiente e formação adequados nem estavam capacitados para suportar o estresse de um ambiente com demandas permanentes.
Nos dias de hoje, o conceito de UTI tem sido reformulado. Elas estão se tornando também mais humanas. Humanas no sentido de valorizar o bem-estar e o conforto físico e emocional dos pacientes e seus familiares. Assim, estão ganhando espaço físico, com boxes ou quartos privativos espaçosos, bem iluminados. A equipe é treinada para valorizar os desejos e as preferências dos pacientes e seus familiares. Nas situações limite, a sustentação ou não dos suportes avançados de vida também têm sido discutidos com pacientes e familiares. Assim, cada vez mais eles tomam parte no processo de decisão.
Muito provavelmente o pior período da nossa saúde será quando tivermos que passar por uma UTI por causa de um infarto ou no pós-operatório de uma grande cirurgia. Nesse momento é imprescindível que sejamos tratados por uma equipe competente, otimista, proativa e humana. É claro que o que um paciente mais quer naquele momento é sobreviver ao evento, mas não é só isso. Sua valorização como pessoa com demandas individuais deve ser garantida também.
A maioria das UTIs de Curitiba, por exemplo, tem índices de mortalidade ao redor de 10-15%. Isso significa que um número significativo de internos em UTI volta para casa e, muitos deles, conseguem readquirir a sua atividade anterior. Por isso a UTI deve ser vista de uma forma diferente, como uma porta para a vida. O professor Darcy Ribeiro certamente teria uma impressão melhor das UTIs de hoje, se ainda estivesse vivo.
Álvaro Réa Neto, chefe da UTI – Adulto do Hospital de Clínicas da UFPR e diretor do CEPETI – Centro de Estudos e Pesquisa em Terapia Intensiva.