O diabetes é uma doença pesquisada desde a primeira metade do século XX. Mas foi nas últimas três décadas que cientistas puderam estudar com mais profundidade a doença em crianças e adolescentes. Além do diabetes tipo 1 clássico, foram caracterizadas várias formas da doença. O diabetes tipo MODY e o diabetes tipo dois (DM2) estão entre eles. Nos últimos anos, tem-se observado um aumento do DM2 entre jovens. Anteriormente, essa forma correspondia a 1/2% dos casos de diabetes na juventude. Atualmente, de 8% até 45% dos casos em alguns países são diagnosticados nessa faixa etária.
O aumento da obesidade, o sedentarismo e a mudança de hábitos alimentares, bem como a piora do estilo de vida das cidades, causam já na adolescência o avanço do DM2. Estudos relacionam as elevadas taxas de obesidade na infância e adolescência com dietas hipercalóricas e hipergordurosas.
Outros fatores também se relacionam, tais como fatores genéticos, raciais, puberdade, obesidade e o peso ao nascer. A idade média dos jovens ao diagnóstico do DM2 é de aproximadamente 13 anos, o que coincide com o meio da puberdade.
Em Curitiba, em protocolo de estudo recentemente realizado, o perfil das crianças diabéticas tipo 2 foi muito semelhante a um levantamento realizado em São Paulo, que evidenciou uma elevação na resistência à ação da insulina em portadores de excesso de peso com antecedentes familiares de diabetes do tipo 2, sugerindo que já nessa faixa etária, como observado no adulto, a ação da insulina pode ser dificultada pela obesidade, condição essa de risco para o desenvolvimento do diabetes.
O diagnóstico de DM2 na infância deverá ser feito levando em consideração critérios clínicos como a idade e o sexo do paciente, presença de obesidade e história familiar positiva para DM2.
Crianças e adolescentes obesos e seus pais devem receber explicações claras sobre a patogenia da obesidade e o risco associado em desenvolver DM2. O ponto fundamental do tratamento é a modificação do estilo de vida, incluindo modificações dietéticas e aumento da atividade física. Reconhecer os hábitos alimentares antigos, sugerindo modificações que propiciem a redução do peso, sem prejuízo no ritmo de crescimento, além de estimular atividade física diária como caminhadas, andar de bicicleta e subir escadas. Recomenda-se adesão de todos os membros da família a adotar as mesmas características alimentares saudáveis e realizar exercícios em conjunto ou individualmente.
O sucesso do tratamento está na educação, com dieta e exercício e é atingido quando o paciente mantém um crescimento normal, com controle de peso, glicemia de jejum próximo da normalidade (inferior a 100 mg/dl). Quando as metas do tratamento não são atingidas apenas com as mudanças de estilo de vida, a terapia com medicamentos deve ser indicada.
Mauro Scharf, endocrinologista e consultor do Diagnósticos da América (DASA).