Terapia revela como a personalidade afeta o desenvolvimento das cordas vocais
Joana Campos, de 26 anos, não abria a boca em público. Desde a adolescência tinha uma voz de criança e fugia até de possíveis namorados. Cansada da sua imagem infantilizada, muito diferente da sua personalidade, procurou um serviço de fonoaudiologia. Hoje tem uma voz adulta normal.
Já o estudante Cláudio Lima, de 21 anos, nasceu prematuro e foi superprotegido na infância. Isto terminou influenciando a formação da sua voz, muito baixa.
– Minha voz era muito baixa, quase inaudível. Tive que fazer exercícios vocais para falar melhor – conta.
Outra que costumava passar uma falsa imagem é a empresária Ana Carvalho, de 37 anos. Sua voz era tão grave que, ao telefone, as pessoas pensavam estar falando com um homem. O seu problema piorou com o cigarro. Casos como o de Joana, Cláudio e Ana são comuns. A fonoaudióloga e psicomotricista Cláudia Liechavicius explica que a voz expressa características da personalidade, mas pode enganar o ouvinte. Por exemplo, a voz rouca revela uma pessoa estressada. Já um indivíduo de voz áspera transmite agressividade e aflição.
– A pessoa modifica a voz de acordo com a situação. Mas existem características da personalidade que podem ser identificadas quando alguém fala – diz.
Segundo Cláudia, a voz é uma identidade. A soprosa dá impressão de fraqueza, mas também transmite sensualidade. A monótona dá idéia de pessoa chata e desinteressante. Há ainda indivíduos que apresentam voz pastosa, passando a sensação de falta de maturidade emocional.
– Os efeitos da voz nos ouvintes podem dificultar o relacionamento pessoal e profissional. Essas alterações são corrigidas com tratamento fonoaudiológico. Às vezes, é necessário acompanhamento psicológico e, dependendo da queixa, é importante consultar um otorrino – diz.
Intensidade exprime auto-imagem
Ela lembra que a maioria das pessoas precisa da voz para trabalhar. Se a qualidade for ruim, traz vários transtornos.
– A história familiar deve ser levada em conta na análise vocal. Uma criança criada numa família autoritária pode ter a voz mais fina na fase adulta – diz Cláudia.
Não é só o tipo de voz que o terapeuta observa. Sua intensidade permite outras interpretações. A alta intensidade transmite vitalidade, mas pode ser sinal de falta de paciência. E a baixa intensidade exprime uma auto-imagem negativa e uma educação repressora. Também a terapeuta Sônia Prazeres diz que a voz está intimamente ligada às emoções.
– A expressão da voz, com exercícios como o canto, pode ser útil no tratamento de inibições, além de ajudar a superar a ansiedade, a insegurança e os medos – diz Sônia, especialista em vozterapia.
O cantor Fred Martins venceu sua timidez para cantar com a vozterapia.
– Liberei sentimentos que bloqueavam minha expressão pessoal – conta Fred.