Embora seja verdade que as mulheres são menos afetadas do que os homens, as doenças cardíacas não são exclusividade masculina. O curioso é o fato que a maioria das mulheres se preocupa mais com o câncer de mama do que com as cardiopatias, embora estas causem quatro vezes mais mortes.
Dois mitos populares persistem até hoje: apenas homens sofrem de doenças do coração e mulheres só correm risco quando são idosas. As mulheres minimizam a importância de seus próprios riscos.
Pesquisas recentes constataram que apenas uma em cada quatro delas reconhece que as doenças cardíacas são as principais ameaças a sua expectativa de vida, enquanto que 40% acreditam que o câncer é a principal.
Essa visão é mais difundida entre as jovens: apenas uma em dez jovens entre 16 e 24 anos tem medo de sofrer um infarto. A vida das mulheres é marcada pela superação diária, em todos os aspectos.
Exemplos de superação como esposa, mãe e profissional não faltam. Elas “batalham” para estar sempre à frente do seu tempo. Tanto que o sucesso delas, hoje cada vez mais modernas e em pé de igualdade com os homens, está claro. Porém, muitas vezes isso faz com que essas “mulheres maravilha” releguem a atenção à saúde para o segundo plano, o que é uma ameaça em potencial.
Mulheres obesas e hipertensas correm dez vezes mais risco de sofrerem um ataque do coração, como infarto, do que homens nessa mesma condição. |
Colesterol modificado
A cardiologista Tânia Martinez alerta para o perigo da falta de atenção das mulheres à saúde, especialmente para o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas.
“Muitas enfrentam um turno triplo, como mães, executivas e donas de casa. Isso gera um estresse que, se não controlado, poderá desencadear doença arterial coronariana”, comenta.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Climatério (Sobrac), as doenças cardiovasculares ocupam no Brasil o primeiro lugar entre as causas de mortalidade desde a década de 1960, tanto para homens quanto para mulheres.
O colesterol elevado é um dos principais fatores responsáveis pelo seu desenvolvimento. Além disso, ainda de acordo com a SBC, 42% das mulheres brasileiras apresentam colesterol acima de 200 mg/dl (nível considerado normal), contra 38% dos homens.
Outros fatores complicadores, que somados ao colesterol elevado só potencializam o risco de aparecimento da das doenças “do coração” são o aumento do tabagismo e da ingestão de bebidas alcoólicas pelas mulheres, além do consumo exagerado de alimentos ricos em gorduras, do sobrepeso e da obesidade.
“Com o aumento dessas práticas elas passaram a apresentar mais risco para desenvolver doença arterial coronariana em relação ao sexo masculino”, ressalta a cardiologista.
Hábitos saudáveis
Mas as mulheres têm um aliado: o hormônio estrogênio. Sua ação protege as artérias coronárias (vasos que levam o sangue para o coração). Porém só essa proteção não basta, porque o processo de aterosclerose – doença que leva à obstrução das artérias e é determinante dos principais fatores de risco cardiovascular – já pode ocorrer em mulheres a partir dos 20 anos de idade.
A especialista explica que não há mágica. A disciplina e a adoção de hábitos saudáveis são os melhores camin,hos para se evitar doenças cardíacas. A atenção à alimentação (rica em frutas e verduras e pobre em gorduras), o sono – dormir no mínimo seis horas por noite – e a prática regular de atividade física moderada por, pelo menos, 30 minutos de três a seis dias por semana, reduz o risco de infarto em mais de 50%, pois contribui para diminuir o LDL (colesterol ruim), também aumentando o HDL (colesterol bom).
Para as mulheres em que os índices de colesterol estão acima dos considerados seguros, tratamentos não faltam. É fundamental que elas procurem o cardiologista para que seja indicado o tratamento mais adequado ao perfil da paciente.
Dentre as opções existentes estão as estatinas com o maior número de evidências científicas que comprovam seus efeitos na redução significativa do risco de eventos cardiovasculares e na diminuição em 39% a 60% dos níveis do colesterol ruim.
Medidas simples para um coração saudável
A partir dos 40 anos de idade, as doenças do coração tornam-se mais frequentes na maioria da população. Fazer consultas periódicas com um cardiologista e seguir as recomendações médicas é uma maneira de prevenir essas enfermidades e manter a qualidade de vida.
Segundo o cardiologista Rubens Darwich, as principais causas das doenças cardíacas são decorrentes de outros problemas que atingem direta ou indiretamente o coração, como hipertensão, sequelas de infarto do miocárdio, alterações nas válvulas cardíacas e doenças virais do músculo do coração. “Esses fatores são os mais comuns que podem levar à insuficiência cardíaca e, por isso, as medidas preventivas não podem ser negligenciadas”, alerta o especialista.
* Realizar avaliações cardiológicas periodicamente, após os 40 anos de idade
* Portadores de diabetes, hipertensos, tabagistas, mulheres na pós-menopausa e pessoas com colesterol elevado, devem passar por check-up anual
* Controlar a pressão arterial, aderindo aos tratamentos indicados pelos médicos
* Fazer dietas balanceadas e reduzir a quantidade de sal nos alimentos
* Praticar exercícios físicos regularmente
* Perder peso
* Evitar bebidas alcoólicas e fumo
* Manter uma vida saudável, longe do estresse
Mocinho ou bandido
Descoberto pelo químico francês Michel Eugene Chevreul, em 1815, o colesterol é “mocinho” e “bandido” ao mesmo tempo. Isso porque a substância, quando é “do bem” se transforma em um tipo de gordura necessária à composição do organismo. É produzida especialmente no fígado e é matéria-prima para a fabricação de ácidos biliares, hormônios e vitamina D. O bom colesterol é o HDL (lipoproteína de alta densidade, em inglês).
Sua faceta “do mal” é o LDL (lipoproteína de baixa densidade, em inglês), isso acontece quando, em excesso, o LDL c obstrui as artérias. É a HDL que remove o colesterol da corrente sanguínea e o transporta para o fígado, de onde é eliminado ou reaproveitado. Sendo assim, quanto maior o nível do HDL, mais se evita a obstrução arterial.