Ninguém desconhece a influência do fumo no câncer de pulmão, em outros tipos de neoplasias e nas enfermidades cardíacas.
Entretanto, a maioria das pessoas não sabe que existe uma relação causal entre o tabagismo e as complicações pós-cirúrgicas.
Nos Estados Unidos, um número crescente de candidatos à cirurgia plástica, por exemplo, está encontrando motivação para abandonar o cigarro por outras razões: a vaidade e a ameaça de não conseguir realizar o sonho de uma aparência mais jovem, barriga sarada ou seios novos.
Nos últimos cinco anos, muitos cirurgiões plásticos americanos se recusaram a operar pacientes fumantes, especialmente aqueles que desejam cirurgias de lifting facial, abdominoplastia ou lifting de seios, procedimentos em que é necessário remover a pele.
A questão é tão grave que, para a Associação Americana de Cirurgia Cosmética, se um médico sabe que o paciente permanecia fumando no período em que passou por uma cirurgia em que a pele é removida, tal conduta pode ser considerada negligência médica.
Por isso, os cirurgiões plásticos recomendam que se deixe de fumar pelo menos duas semanas antes e duas depois da cirurgia, embora alguns exijam um período ainda maior como segurança extra.
Os especialistas chegam a desenvolver planos para os pacientes deixarem de fumar, prescrevendo medicamentos, recomendando hipnose e grupos de apoio. Nesse mundo voltado para a beleza, a primeira vítima do tabagismo é a aparência do fumante.
Investimento
Nessa situação, deixar o cigarro de lado, além de ser uma ótima medida para a saúde, é uma atitude inteligente.
“Por que investir tanto dinheiro em uma cirurgia plástica, se após a cirurgia, o paciente não colabora para garantir os melhores resultados?”, questiona o cirurgião plástico Ruben Penteado.
A grande vilã da história é a nicotina – um líquido tóxico existente nas folhas do tabaco e que em 1690, na França, era usado como inseticida.
A substância tem efeito vasoconstritor, ou seja, reduz o diâmetro dos pequenos vasos, dificultando o aporte de oxigênio e de nutrientes que as células recebem por meio do sangue.
A pele perde o viço e começa a envelhecer precocemente. “Pacientes fumantes têm doze vezes mais chances de apresentar complicações em procedimentos cirúrgicos do que os não fumantes”, alerta o cirurgião plástico Marcos Grillo.
A vasoconstrição causada pela nicotina compromete o processo de cicatrização após as cirurgias. Durante um procedimento cirúrgico que envolve o descolamento do tecido cutâneo, por exemplo, há uma natural diminuição da vascularização.
“Ou seja, a associação do cigarro com a cirurgia potencializa os efeitos negativos sobre a pele”, constata Ruben Penteado. De acordo com o especialista, além do risco de necrose e gangrena, há possibilidade de abertura da sutura e de a pele voltar a enrugar em razão da menor sustentação dos tecidos.
Outra preocupação, manifestada por Marcos Grillo, é de que o fumo compromete o sistema respiratório, deixando o paciente mais suscetível às infecções, problemas de cicatrização, necrose e intercorrências referentes à anestesia, trombose e embolias.
Os especialistas concordam que há, de fato, a necessidade de muita educação e divulgação para que as pessoas realmente sejam informadas sobre esse fator de risco, que é modificável, por isso mesmo, é tão importante.
Efeitos do fumo sobre a aparência
* Quando cigarro e sol se juntam, o estrago é muito maior para a aparência. “Estima-se que a pele das pessoas que tomam sol e fumam envelhece dez vezes mais rápido do que a de quem não têm esses hábitos”, afirma Ruben Penteado. Isso ocorre porque a exposição solar, da mesma forma que a nicotina, destrói as fibras de colágeno e elastina, apressando o processo de envelh,ecimento.
* O cigarro destrói a beleza da pele e dos cabelos, pois causa danos a todo o organismo por meio de sua atuação direta na corrente sanguínea. “Sem a circulação correta de nutrientes, as células não conseguem reter água e vitaminas, a pele se torna flácida, opaca e sem brilho. Os cabelos perdem o viço e ficam ressecados”, diz a dermatologista Priscila Krook.
* Tratamentos estéticos não funcionam para fumantes porque as substâncias tóxicas que são lançadas diariamente na corrente sanguínea estimulam a formação de radicais livres, causando envelhecimento precoce e a formação de rugas. Os fumantes que se tratam com cremes antirrugas podem não obter os mesmos benefícios dos não fumantes, pois os efeitos do tabagismo tornam-se crônicos e persistentes com o tempo.
* O fumo provoca celulite. O fumo também está associado ao aparecimento de celulite por sua influência na circulação sanguínea e excesso de toxinas, que acabam por propiciar a formação de depósitos de gorduras e por consequência o temível efeito “casca de laranja”.
Osteoporose
Outra má notícia para quem fuma é a relação entre tabagismo e osteoporose. Pesquisadores que analisaram os níveis de hormônios sexuais femininos identificaram dois marcadores que sofreram importantes alterações nas mulheres que pararam de fumar. “Mesmo antes de tal comprovação científica, sabia-se que o fumo é altamente prejudicial ao organismo da mulher, favorecendo o desenvolvimento da osteoporose”, comenta a reumatologista Maria Cecília Anauate médica, lembrando que, apesar de não ser fator preponderante, o cigarro, bem como o álcool e o café, aumentam o risco de enfraquecimento dos ossos.
