O tocilizumab (TCZ), uma substância aprovada somente no Japão para o tratamento da síndrome de Castleman, uma doença rara caracterizada pelo surgimento de nódulos linfáticos, vem se tornando a mais nova aposta da medicina para o tratamento e controle da artrite reumatóide (AR). Pesquisas apresentadas no recente Congresso Americano de Reumatologia comprovaram maior eficácia no tratamento com TCZ, quando comparado com a terapia até então recomendada.
A artrite reumatóide é uma doença inflamatória auto-imune crônica e progressiva que danifica as juntas do corpo, principalmente das mãos, comprometendo a vida produtiva dos pacientes, incapacitando-os para o trabalho e atividades de rotina. Assim, escovar os dentes, amarrar os sapatos, abrir uma porta ou segurar um garfo são atividades desafiadoras para os portadores da doença. Estima-se que 1% da população mundial seja afetada pela AR, número que, no Brasil, pode chegar perto de dois milhões de portadores. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para impedir que a doença atinja níveis críticos.
Bloqueio da IL6
Sebastião Radominski, professor de reumatologista da Universidade Federal do Paraná, afirma que a AR é a mais destruidora dentre as mais de cem doenças reumáticas. Sua causa específica ainda é desconhecida. De acordo com o especialista, surge quando o sistema imunológico não reconhece algumas células das articulações e passa a combatê-las. ?Desse conflito surgem as inflamações, que em seguida passam a destruir a cartilagem existente entre as articulações e, nos casos mais graves, atingem os ossos, causando as erosões que levam às temidas deformações?, esclarece.
Produzido pela farmacêutica Roche e batizado como Actemra, o tocilizumab age inibindo o receptor da interleucina 6 (IL6), bloqueando a ação dessa substância, que, quando produzida em excesso, causa inflamação nas articulações. Segundo Andrea Rubbert-Roth, reumatologista da Universidade de Colônia, na Alemanha, que coordena estudos com o TCZ, de cada três pacientes que participaram do estudo, um apresentou remissão da doença, diminuindo dores e sintomas. De acordo com a pesquisadora, os efeitos colaterais do medicamento podem ser considerados desprezíveis, notadamente distúrbios hepáticos e infecções. ?O TCZ tem apresentado, inclusive, um efeito protetor para doenças cardiovasculares?, reconhece.
O tratamento da artrite reumatóide é feito por abordagens distintas e concomitantes, não se resumindo aos medicamentos. Devem ser incluída a atividade física, a perda de peso e o auxílio da fisioterapia e da terapia ocupacional, que ajudam a aliviar a inflamação e a dor, além de manter a funcionalidade das articulações. Por outro lado, os especialistas contam em seu arsenal com drogas cada vez mais poderosas e seguras, tentando-se impedir o progresso da doença e evitar a destruição articular.
Auxílio especializado
Há alguns anos, a terapia se resumia ao combate à dor e à inflamação. Utilizavam-se, principalmente, analgésicos, antiinflamatórios não-hormonais e corticosteróides. Depois, surgiram as drogas anti-reumáticas chamadas de ?modificadores do curso da doença? (DMARD, na sigla em inglês). Mais recentemente, a aposta fica por conta dos medicamentos biológicos, que são capazes de evitar novos surtos de inflamação e retardar a progressão da doença.
Para Geraldo da Rocha Pinheiro, professor de reumatologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, um dos centros que desenvolve o estudo, o desafio dos médicos é interromper essa enfermidade destrutiva, para a qual não existe prevenção nem cura. ?A artrite reumatóide requer tratamento para toda a vida e pode diminuir consideravelmente a expectativa de vida do seu portador?, reconhece.
Conforme o pesquisador, o grande dano estrutural causado pela doença ocorre nos primeiros dois anos do seu surgimento, justamente quando o paciente não busca auxílio de um reumatologista, o especialista mais indicado para tratar a doença. Neste período, se não tratados, os pacientes com AR podem passar de incapacidade moderada para total, rapidamente. A principal preocupação dos médicos é de que os pacientes estejam atentos aos sintomas e sejam encorajados a buscar ajuda sem demora.
Sinais e sintomas mais comuns
* Inchaço, vermelhidão; e calor nas juntas;
* Dor prolongada e rigidez que duram mais de 30 minutos;
* Cansaço ou uma sensação geral de mal-estar;
* Febre baixa, perda de peso e anemia;
* Nódulos sob a pele.
Dores simétricas
A artrite reumatóide costuma atingir muitas juntas, e por muito tempo, geralmente dos dois lados do corpo (simetria), predominando as articulações dos braços e pernas.
1 – Punho – Região que inclui muitas juntas, entre os oito ossos do punho e os ossos do antebraço e das mãos, é sede freqüente de alterações da doença;
2 – Mãos – Tanto nas articulações entre a mão e os dedos como nas articulações entre os primeiros ossos dos dedos, falange e falanginha;
3 – Joelhos, cotovelos, quadris e ombros – Articulações maiores que podem ser comprometidas, com grande risco de evoluir da artrose secundária à artrite;
4 – Tornozelo e pés – Também são atingidos com freqüência.