Um tratamento raramente utilizado que leva a quimioterapia diretamente à cavidade abdominal pode acrescentar, em média, 16 meses de vida a mulheres com casos graves de câncer no ovário, segundo relatos de médicos. A prática deverá ser adotada imediatamente nos Estados Unidos, a partir da publicação das novas descobertas, ontem, segundo orientação do Instituto Nacional de Câncer (NCI) americano.
Atualmente, a maior parte das mulheres recebe quimioterapia por via intravenosa. O problema maior é que o câncer de ovário quase sempre se espalha para a cavidade abdominal e ataca órgãos vitais, como os intestinos e os rins. A aplicação intraperitonial dos medicamentos, segundo o estudo, permite atacar a doença de forma mais eficiente em estágios avançados.
O tratamento combinado (intravenoso e intraperitonial) deverá ser oferecido a toda mulher que se enquadre no perfil clínico de aplicação. Médicos que não puderem oferecê-lo deverão encaminhar as pacientes a clínicas que o possam, segundo os especialistas americanos.
A técnica emprega dois medicamentos genéricos que já são amplamente utilizados para o câncer de ovário, o paclitaxel e o cisplatina, e envolve doses altas que podem causar graves efeitos colaterais.
Em uma atitude incomum, o Instituto Nacional do Câncer está divulgando o estudo para encorajar os médicos a usarem o tratamento. Alertas como esse são raros. O último a ser feito foi em 1999, para divulgar um importante avanço dentro da pesquisa do câncer cervical.
"Queremos usar o púlpito do Instituto Nacional do Câncer para dizer que pacientes e médicos precisam estar cientes desta informação", disse o médico Edward Trimble, do NCI. Ele e outros especialistas disseram que um aumento de mais de um ano de sobrevida é algo extraordinário para qualquer tipo de câncer, e que novos remédios muitas vezes foram aprovados para se obter ganhos menores.
"Acho que é um grande passo à frente", disse Deborah Armstrong, do Johns Hopkins Kimmel Cancer Center, que coordenou o estudo com 415 pacientes, em 40 hospitais americanos. Cerca de metade das mulheres (210) recebeu tratamento intravenoso e 205, uma combinação de quimioterapia intravenosa e intraperitonial. A sobrevida média (tempo no qual metade dos pacientes continua viva) no primeiro grupo foi de 49,7 meses e no segundo, de 65,6 meses. Uma diferença de 15,9 meses.
O estudo, publicado na revista "The New England Journal of Medicine", levou dez anos para ser concluído. Pacientes ainda estão vivas nos dois grupos: 78 no intravenoso e 93 no intraperitonial. O câncer de ovário não é tão comum quanto o de mama ou próstata, mas tem uma taxa de mortalidade muito maior. Entre 1995 e 2000, 44% das pacientes sobreviveram por cinco anos ante 87,7% das pacientes com tumor de mama.
"Realmente, é a melhor notícia que recebemos há algum tempo", disse o médico Richard Barakat, chefe de oncologia ginecológica no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York.