Os portadores do vírus da hepatite C têm agora uma nova chance. O Retrat, considerado o maior estudo já feito com pacientes crônicos, apresentou ótimos resultados de um novo tratamento destinado aos 60% dos doentes que não responderam ao tratamento convencional ou que voltaram a ter a doença mesmo depois de tratados.

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O estudo, apresentado no 18.° Congresso Brasileiro de Hepatologia, que termina neste sábado em Campos do Jordão, tratou 186 pacientes em 12 centros de pesquisa do Brasil. Do total, 106 eram não-respondedores, indivíduos que nunca eliminaram o vírus, e 79 eram recidivantes, pessoas que responderam parcialmente à terapia, mas, após a interrupção dos medicamentos, o vírus voltou a se multiplicar. Os resultados mostraram 30% de chance de cura para o primeiro grupo e 45% para o segundo.

"Tratamos da população mais difícil, dos 60% que não conseguiram a cura, que têm os vírus mais resistentes. Por isso o resultado é um avanço importante", diz o líder do trabalho, o pesquisador do Instituto Emílio Ribas, Mario Pessoa.

A hepatite C é a doença que apresenta a taxa de mortalidade com maior crescimento no Brasil, média de 30,6% ao ano. Segundo a Organização Mundial e Saúde (OMS), ela afeta 170 milhões de pessoas em todo o mundo, o que a torna cinco vezes mais comum do que a infecção pelo vírus da aids.

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No Brasil, mais de 3 milhões de pessoas são portadoras da doença. O grande problema é que muitas delas não sabem disso nem de suas conseqüências. A hepatite C é transmitida por meio de contato direto com o sangue infectado. Ela provoca uma inflamação crônica no fígado, que, a longo prazo, pode culminar em cirrose. A doença é a principal causa de transplante de fígado no País.

O tratamento convencional, que representa a cura para 40% dos pacientes, é feito com a associação de duas drogas: o interferon convencional e a ribavirina. O Retrat dividiu os pacientes em grupos para testar dois tipos de tratamentos: o primeiro com interferon peguilado (mais potente) e ribavirina e o segundo com interferon peguilado, ribavirina e amantadina.

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O estudo mostrou que a associação da amantadina não mudou em nada o tratamento, mas que vale a pena tratar os pacientes crônicos com o interferon peguilado e a ribavirina. "A diferença é que o interferon peguilado é de longa duração. Com o interferon comum, cada vez que caía a resistência do doente, o vírus tomava conta. O peguilado atinge um nível que não permite que o vírus volte", diz Pessoa.

Os pacientes que eliminam definitivamente o vírus do organismo obtêm a resposta virológica sustentada (RVS), o que alguns médicos classificam como cura, mas não deixam de correr o risco das complicações da doença. "Normalmente, 99% dos pacientes que permanecem acima de seis meses com o vírus negativo são considerados curados", explica o pesquisador.

Os doentes estudados pelo Retrat já passaram por um ano de tratamento e seis meses de observação.