Uma pílula elaborada com remédios que tratam da hipertensão evita também recordações traumáticas em pessoas que sofreram terríveis experiências, como estupros, acidentes ou a guerra, segundo uma pesquisa apresentada na cidade americana de Baltimore.
Glenn Saxe, presidente da seção de psiquiatria infantil e de idade evolutiva no Boston Medical Center, e Roger Pitman, da Harvard Medical School, apresentaram os resultados de seus estudos. Segundo os cientistas americanos, a pílula evita em doentes potenciais os sintomas psicológicos paralisantes da síndrome de estresse pós-traumático.
De acordo com a pesquisa, alguns remédios comumente usados contra a hipertensão podem impedir que a memória traumática se insira profundamente na mente de quem viveu momentos difíceis.
Ao invés de “visitar” a vítima por anos com recordações dolorosas, a memória do trauma se transforma ? graças à “pílula antichoque” ? em recordação de episódios “normais, de ordinária administração”. Os remédios usados são a clonidina e o propranolol, que combatem a hipertensão.
Para milhões de veteranos de guerra e para vítimas de violações e agressões sexuais ? e agora também para os americanos que viveram o pesadelo dos ataques terroristas de setembro de 2001 ? o choque psicológico é com freqüência mais danoso que o episódio em si.
Segundo estimativas, a síndrome de estresse pós-traumático atinge entre 3% e 8% dos americanos com sintomas paralisantes: as vítimas têm recordações freqüentes e vivem com medo até perder a capacidade de seguir sua vida normal, ir trabalhar ou estar com a família.
A cura típica para a síndrome é de caráter psicanalítico, junto ao uso de antidepressivos como o Paxil. Ou seja, o paciente é usualmente ajudado a conviver com a memória dolorosa. Segundo Saxe, a clonidina e o propranolol oferecem também um “importante passo adiante”. A pílula antitrauma experimentada já com sucesso em alguns humanos poderia ser subministrada em rotinas de pronto-socorro, “assim como agentes anticoagulantes são subministrados a quem chega com um infarto”.
Saxe e Pitman estão convencidos de que diminuindo a reação disparada pela adrenalina de um estresse grave ? em particular suprimindo o neurotransmissor norepinefrina ? pode-se prevenir da memória vivências típicas da síndrome pós-traumática.
No homem como nos animais, a memória de um fato se reforça por certas condições de estresse ou medo: os hormônios do estresse ? com a adrenalina à frente ? melhoram a vista, provocam a dilatação das pupilas e aceleram o ritmo cardíaco.
Quanto atingem a área do cérebro chamada amígdala (o centro do medo) esses hormônios aumentam a memória, fato que explica por que depois de vários anos se pode recordar exatamente onde uma pessoa se encontrava no momento em que ocorria um fato catastrófico ou traumático.
“É um mecanismo evolutivo da memória que cataloga as recordações com base em sua importância: o mesmo que ajudava o homem pré-histórico a evitar situações de perigo”, explicou Larry Cahill, neurobiólogo da Universidade da Califórnia. Esse mecanismo, no entanto, diante de um grande choque, pode ter um “curto-circuito”, provocando a síndrome do estresse pós-traumático.