A epilepsia, doença neurológica que atinge 3,6 milhões de brasileiros, acaba de ganhar novo tratamento no País: uma cirurgia mais sofisticada e menos invasiva. Adotada há um mês pelo Hospital Estadual Brigadeiro, em São Paulo, consiste no implante de eletrodos no cérebro, que estimulam diretamente a região danificada. Dois brasileiros já passaram pela cirurgia, com sucesso.
A doença é uma das mais comuns entre as neurológicas, ultrapassando casos de mal de Alzheimer e da esquizofrenia. Caracteriza-se pela hiperatividade dos neurotransmissores, substâncias que fazem os neurônios se comunicarem. Quase nunca é congênita e pode se manifestar em qualquer idade.
Entre as causas, uma cicatriz cerebral, tumor, cisto, parto malfeito e meningite. Os sintomas podem ser convulsões, se os neurônios acelerados forem da região motora. Se forem da região visual, o epilético tem alucinações. Região auditiva, escuta vozes. "A doença é considerada grave se os sintomas aparecem mais de uma vez por semana. Mas uma vez basta para incomodar muito", conta Arthur Cukiert, neurologista que trouxe a técnica para o Brasil.
A técnica começa a ser usada nos EUA, Europa, Canadá e México. Por enquanto, somente profissionais do Hospital Brigadeiro estão capacitados, depois de dois anos de treinamento fora do País. O hospital é referência em epilepsia, mas, para conseguir o tratamento lá, é preciso passar por triagem em postos de saúde. A expectativa é que, em breve, a técnica chegue a outros hospitais.
70% de Melhora
Os eletrodos são implantados no tálamo, uma espécie de bolinha de pingue-pongue que fica no centro do cérebro, de onde saem milhões de fibras nervosas. Os médicos localizam a região exata de onde partem especificamente as fibras da região com neurônios acelerados. Lá, implantam eletrodos de 1 mm ligados a um marca-passo implantado sob a pele no peito, e mandam pulsos elétricos a cada 5 minutos. Os resultados, por enquanto, indicam que a técnica é capaz de fazer com que o paciente tenha 70% de melhora.
"No futuro, com mais experiência e uso de eletrodos inteligentes que só estimulem os neurônios quando for preciso, ela poderá substituir as outras cirurgias", analisa Cukiert.
Hoje, há três tipos de operação. A mais comum é também irreversível, que é a retirada do pedaço de massa encefálica danificado. Essa é a única operação que pode ser chamada de curativa.
Em compensação, ela é inviável quando a região cerebral atingida pela doença está num lugar delicado, como a parte motora. Ou então, quando o foco é maior que 50% da massa encefálica ou está espalhado pela cabeça.
Nesses casos, há duas opções: separar o corpo caloso, tecido cerebral onde estão as fibras nervosas, ou colocar um eletrodo na região do pescoço que liga o cérebro a outros órgãos.
Cerca de 70% dos pacientes podem ser tratados com doses diárias de remédios – há uma dezena deles no mercado, o mais conhecido e antigo é o Gardenal. O restante dos casos – cerca de 1 milhão de pessoas – só melhora com cirurgia.