Neurologia: Epilepsia longe dos preconceitos

Sócrates, Júlio César, Buda, Maomé, Alexandre o Grande, Joana D?Arc, Napoleão, Dostoievski, Van Gogh e Machado de Assis, entre outras figuras expressivas da humanidade, tinham alguma coisa em comum: apresentavam crises epilépticas. Por aí dá para se perceber que em todo o universo de pessoas acometidas pela epilepsia o convívio com esta condição é aceitável e, geralmente, seus portadores não têm maiores dificuldades no exercício de suas atividades e, conseqüentemente, buscam sempe melhor qualidade de vida. Isso, desde alguns anos, pois os portadores da doença foram, durante muito tempo, marginalizados, olhados com terror e freqüentemente vítimas de enclausuramento.

Conforme o professor, chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Clínicas da UFPR e neurocirurgião do Hospital Nossa Senhora das Graças, Marlus Moro, a doença é uma condição clínica na qual ocorre descarga elétrica anormal e excessiva de um grupo de células cerebrais ? os neurônios. Ele descreve que são múltiplas as apresentações de uma crise epiléptica. ?Isso se deve aos inúmeros tipos da doença?, esclarece. Segundo o especialista, a mais conhecida e estigmatizada é a ?generalizada?, na qual a pessoa afetada apresenta, na crise, perda absoluta da consciência e abalos musculares dos membros, secreção excessiva de saliva, mordedura da língua e dificuldade transitória de respiração.

Indicação cirúrgica

Moro ressalta que, exceto em excepcionais oportunidades, as crises são de curta duração e autolimitadas, correspondendo a cerca de 25% das epilepsias. ?Em geral, elas são facilmente controláveis, desde que adequadamente medicadas?, enfatiza. De acordo com o médico, a mais freqüente é a chamada crise parcial ou psicomotora, que se caracteriza por segundos de inconsciência, associada a movimentos desordenados de membros. Essas crises, diferentemente das generalizadas, respondem menos favoravelmente às medicações e, ocasionalmente, podem ser refratárias a qualquer tratamento anticonvulsivante.

O tratamento medicamentoso é sempre indicado, desde que tenha havido repetição de uma crise. ?Cerca de 7% da população têm uma crise convulsiva durante a vida, e em 80% desses pacientes o tratamento é efetivo e satisfatório?, observa Marlus Moro. O restante pertence a um grupo chamado de ?pacientes refratários?. Por não obter o controle medicamentoso de suas crises, essa parcela da população tem comprometido o seu bem-estar e, freqüentemente, impedidos de exercer suas atividades profissionais e sociais, normalmente.

São pacientes, ainda que bem medicados, de acordo com Moro, apresentam múltiplas crises no mês, na semana e até no mesmo dia. São, igualmente, pessoas inseguras, angustiadas e deprimidas. Investigados por meio de exames específicos, como o videoencefalograma prolongado, ressonância magnética e avaliação neuropsicológica adequada, 50% deles têm indicação cirúrgica como a forma mais eficaz de tratamento. Com esta indicação, o professor estima que se encontre perto de 15 mil pacientes paranaenses.

Programa de epilepsia completa 11 anos

Há 11 anos, iniciou-se o primeiro programa de cirurgia de epilepsia em Curitiba, no Hospital Nossa Senhora das Graças. Na seqüência, foi estendido ao Hospital de Clínicas e Hospital XV. Esses serviços são constituídos por equipes médicas multidisciplinares, nas quais se incluem neurocirurgião, neurologista, neurofisiologista, neuropsicóloga e psiquiatra. Desde o início, cerca de 400 pessoas já foram operadas por meio do programa. Os resultados foram favoráveis em 95% dos pacientes (80% sem crises e 15% com melhora significativa), igualando-se aos resultados estatísticos dos melhores serviços americanos e europeus que ofertam serviço similar. Considerando que a doença afeta indiretamente a família e o círculo social do doente, verifica-se que o número de pessoas envolvidas com a epilepsia é considerável. Curiosamente, a incidência da doença é praticamente duas vezes maior nos países em vias de desenvolvimento do que nos países desenvolvidos.

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