A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que dois milhões de pessoas estão contaminadas com a cisticercose na América do Sul. A doença é causada pelos cistos da taenia solium (tênia da carne de porco, popularmente conhecida por solitária) e pode se alojar em várias partes do nosso organismo, entre elas, o cérebro e o sistema nervoso central, causando assim a neurocisticercose. A doença pode até matar, mas é possível curá-la se tratada a tempo.
?Quando o cisticerco se aloja no cérebro, os sintomas são causados pela degeneração do cisticerco que causa uma inflamação no cérebro humano. Essa inflamação obstrui o fluxo do líquido cérebro-espinhal e pode causar problemas como epilepsia, hidrocefalia e até alterações no comportamento?, ressalta o neurologista do Instituto de Neurologia do Hospital Ecoville Dr. Pedro Kowacs. Fraqueza de um lado do corpo, dores de cabeça, convulsões e visão dupla são alguns dos sintomas da doença.
Ao contrário do que se pensa, o homem é o único hospedeiro do parasita e a taenia vive apenas no intestino humano. ?Cada segmento maduro da taenia tem de dois mil a três mil cistos microscópicos. Uma vez eliminados estes micro-cistos podem permanecer viáveis na natureza por até 150 dias?, aponta o neurologista.
Esses cistos, se eliminados a céu aberto – por conta da falta de saneamento básico – acabam espalhados pela chuva. ?A larva chega às localidades rurais, que geralmente têm criações de porco. Como o animal fuça o chão, pode ingerir os cistos, que entram em sua circulação e depositam-se em sua carne. Se o homem ingere essa carne contaminada mal-cozida ou mal-frita, os cisticercos se transformam em larvas adultas no intestino do homem?, esclarece Dr. Pedro.
A neurocisticercose pode ser diagnosticada por tomografia, ressonância magnética ou exame do líquido cérebro-espinhal. O tratamento, segundo o Dr. Pedro Kowacs, depende de onde o cisto está alojado. ?Cistos dentro do cérebro e em pequena quantidade podem ser tratados com vermífugo específico em altas doses. Já os cistos extra-cerebrais, que ficam nos espaços com líquido do sistema nervoso, podem determinar inflamação das meninges, e devem ser tratados com drogas que evitem este processo?.
Neuroendoscopia
Dependendo do diagnóstico do paciente ou em caso de hidrocefalia o mais indicado é a cirurgia para a remoção desse cisticerco, a chamada neuroendoscopia, que é realizada pelo Instituto de Neurologia do Hospital Ecoville. Com aparelhos de alta tecnologia, a cirurgia ?aspira? o parasita do cérebro. ?É feita uma incisão no escalpo e uma perfuração mínima no crânio, através da qual é introduzida pelo neurocirurgião uma pequena sonda, que retira o cisticerco?, explica o neurologista.
Para combater a cisticercose, é necessário, segundo Dr. Pedro, medidas sanitárias rigorosas. ?Políticas de saneamento básico são essenciais. Para que se tenha uma idéia, esta doença foi extinta da Europa ocidental há mais de 50 anos, e ainda existe no Brasil?, critica.
A prevenção da doença, comenta o neurologista, é feita com atitudes simples como lavar bem os alimentos em água corrente e ingerir carnes bem-cozidas ou fritas em alta temperatura. ?Ao saber que uma pessoa tem teníase ela deve ser encaminhada para tratamento imediato e a vigilância sanitária precisa ser notificada?, frisa.