Tratamento de doenças mentais exige cautela e diagnóstico preciso.

Quem nunca ouviu falar que um parente idoso não se lembra do que acabou de fazer cinco minutos antes ou se perde no corredor que o leva ao quarto? Esse comportamento pode ser resultado de alterações no campo cognitivo que afetam a realização das atividades rotineiras. Não existe um teste clínico específico que permita a detecção de um diagnóstico correto de demência. Esta avaliação é feita por meio de uma boa conversa com o médico especialista que, baseado em dados clínicos e laboratoriais, exclui a suspeita de outras doenças relacionadas com os sintomas apresentados. O grande desafio da medicina neurológica é o subdiagnóstico, ou seja, quando o paciente começa a apresentar, por exemplo, alguns dos sinais de Alzheimer, como: perda de memória para fatos recentes, dificuldade na execução das atividades domésticas e manuais, desorientação, dificuldade em fazer contas, em geral.

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Com efeito, a maioria das pessoas encara esses distúrbios de comportamento como ?coisas? normais da idade e custam a entender que devem levar o paciente ao médico com a máxima urgência. Com o passar do tempo, quando os familiares percebem que os distúrbios de comportamento se tornaram mais sérios, pode ser tarde demais, e a doença já estar em uma fase considerada grave. Por essa razão é muito importante conscientizar a população de que aos primeiros sinais dos distúrbios comportamentais na ?velhice?, os pacientes devem ser submetidos a uma consulta com especialista e, se for o caso, iniciar o tratamento rapidamente.

Alzheimer

O mal de Alzheimer é uma doença degenerativa que afeta o cérebro e ainda não tem cura. Ela causa comprometimento da memória, do raciocínio e do comportamento, atingindo aproximadamente 15 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, estima-se que afete de 600 mil a 1 milhão de pessoas. Em geral, o declínio das funções intelectuais ocorre num período de dois a dez anos, culminando com a total dependência e, até mesmo, a morte. A boa notícia é que a ciência começa a encontrar alternativas para adiar o processo de degeneração dos neurônios, característica da doença, proporcionando melhor qualidade de vida aos pacientes e aos familiares.

Conforme o neurologista Paulo Caramelli, o tratamento dos sintomas comportamentais em pacientes com algum tipo de demência deve obedecer a uma seqüência de atitudes por parte do médico. Inicialmente devem ser investigadas possíveis causas, além da própria doença neurológica. Ele cita, por exemplo, as infecções em geral ou mudanças no ambiente em que o paciente vive. ?Essas são causas reconhecidas de piora comportamental em pacientes com demência?, observa. Nesses casos, completa o médico, a identificação e intervenção imediata, muitas vezes não farmacológica, podem solucionar o problema.

Primeira opção

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Nos casos em que não há nenhum fator desencadeante além da própria doença, o tratamento medicamentoso está indicado. ?Sabemos que as medicações de ação colinérgica, que são aprovadas para o tratamento dos sintomas da doença de Alzheimer leve a moderada, também são eficazes para os sintomas comportamentais, como apatia, alucinações, delírios, agitação?, ressalta Caramelli, salientando que há consenso hoje de que essas medicações sejam a primeira opção terapêutica nesses casos.

Nos pacientes que não exibem melhora dos sintomas comportamentais ou ainda naqueles em que a melhora é parcial, os antipsicóticos são comumente prescritos, e preferência é dada usualmente para os atípicos, pelo fato de apresentarem menos efeitos colaterais. Entretanto, após recentes constatações feitas pelo FDA, o uso desses medicamentos em pacientes idosos com demência deve ser revisto.

Mudanças ambientais

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O especialista explica que há muitos pacientes com demência, especialmente doença de Alzheimer, que fazem uso desses medicamentos para controle de sintomas comportamentais, cuja introdução traz claro benefício. Naqueles pacientes em que os sintomas comportamentais persistem, o desafio para os médicos continua. ?Nesses casos, temos que atuar de maneira cautelosa, buscando identificar as melhores alternativas de tratamento?, reconhece Paulo Caramelli. Os chamados antipsicóticos clássicos ou típicos, de acordo com o médico, poderão ser empregados, sempre com extremo cuidado nas doses prescritas e com acompanhamento freqüente. ?Algumas medicações antidepressivas têm efeitos sobre determinados sintomas comportamentais das demências e podem ser empregadas em casos selecionados?, frisa.

O neurologista faz questão de salientar que mudanças no ambiente ou interferências com as quais ele não está acostumado podem se tornar causa de descontrole. A identificação dessas possíveis causas de piora comportamental depende de uma entrevista detalhada por parte do médico, que em seguida poderá fornecer aos familiares e cuidadores orientações mais adequadas e individualizadas para aquele caso em especial.