Não se pode descuidar das bactérias e microorganismos

Se nos milésimos de segundos que levamos para piscar, pudéssemos reprogramar as nossas retinas para que enviassem ao cérebro imagens microscópicas da realidade, ao abrirmos novamente os olhos nos depararíamos com uma cena impressionante: milhões de bactérias e microorganismos por todos os lados, inclusive em nosso próprio corpo. É impossível escapar destes seres, invisíveis a olho nu, que convivem harmoniosamente com a espécie humana. No entanto, basta estarmos com a imunidade baixa para que essa harmonia seja rompida e nos tornemos vítimas de doenças e infecções ocasionadas pelos pequenos vilões.

Imagine, então, se adentrássemos em um ambiente hospitalar com a mesma visão microscópica, veríamos uma concentração ainda maior desses microorganismos, devido ao agrupamento de pessoas com a saúde fragilizada que frequentam esses locais. É, basicamente, por esse motivo, que as infecções hospitalares são tão comuns e tão preocupantes. Isso em qualquer hospital do mundo.

“Não existe nenhum hospital do planeta desprovido de infecção hospitalar”, afirma o presidente da Comissão de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Cruz, em Curitiba, Nelson Szpeiter. Segundo o infectologista, dois terços das infecções hospitalares são de origem endógena, isso é, derivam das bactérias que são encontradas em nosso próprio corpo, pele, mucosas e tubo digestivo, entre outros órgãos. “Quando estamos com a saúde debilitada, elas passam do estado de colonização para o de produzir infecções”, explica o médico. A declaração derruba, portanto, a ideia de que a infecção hospitalar é derivada do descuido e negligência das instituições, ainda que essa possibilidade continue existindo, porém em menor proporção.

Resistência bacteriana

De acordo com o especialista, a contaminação por bactérias presentes normalmente no meio ambiente, nas mãos das pessoas (inclusive do próprio paciente) que não seguem os hábitos de lavar as mãos com água e sabão e do descumprimento de recomendações médicas, é responsável pelos demais tipos de infecção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) admite o limite tolerável nos índices de infecção hospitalar em até 5,7% ao mês. “Quando ultrapassam esse percentual é porque algum fato anormal está ocorrendo no hospital, o que pode causar surtos e permanência de bactérias multirresistentes ao uso de anti-microbianos”, alerta Szpeiter.

A Anvisa tornou obrigatória a criação de uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) em todos os hospitais do país. Segundo as diretrizes, estas comissões devem supervisionar normas e rotinas técnico-operacionais para a prevenção e controle das infecções. “Realizamos esse controle por meio de metodologia científica, estatísticas e visitas diárias aos pacientes que apresentam sinais de infecção, além de orientação aos médicos, funcionários e visitantes”, assegura Szpeiter. Com efeito, é necessário um trabalho atento para colocar em prática ações, como lavagem das mãos, esterilização correta de materiais, adoção de medidas de precaução, isolamento de pacientes e, em casos extremos, fechamento de enfermarias, UTI’s e outros setores que apresentem níveis de infecção além dos limites esperados.

Conscientização

Os antibióticos utilizados diariamente em hospitais conseguem matar as bactérias mais sensíveis, deixando as resistentes livres para se multiplicarem. Quando estas produzem uma infecção, é necessário utilizar antibióticos ainda mais potentes, que selecionam, novamente, as bactérias mais sensíveis, dando continuidade a um ciclo vicioso. A preocupação dos infectologista,s é fazer o uso racional e responsável dos antibióticos, a fim de romper este ciclo. De acordo com Nelson Szpeiter, a prevenção às infecções hospitalares deve acontecer em maior densidade nas UTI’s – de adultos, pediátricas ou neonatais – e nos serviços de oncologia e transplante, locais onde as condições de saúde dos pacientes estão mais debilitadas e os métodos terapêuticos são mais invasivos.

Mesmo com o controle rigoroso, qualquer hospital está sujeito à ocorrência de surtos, no entanto, é importante que as pessoas se conscientizem e sigam corretamente as regras estabelecidas pela instituição. “Hospitais não são hotéis e, sim, ambientes que precisam da mais absoluta assepsia, já que o organismo de cada paciente reage de maneira diferente ao contato com outras bactérias”, alerta o infectologista. Esta é a razão para que se mantenha continuamente em estado de limpeza, descontaminação e em constante aperfeiçoamento de suas estruturas. O objetivo é minimizar qualquer ocorrência adversa à saúde das pessoas que lá se tratam, trabalham ou apenas visitam aqueles ambientes.

Controle severo

No Hospital Santa Cruz, os índices globais de infecção hospitalar estão sob controle rigoroso, mantendo a média anual de 1,37%, muito abaixo da recomendada pela OMS. Os números são amplamente divulgados nos setores de internação do hospital, além dos comunicados mensais, de acordo com as exigências das secretarias Municipal e Estadual de Saúde.

A busca pela excelência em serviços do hospital, incluindo o controle severo de infecção hospitalar, garantiu à instituição os certificados, níveis 1 e 2, da Organização Nacional de Acreditação (ONA). Este órgão estabelece requisitos a serem cumpridos para garantir a saúde e segurança plena dos pacientes. A meta atual do hospital é atingir o nível 3, (o mais alto deles), até o final de 2010, mantendo-se como referência no atendimento privado em Curitiba.

Além dessa certificação, o Santa Cruz é um dos únicos do Paraná a atender as metas mundiais de qualidade e deverá conquistar, até 2011, a certificação internacional Joint Comission, posicionando-se como o primeiro hospital paranaense a receber esse título de excelência e qualidade em atendimento.

Algumas verdades sobre infecção hospitalar

* O risco existe, mas não pode ser generalizado.
* A infecção hospitalar é geralmente provocada pela própria flora bacteriana do paciente, cujo mecanismo de defesa contra infecções esta debilitado.
* Diminuir os casos de infecção hospitalar depende de uma série de fatores, entre elas, a atitude do médico, as condições do hospital, a qualidade do material utilizado e o organismo do paciente.
* O hábito de lavar as mãos é um procedimento fundamental de higiene, mas como medida isolada não combate a infecção hospitalar.
* Alguns antibióticos são eficazes, mas o sucesso do tratamento depende do estado geral do paciente e de seu grau de resistência bacteriana.
* A infecção hospitalar pode ser mais bem controlada, mas não eliminada por completo, uma vez que as bactérias também existem fora do ambiente hospitalar.

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