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A dor de cabeça é o alarme que toca quando algo está errado no organismo |
Quando o comerciante Alberto Vidal começa a sentir um formigamento na testa, já sabe: é um sinal de que uma dor de cabeça insuportável vem visitá-lo novamente. Isso se repete há muitos anos. Dez minutos depois de começar, a dor se torna insuportável. Vidal chegou a ter oito crises no mesmo dia e perdeu a conta do número de vezes que esteve internado para tomar corticóides. Ele é portador de um tipo raro de cefaléia, mas cujos sintomas eram os mesmos de uma cefaléia comum.
Casos extremos como o do comerciante são, felizmente, exceções entre os 90% da população que padecem de algum dos mais de cem tipos de dores de cabeça classificados pela medicina. Entre eles estão a incômoda e crônica enxaqueca, a dor de cabeça tensional e também os tipos associados às manifestações dolorosas nos músculos da cabeça e do pescoço, às doenças vasculares e ao uso ou retirada de determinadas substâncias. Há, ainda, as cefaléias que apontam para a existência de enfermidades físicas graves, mas essas também são minoria. ?A dor de cabeça é o alarme que toca quando algo está errado no organismo e tem a finalidade de fazer com que essa falha seja percebida, entendida e tratada. O resultado é a eliminação da dor ou, se isso não for possível, o seu controle?, explica Pedro André Kowacs, neurologista do Hospital Ecoville.
Diagnóstico complexo
Os tipos de dores de cabeça mais simples de interpretar, tratar e resolver são aqueles cuja causa é aparente, como nos casos das cefaléias determinadas pelo estresse emocional (dor tensional) ou por um acidente que afete a musculatura do pescoço. Para essas, um tratamento que contemple apoio psicológico e medicação ocasional consegue resolver.
Com a enxaqueca, a identificação dos fatores desencadeantes da dor é mais complexa. Nesse caso a cefaléia ? que tende a diminuir nas primeiras 24 horas, mas pode se estender por até três dias ? é apenas um dos sinais da doença. Alterações visuais, aversão à luz e à comida, vômitos e letargia também são outros sintomas freqüentes que ajudam a compor o quadro.
Muitas pessoas levam meses até se render à evidência de que deveriam procurar ajuda especializada para tratar de enxaqueca crônica. Além de tomar os remédios prescritos por um médico para o tratamento agudo (somente nas crises) e preventivo (entre as crises, para induzir o controle da doença) é necessário observar se essas crises estão associadas a algum fator determinante, como determinada alimentação, ingestão de bebidas ou aromas.
Faltas ao trabalho
Dormir por muito tempo, passar por emoções fortes e experimentar alterações hormonais e ambientais (como viagens ou mudanças bruscas de temperatura) também podem contribuir para a incidência da doença. A identificação dos fatores deve ser acompanhada pelo médico a fim de que o paciente não seja prejudicado pela mudança dos hábitos alimentares ou sociais.
Pedro Kowacs observa que as dores de cabeça podem atormentar desde crianças até pessoas maduras. Na infância, a doença acomete igualmente os dois sexos. Na idade adulta, devido aos fatores hormonais, as mulheres estão mais propensas ao distúrbio. Elas são responsáveis por uma média de 7 dias anuais de inatividade, se transformando na maior causa mundial de faltas e improdutividade no trabalho e na escola. As implicações do problema são tão sérios que a indústria farmacêutica investe pesado na pesquisa de novos medicamentos que possam, se não resolver de vez, ao menos aliviar os sintomas ? em especial os da enxaqueca. De cada mil drogas novas testadas para a enxaqueca, no máximo três entram no mercado. Cada lançamento demanda recursos médios da ordem de US$ 800 milhões e gera muita expectativa entre os pacientes crônicos.
OLHO: A cefaléia em salvas é reconhecida como uma das dores mais fortes que uma pessoa pode sofrer e é caracterizada por uma dor forte em um lado da cabeça, envolvendo também a região frontal.
O alívio vem pelas agulhas
Especialistas em acupuntura dizem que a enxaqueca é um desequilíbrio no yang ascendente. O uso de suas técnicas da especialidade médica visa fazer subir o yang, que é o elemento ligado à atividade do corpo. A acupunturista Cláudia Manoel explica que o efeito é imediato e prolongado, mas o tratamento deve ser feito uma vez por semana durante pelo menos três meses. Casos de dor mais intensa podem exigir o dobro de sessões no mesmo período.
A especialista frisa que a especialidade médica não se resume à aplicação de agulhas em determinados pontos do corpo. ?Os pacientes também são orientados a adequar sua dieta, depois de observar o efeito que determinados alimentos provocam?, observa, destacando que durante as sessões o diálogo funciona como um tipo de psicoterapia que tende a levar os pacientes a rever seu estilo de vida ? e isso acaba se refletindo sobre a dor que o incomoda.