Com a correria do dia-a-dia, muitas vezes acabamos por esquecer de tomar medidas preventivas e comprometemos, com isso, a nossa saúde. Pequenos cuidados fazem grandes diferenças. ?Falar sobre saúde requer mais que apontar números, descrever doenças e seus tratamentos. Demanda estratégias de desmistificação, que priorizam a informação?, destaca o oncologista clínico Flávio José Reis. O câncer continua sendo um exemplo de doença que preocupa as autoridades em saúde do mundo.
Um exemplo de que simples ações rotineiras dão resultados vem da prevenção dessa temida doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é considerado a segunda causa de morte na maioria das nações. No Brasil é responsável por aproximadamente 15% do total de óbitos, perdendo apenas para doenças cardiovasculares e agentes externos, como acidentes de trânsito. Raros são os casos de câncer que se devem exclusivamente a hereditariedade. As principais causas estão ligadas a fatores ambientais preveníveis, como hábitos alimentares, fumo, higiene pessoal e atividade sexual. ?Logo, a redução da incidência está diretamente associada às medidas de conscientização?, enfatiza o oncologista Flávio.
Proliferação das células
No entanto, com a evolução dos tratamentos e medicamentos, o diagnóstico da doença deixou de ser uma sentença de morte. Os especialistas também confirmam que, hoje, não existe câncer cem por cento letal. Enquanto alguns tipos, como o do pâncreas, por exemplo, têm um índice de sobrevivência baixo, outros têm possibilidades mais animadoras. Uma boa parte deles, ainda, podem ser prevenidos. ?Em alguns casos, como o câncer de próstata, é possível coexistir com a doença, pois é possível controlá-la e manter certa qualidade de vida?, afirma o diretor da Clinirad e especialista em oncologia, José Carlos Gasparin Pereira.
Os médicos explicam que, embora a palavra seja uma só, o câncer não é uma doença única. São centenas de patologias diferentes, com padrões diferenciados de desenvolvimento, o que faz da moléstia uma das mais complexas de ser compreendida. Por este motivo, não há uma maneira única de tratar todos os tipos de cânceres. Alguns requerem cirurgia, outros são combatidos por radioterapia e/ou quimioterapia, outros, ainda, pela combinação de várias técnicas. Cientistas evidenciam que o câncer tem tudo a ver com mutações sutis nos genes das células que estão se reproduzindo. Algo cria nelas uma mutação genética que o sistema imunológico não conhece e contra o qual é incapaz de reagir.
?Essa anormalidade na proliferação das células acontece de forma desordenada no órgão específico que está doente?, explica o oncologista e hematologista Valdir Furtado. O médico salienta que o maior problema é quando ocorre uma metástase, isto é, as células cancerosas saem do tumor principal e começam a afetar outros órgãos. O especialista faz questão de ressaltar que o diagnóstico do tumor nem sempre é o de câncer. ?Tumores benignos raramente colocam em risco a vida da pessoa e podem até ser removidos totalmente por meio de cirurgia?, esclarece.
De olho nos fatores de risco
A importância da humanização no atendimento e o combate ao desconhecimento por parte da população sempre são lembrados no Dia Internacional de Combate ao Câncer (8 de abril). O atendimento humanizado é considerado como fundamental para se buscar uma abordagem mais afetiva ao tratamento. Uma recomendação do Ministério da Saúde é para que os serviços oncológicos priorizem os aspectos sociais para reduzir o sofrimento, os desgastes de toda ordem e o medo impostos pelo tratamento ao paciente. Uma preocupação dos profissionais de saúde é com o desconhecimento alarmante sobre o câncer, que impede a possibilidade de redução da doença por meio da prevenção. Estatísticas apontam que pelo menos a metade dos casos de câncer poderia ser prevenida, se as pessoas se conscientizassem sobre os principais fatores que propiciam o aparecimento da doença.
Portanto, seguir pequenas regrinhas como não fumar, diminuir o consumo de álcool, ficar de olho na balança, praticar atividades físicas, e ter uma dieta balanceada rica em fibras, frutas e vegetais não custam nada e são ótimos métodos de prevenção.
Mais chances na detecção precoce
CÂNCER DE OVÁRIO
O tumor considerado o mais fatal para as mulheres já pode ser detectado mais cedo. Os médicos reconheceram alguns prenúncios característicos da doença emitidos pelo corpo, que muitas vezes são ignorados por pacientes e médicos, como distensão ou inchaço abdominal, desconforto e dor pélvica ou abdominal, alterações urinárias e digestivas.
CÂNCER DE PRÓSTATA
Apesar de ser a neoplasia que mais atinge os homens com idade igual ou superior a 50 anos, o câncer de próstata quando diagnosticado precocemente, e tratado nessa fase, proporciona ao paciente uma alta chance de cura. A idade, assim como em outros cânceres, é um fator de risco importante. Cerca de 95% dos homens com idade superior a 80 anos, quando avaliados, apresentam algum tipo de alteração. Histórico familiar também pode aumentar a predisposição, assim como hábitos alimentares e estilo de vida.
CÂNCER DE PULMÃO
A combinação alcatrão + monóxido de carbono + nicotina é responsável por 90% dos casos de câncer no pulmão, e 30% de outros tipos, como boca, faringe, pâncreas, rim e colo de útero. Os números não podem ser ignorados: o fumo é responsável por cerca de cinco milhões de mortes anuais em todo planeta em pessoas em idade produtiva. No Brasil, conforme estimativas do Instituto Nacional do Câncer, são 200 mil.
Temido pelas mulheres – por colocar em risco a vida, alterar a identidade corporal e impactar a sexualidade – o câncer de mama atingirá 49.400 pacientes em 2008, de acordo com o Inca. Evitar a doença ainda é impossível. “Embora adotemos a terminologia ‘exame preventivo do câncer de mama’, o que fazemos é detecção precoce”, explica o oncologista João Nunes. Isso já é importante, pois a patologia tem acima de 90% de chance de cura quando detectada em estágio inicial.
