Mulher moderna corre perigo com doenças cardiovasculares

A vida das mulheres é marcada pela superação diária, em todos os aspectos. Exemplos de superação como esposa, mãe e profissional não faltam, na ‘luta’ para estar sempre à frente do seu tempo.

Tanto que o sucesso delas, hoje cada vez mais modernas e em pé de igualdade com os homens, está claro. Porém, muitas vezes isso faz com que as “mulheres-maravilha” releguem a atenção à saúde para o segundo plano, o que é uma ameaça em potencial.

A cardiologista Tânia Martinez alerta para o perigo da falta de atenção das mulheres à saúde, especialmente para o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas.

As mulheres enfrentam um turno triplo, como mães, executivas e donas de casa. “Isso gera um estresse que, se não controlado, poderá desencadear doença arterial coronariana (DAC)”, comenta a especialista.

Lara Carreira, cardiologista do Hospital Costantini observa que está comprovado cientificamente que a doença coronariana ocorre duas a três vezes mais em mulheres após a menopausa do que naquelas na pré-menopausa.

“Possivelmente devido à proteção hormonal do estrógeno”, diz, completando que as manifestações clínicas, muitas vezes atípicas, aparecem em média 10 a 15 anos mais tardiamente do que nos homens.

Risco maior

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Climatério (Sobrac), as doenças cardiovasculares ocupam no Brasil o primeiro lugar entre as causas de mortalidade desde a década de 1960, tanto para homens quanto para mulheres.

O colesterol elevado é um dos principais fatores responsáveis pelo seu desenvolvimento. Além disso, ainda de acordo com a SBC, 42% das mulheres brasileiras apresentam colesterol acima de 200 mg/dl (nível considerado normal), contra 38% dos homens.

Outros fatores complicadores, que somados ao colesterol elevado só potencializam o risco de aparecimento da DAC são o aumento do tabagismo e da ingestão de bebidas alcoólicas pelas mulheres, além do consumo exagerado de alimentos ricos em gorduras, do sobrepeso e da obesidade. “Com essas práticas a mulher passou a apresentar risco ainda mais alto para desenvolver doença arterial coronariana”, reconhece Tânia Martinez.

Sem mágicas

Mas as mulheres têm um aliado, o hormônio estrogênio. Sua ação protege as artérias coronárias (vasos que levam o sangue para o coração). Porém só essa proteção não basta, porque o processo de aterosclerose – doença que leva à obstrução das artérias e é determinante dos principais fatores de risco cardiovascular – já pode ocorrer em mulheres a partir dos 20 anos de idade.

A cardiologista explica que não há mágica. A disciplina e a adoção de hábitos saudáveis são o caminho para se evitar doenças cardíacas. A atenção à alimentação (rica em frutas e verduras e pobre em gorduras), ao sono (dormir no mínimo seis horas por noite) e a prática regular de atividade física moderada (pelo menos 30 minutos de três a seis dias por semana) reduz o risco de infarto em mais de 50%, pois contribui para diminuir o LDL c (colesterol ruim), também aumentando o HDL (colesterol bom).

Outra preocupação é que durante a gestação o sistema cardiovascular é sobrecarregado, podendo, conforme Lara Carreira, desmascarar uma cardiopatia previamente assintomática na futura mamãe.

Muitas mulheres engravidam sem saber que têm doença cardíaca, e todo sintoma suspeito deve ser investigado, para que se possa fazer o diagnóstico e iniciar o acompanhamento e tratamento durante a gravidez e o parto.

“Alguns sintomas pró,prios da gestação podem ser confundidos com sintomas de doenças cardíacas, como inchaço, falta de ar, palpitações”, alerta a cardiologista. Mas com o acompanhamento de um obstetra no pré-natal, as gestantes não precisam se preocupar. Qualquer suspeita será devidamente encaminhada para o acompanhamento conjunto com um cardiologista.

As atribuições femininas no cotidiano são muitas, porém a atenção à saúde e em especial aos níveis de colesterol não devem ser desprezadas.

Bandido e mocinho

Descoberto pelo químico francês Michel Eugene Chevreul, em 1815, o colesterol pode ser considerado mocinho e bandido ao mesmo tempo. Isso porque ele é um tipo de gordura necessária na composição do organismo. Ele é produzido especialmente no fígado e é matéria-prima para a fabricação de ácidos biliares, hormônios e vitamina D.

Sua faceta “bandida” é conhecida por mau colesterol, o LDL c (lipoproteína de baixa densidade, em inglês), porque em excesso, essa substância obstrui as artérias. 

Já o lado “mocinho”, do bom colesterol, é o HDL c (lipoproteína de alta densidade, em inglês). É a HDL que remove o colesterol da corrente sanguínea e o transporta para o fígado, órgão em que é eliminado ou reaproveitado. Sendo assim, quanto maior o nível do HDL c, mais se evita a obstrução arterial.

Crença desmistificada

Uma pesquisa sobre os hábitos e comportamentos das brasileiras com relação à saúde e consumo, feita pelo Ibope Mídia, revelou que 59% das mulheres procuram o médico apenas quando sentem que estão realmente doentes, enquanto entre os homens essa taxa é de 64%.

A pesquisa foi feita em diversas capitais, entre elas, Curitiba. De acordo com o levantamento, 47% das mulheres só utilizam serviços públicos de saúde e 49% admitem usar preservativo em novos relacionamentos, enquanto o percentual entre os homens é de 55%.

O fato de a mulher não ir ao médico com frequência e ter diminuído o uso do preservativo em relacionamentos novos é um dado que chama atenção e preocupa. Esse número vem caindo a cada ano.

“Em 2002, 71% das mulheres usavam preservativo quando tinham um novo relacionamento, atualmente o índice caiu para 49%”, alerta a diretora-comercial do Ibope, Dora Câmara. Além disso, a medicina está sendo usada não como prevenção, mas só no momento em que isso é necessário e isso não é nada bom.

A diminuição no número de mulheres que procuram o médico com frequência pode ser atribuída à falta de tempo devido ao acúmulo de tarefas tanto em casa quanto no trabalho.

A pesquisa também mostrou que 80% das mulheres ouvidas estão preocupadas com a sua forma física e 79% delas disseram que pagariam qualquer preço para manter a saúde em forma.

Porém, 53% disseram que não se cuidam como deveriam devido à vida agitada, 35% que não têm tempo para preparar refeições saudáveis, mas 56% afirmaram que procuram se cuidar por meio de uma dieta balanceada. Apenas 34% admitiram que praticam esportes ou exercícios pelo menos uma vez por semana.

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