O nome é estranho, os sintomas são desagradáveis e as causas ainda são um mistério, mas se a mulher que sofre da síndrome dos ovários policísticos (SOP) procurar ajuda o médico pode lhe dar uma luz de como tratar a doença. Foi o que fez a bibliotecária F. S. S., de 26 anos de idade. Depois de sete meses tentando engravidar sem sucesso, ela consultou o ginecologista, que diagnosticou o distúrbio. ?Achei que menstruação irregular e ganho de peso eram coisas normais, ainda bem que estou em tratamento e logo vou engravidar?, comemora, citando alguns sintomas da doença.
Esses sintomas eram de uma doença pouco conhecida que tem afetado seriamente a vida de mulheres em idade fértil, principalmente jovens e adolescentes. Considerada no meio científico a patologia endocrinológica mais expressiva em mulheres em idade reprodutiva, a SOP recebe esse nome porque os primeiros estudos mostraram que, entre outros aspectos, as pacientes apresentam diversos cistos nos ovários.
Flagrada no exame antidoping, a nadadora brasileira Rebeca Gusmão comentou que sofre da síndrome, ?que provoca desequilíbrio hormonal?. Daí o aumento nos níveis de testosterona alegado por ela em sua defesa. Joji Ueno, especialista em reprodução humana, esclarece que a mulher que apresenta ovários policísticos produz mesmo uma quantidade maior de hormônios masculinos, os andrógenos. Só que, além de aumentar o desempenho esportivo, esse acréscimo pode afetar sua fertilidade. ?A testosterona produzida pela mulher interfere nesse mecanismo e, ao mesmo tempo, aumenta a possibilidade da incidência de cistos, porque eles resultam de um defeito na ação dos hormônios do ovário, impedindo a ovulação?, explica o médico.
Predisposição
O ginecologista Hélcio Bertolozzi Soares, explica que, a cada mês, o organismo da mulher seleciona alguns óvulos, mas apenas um deles se desenvolve, enquanto os outros regridem, podendo se transformar em microcistos.
O problema começa quando esses microcistos provocam um espessamento do revestimento do ovário. Com isso, há uma dificuldade na liberação dos óvulos, que provoca distúrbios hormonais e menstruais. ?Geralmente, a síndrome aparece durante a época reprodutiva, sendo mais freqüente em mulheres com mais de trinta anos e deve ser tratada à base de medicamentos para induzir a ovulação?, recomenda. De acordo com Joji Ueno, a mulher que apresenta a síndrome chega a menstruar a cada dois ou três meses e, freqüentemente, tendo poucos episódios de menstruação por ano.
A causa da doença ainda é desconhecida, mas pode haver uma predisposição genética associada ao estilo de vida. Sob esse aspecto, conta a idade da primeira gestação, o número de filhos, o uso de contraceptivos. Situações que podem aumentar ou diminuir a chance de a mulher sofrer do distúrbio. Outros sintomas da SOP é o aumento de pêlos no corpo e surgimento de estrias. Algumas pacientes apresentam acne, queda de cabelo e, às vezes, calvície. Os médicos admitem que sofrer da síndrome é uma situação mais comum do que as mulheres imaginam. O problema é que a maioria associa a questão a uma das causas da infertilidade. Um engano, já que a incidência da doença não necessariamente impede a gravidez.
Pílula anticoncepcional
Segundo Joji Ueno, até os 23 anos de idade, as mulheres com a síndrome podem ovular esporadicamente. Sabe-se que nem todas as menstruações que ocorrem espaçadamente são ovulatórias, mas algumas são, e a mulher consegue engravidar. Depois, não conseguiram mais engravidar. ?Essa é uma das patologias mais simples de serem tratadas porque as mulheres, em geral, respondem ao indutor da ovulação mais corriqueiro que existe, o clomifeno?, garante o médico. O medicamento é administrado por via oral e é capaz de corrigir as anomalias endócrinas e provocar ovulação. Grande parte das mulheres responde bem ao tratamento e engravida.
Infelizmente, algumas não conseguem porque as condições locais não estão perfeitas e é necessário adotar outra tática. ?Atualmente, a técnica mais usada é a cauterização laparoscópica?, diz Ueno. Nela, por meio de três pequenas incisões na parede abdominal, os cistos são cauterizados. Com isso, as pacientes começam a menstruar, ovular e ficam grávidas. ?Muitas chegam a menstruar regularmente até a menopausa?, completa o especialista.
O tratamento depende da fase de vida da mulher. O que é mais importante em determinado momento e qual o sintoma que mais a incomoda. ?Como se trata de uma doença crônica, não há cura, e sim, tratamento dos sintomas?, salienta Ueno. Uma adolescente obesa, com pêlos, acne e perturbações menstruais, precisa primeiro tentar emagrecer. Se ela não for obesa, torna-se necessário diminuir a produção dos hormônios masculinos e uma das maneiras mais simples de fazê-lo é por meio da pílula anticoncepcional, que regulariza os ciclos menstruais.
Principais sintomas
A síndrome dos ovários policísticos é caracterizada por uma série de anormalidade, entre as quais:
* Menstruação irregular;
* Acne;
* Obesidade;
* Desequilíbrio hormonal;
* Crescimento de pêlos; corporais e faciais.