Tradicionalmente, as doenças cardiovasculares eram preocupações predominantes no sexo masculino, pois, acreditava-se que o risco das mulheres sofrer tais distúrbios era menor. No entanto, para elas, a notícia não é animadora, pois essa diferença está diminuindo com o passar dos anos. O número de casos de mulheres vítimas de infarto está crescendo. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), no Brasil. Para complicar, depois da menopausa a incidência de infartos entre as mulheres ainda é maior.
De acordo com as pesquisas, em média, até os 50 anos de idade, são cerca de cinco casos de infarto em homens para cada mulher enfartada. Depois dessa idade, para cada mulher são registrados apenas dois casos de infarto para o sexo masculino. De acordo com a SBC, estudos realizados nos últimos 20 anos apontaram que a mulher que pára de fumar reduz em 13% o risco de doenças cardiovasculares. Aquelas que fazem dieta e controlam o colesterol diminuem ainda mais esse risco, em torno de 16%. ?Está comprovado cientificamente que a probabilidade dessas doenças ocorrerem nas mulheres só se iguala à dos homens após a menopausa, devido aos distúrbios hormonais desencadeados após esta fase?, afirma a cardiologista Maria do Rocio Peixoto de Oliveira, do Hospital Cardiológico Costantini.
Sem dores
Para o cardiologista Cesar Miguel Serra, diretor do Instituto Modelo de Cardiologia de Córdoba, na Argentina, que participou de um simpósio em Curitiba, nas mulheres as coronárias são menores, sofrem alteração de relaxamento (diástole) e, frequentemente, mais falta de ar. De acordo com o especialista, nas mulheres a doença cardíaca é mais ?silenciosa?, isso se reflete nas estatísticas que apontam que elas têm dor típica do infarto agudo do miocárdio menos freqüente que o homem. ?Enquanto que 95% deles sentem dores, apenas 68% delas relatam tais distúrbios?, informa o médico.
O que mais preocupa os médicos é que, quando o assunto é a saúde do coração, as mulheres são mais desatentas. Grande parte delas desconhece sua taxa de colesterol e não faz a menor idéia de que está correndo risco de sofrer um ataque cardíaco. ?As recomendações que assustam os homens parece que, entre as mulheres, não estão encontrando eco?, constata o cardiologista Marcos Bubna. Com efeito, as mulheres buscam mais auxílio médico do que os homens, mas os especialistas mais procurados são os ginecologistas e os dermatologistas.
Mais que o câncer
Bubna atesta que as mulheres em geral têm menos lesão no músculo cardíaco, porém por serem menores, são lesões que necessitam de uma angioplastia mais complexa. ?Também é fato comprovado que elas têm um fluxo mais lento nas coronárias?, explica. Não é para menos que as estatísticas trazem preocupação: nos Estados Unidos, o infarto agudo do miocárdio é responsável por 366 mil mortes em mulheres e mais de cem mil casos de acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Mais do que o temido câncer de mama, responsável por pouco mais do que 42 mil casos por ano.
Apesar disso, conforme Maria do Rocio Oliveira, a maior parte das mulheres se preocupa mais com o câncer de mama e de útero, depositando assim no ginecologista a maior responsabilidade pelo cuidado de sua saúde e correndo o risco de negligenciar os cuidados com o coração. A falta de prevenção se agrava quando somada ao fato das mulheres terem ganhado algumas responsabilidades que até pouco tempo eram exclusivamente masculinas. De acordo com a cardiologista, fatores como competição no mercado de trabalho, estresse, alimentação inadequada, falta de tempo para atividades físicas, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas, completam a fórmula para uma precoce complicação cardíaca na mulher.
Fugindo das complicações
Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estudaram os dados de um grupo de 86 mil mulheres por 14 anos e descobriram que houve um declínio de 31% nas doenças coronarianas entre elas. Segundo a pesquisa, a queda foi devido à adoção de dietas mais saudáveis, ao abandono do cigarro e ao uso de hormônios após a menopausa. Elas diminuíram consideravelmente o consumo de carne vermelha, gorduras e de laticínios ricos em gordura. Essas mudanças foram complementadas por um aumento no consumo de cereais ricos em fibras, ácido fólico e peixe. Ao mesmo tempo, o número de fumantes diminuiu 41% e a proporção de mulheres que recebiam suplementação hormonal pós-menopausa quase dobrou. Infelizmente, muitos dos ganhos obtidos por meio de comportamentos mais saudáveis foram contrabalançados por excesso no ganho de peso. Ainda assim, o estudo comprova que o risco de uma pessoa desenvolver doenças coronárias cai rapidamente ao se melhorar a dieta e abandonar o cigarro.
Estatística preocupante
>> 38% das mulheres morrem após um ano de sofrer o primeiro ataque cardíaco
>> 35% das sobreviventes ao primeiro ataque têm outro em seis anos
>> Mulheres têm o dobro de risco que os homens de morrer após uma cirurgia de ponte de safena
>> Um terço das mulheres apresentam sintomas cardiovasculares atípicos. Por isso, não reconhecem nem tratam os sintomas das doenças cardiovasculares. Como resultado, quando procuram o médico a condição do distúrbio é grave
Fique longe do infarto
>> Consumir sal com moderação
>> Evitar o consumo de alimentos gordurosos e ricos em colesterol
>> Abandonar o cigarro
>> Consuma álcool com moderação.
>> Fazer exercícios regularmente, sob orientação médica
>> Modificar hábitos, evitando situações de estresse
>> Fazer check-ups cardíacos anualmente
>> Portadoras de diabetes devem redobrar os cuidados