É também o habitat ideal para os milhares de fungos que se proliferam nestas condições e causam as tão temidas e incômodas micoses. Micose é o nome popular dado às várias infecções de pele e unhas causadas por fungos.
Existem cerca de 230 mil tipos de fungos, mas apenas 100 tipos deles causam infecções. Em condições favoráveis como ambientes com muita umidade e calor, os fungos se reproduzem rapidamente e podem dar origem a um processo infeccioso que, dependendo do fungo ou da região afetada, pode ser superficial ou profundo.
“Como todo agente infeccioso, os fungos adoram o calor e a umidade e no verão se sentem no paraíso. Mas se engana quem acha que micose só se pega no verão. Abafar pés e mãos pode causar o problema, que embora contagioso, não é adquirido apenas por transmissão”, explica a dermatologista da Unifesp, Meire Parada Brasil. A seguir, confira as dicas das especialistas e esclarece mitos e verdades sobre o problema.
Mito: o suco de limão não tem ação alguma sobre a micose e, se manipulado para fins que não os indicados, pode causar danos graves a sua saúde. “O limão, por ser ácido, quando exposto à altas temperaturas pode causar manchas e, em casos mais graves, provocar queimaduras”, explica Meire.
Verdade: o número de tipos de micose é proporcional ao número de fungos. Os dois tipos mais comuns são esses:
– A micose superficial mais comum é a frieira (tinea pedis), conhecida como “pé-de-atleta”, que atinge a pele entre os dedos, geralmente a dos pés. Ela pode vir acompanhada de uma infecção bacteriana e, em alguns casos, a cura pode demorar vários meses.
– A Pitiríase versicolor: conhecida vulgarmente como pano branco, é uma micose superficial causada pela levedura P. ovale.
Incluem-se neste grupo infecções fúngicas que afetam a profundidade da pele ou subcutâneas e aquelas que se instalam em órgãos internos como, por exemplo, a blastomicose e a criptococose.
“Este tipo de micose é mais raro e geralmente é adquirida pela contaminação de alguma ferida ou corte”, explica a dermatologista do Hospital Bandeirantes, Susy Rabello. “Você pode desenvolver quadros graves de doenças pulmonares, por exemplo, se não tratar este tipo de micose”, continua.
Mito: o óleo de melaleuca tem sido aplicado no tratamento de infecções por causa das suas propriedades anti-sépticas e pela sua capacidade de se misturar à secreção sebácea e penetrar na epiderme.
Porém, é importante saber que existem efeitos colaterais graves como secura da pele, prurido, sensação de queimação e pontadas, além de vermelhidão. “Eu não indico o produto. Acho que existem medicamentos confiáveis e acessíveis que são mais eficientes e não prejudicam a saúde”, alerta Meire.
Verdade: a miscose é transmissível de diversas maneiras. Por isso, recomenda-se evitar o uso comum de objetos como lixas, biquínis e peças íntimas, por exemplo. “Não se deve compartilhar objetos pessoais. Os fungos resistem no ambiente por muito tempo e, se a pessoa tiver micose e você usar algo dela, pode se contaminar”, adverte.
Formas de contágio
-Contato com animais de estimação
-Em chuveiros públicos
-Lava-pés de piscinas, praias e saunas
-Andar descalço em pisos úmidos ou públicos
-Uso de toalhas compartilhadas ou mal-lavadas
-Peças de uso comum (botas, luvas)
-Uso de roupas e calçados de outras pessoas
-Uso de alicates de cutículas, tesouras e lixas não-esterilizadas
-Usar roupas úmidas por tempo prolongado
Mito: existem vários tipos de fungos e, por isso, vários tipos de micose. A micose da pele pode ou não ser igual a da unha. Isso vai depender do fungo causador da infecção.
Se há uma diferença entre pele e unha em relação à micoses, ela está no tratamento. Tratar micoses de unha é muito mais trabalhoso e demorado do que as da pele. Isso porque, segundo a dermatologista, o tratamento das unhas depende da eliminação da unha contaminada, o que demora em média um ano para acontecer.
“É preciso retirar a parte que se descola da pele em função da infecção, limpar muito bem a área que fica debaixo da unha e esperar. É um processo demorado e difícil que requer disciplina e paciência”, explica. “A unha não dói e fica amarelada, já a pele fica avermelhada e coça bastante, o que incomoda bem mais”, explica Susy.
Verdade: como o contágio se dá por contato, é possível que uma unha infeccionada transmita o problema para as outras, tanto nos pés quanto nas mãos, embora a dos pés seja mais comum.
“As unhas ficam expostas a agentes externos e ao contato de uma com as outras. Se houver uma infecção em uma delas, certamente será transmitida as demais”, explica Meire. “A micose pode passar não só de uma unha para outra como também da unha para pele”, diz Susy.
Mito: o esmalte impermeabiliza a unha e dificulta a penetração do medicamento. O ideal é usar esmaltes antimicóticos, pois eles são os mais indicados para cuidar de micoses já que apresentam maior taxa de antifúngicos. “O esmalte comum não é indicado, porque torna o processo de cura mais demorado, já os antimicóticos são excelentes porque tratam o problema com maior eficiência. Mas seu uso deve ser feito apenas sob prescrição médica para evitar alergias ou reações adversas”, explica.
Verdade: os antifúngicos orais são metabolizados unicamente pelo fígado, podendo sobrecarregar ou agredir este órgão. “Por isso, pessoas com problemas relacionados ao funcionamento deste órgão não devem fazer uso dos antifúngicos”, alerta a dermatologista.
Mito: os podólogos são profissionais preparados para identificar este tipo de infecção e são treinados para fazer a parte de assepsia do local atingido, essencial para a recuperação, porém, não podem receitar nenhum tipo de medicamento. “Nós não podemos medicar o paciente. O que fazemos é detectar o problema e cuidar da assepsia do local. O tratamento deve ser multidisciplinar envolvendo dermatologistas e podólogos”, explica Elaine Aparecida Nunes, professora do curso de podologia do Senac (Guarulhos). “Além disso, o podólogo só auxilia no tratamento de micoses superficiais, como as de pele e unha”.
Existem métodos rápidos, eficazes e seguros para o tratamento de micose. Mas, apesar de ser um tratamento simples, exige persistência e paciência, porque é um processo demorado. Além disso, as aparências enganam muito nestes casos.
“Às vezes, o paciente interrompe o tratamento e acha que já está curado porque a região afetada parece recuperada mas, na verdade, ainda não se alcançou a cura total e o tratamento tem que começar novamente”, alerta Meire. “Portanto, o paciente só deve parar quando for uma recomendação do médico”, diz.
O tratamento pode ser por via oral ou tópico e, dependendo da gravidade do caso, pode ser necessária a combinação dos dois métodos.
Alguns procedimentos diminuem o risco de se contrair micoses:
-Sempre use calçados arejados
-Evite andar descalço em pisos úmidos
-Nunca use toalhas compartilhadas, especialmente se estiverem úmidas ou mal lavadas
-Após o banho enxugue-se bem, principalmente nas áreas de dobras, como o espaço entre os dedos dos pés e virilha
-Use sempre roupas íntimas de fibras naturais, como o algodão, pois as fibras sintéticas prejudicam a transpiração
– Evite usar roupas apertadas, que provocam atrito e prejudicam a transpiração