A incidência de hanseníase na população brasileira ainda é preocupante. Todos os anos, cerca de 50 mil pessoas são acometidas pela doença. A taxa de prevalência é de 1,7 caso a cada grupo de 10 mil habitantes. No Paraná, a taxa é de 1,4. Ontem começou, em Curitiba, um encontro macrorregional (Centro-Sul-Sudeste) promovido pelo Ministério da Saúde (MS) para avaliar o Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase. A meta é baixar os indicadores, chegando a um caso para cada 10 mil pessoas até o fim deste ano.
O Brasil é o único país da América Latina que ainda não controlou a doença. O coordenador do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância e Saúde do ministério, Expedito Luna, comenta que a sociedade perdeu a noção de que a hanseníase ainda existe. Uma das justificativas para isso seria o fato de que acomete mais a população de baixa renda. As famílias vivem em ambientes pequenos, o que facilita a transmissão do bacilo de Hansen, causador da patologia. Além disso, há dificuldade de acesso ao tratamento.
Nos últimos 10 anos, o País conseguiu estabilizar o número de doentes, mas precisa chegar a um caso para cada 10 mil pessoas para se adequar ao que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS), taxa que para o coordenador ainda é elevada. De acordo com Expedito, o Brasil ainda não melhorou seus índices devido à forma como vem tratando o problema. Até pouco tempo atrás, a doença era tratada apenas por especialistas, o que dificultava o acesso.
Outro fator que emperrava o controle da patologia era a falta de cuidados com as pessoas que convivem com os pacientes. Como o contágio ocorre quando há contato íntimo prolongado, os familiares geralmente eram as próximas pessoas a se infectarem com o bacilo.
A estratégia do ministério para reverter esse quadro mudou. Agora o tratamento está sendo descentralizado e os profissionais do Programa Saúde da Família (PSF), agentes de saúde e todas as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) fazem parte da rede de atendimento. Os profissionais estão sendo capacitados para fazer o diagnóstico e tratar os pacientes. Além disso, conseguem fazer o acompanhamento da família e de pessoas próximas.
Segundo Expedido, cerca de 70% dos casos estão concentrados em apenas 215 cidades, que estão sendo consideradas prioridade. A maioria é da região Norte do País, mas, no Paraná, três municípios fazem parte do grupo: Curitiba, Foz do Iguaçu e Londrina. A coordenadora estadual do Programa de Eliminação da Hanseníase, Nivera Noemia Stremel, fala que essas cidades foram escolhidas devido a alta taxa populacional e porque apresentam os casos onde a doença está mais avançada no Estado, facilitando a transmissão. Além disso, existem muitos pacientes com menos de 15 anos.
No Paraná, os profissionais que integram a rede de atendimento já estão sendo capacitados. O tratamento para a população é gratuito e é feito nas unidades de saúde. Até o fim do ano, o Estado espera atender a recomendação da OMS e os municípios que ainda estão com taxa elevada têm até 2010 para se adequar. O Paraná também está fazendo um recadastramento das pessoas que têm a doença e recebem auxílio do governo. O encontro termina hoje.
A doença
A hanseníase é causada pelo micróbio Mycobacterim leprae (bacilo de Hansen), que ataca a pele e os nervos. A doença tem cura. Se descoberta precocemente e tratada de modo adequado, não deixa seqüelas (deformações). Qualquer mancha clara e com perda da sensibilidade deve ser investigada, além de dores nos nervos.