Era uma tarde tranquila de sábado, Ana [nome fictício] e o marido passeavam pelo shopping enquanto aguardavam o horário da sessão de cinema. Estavam muito a vontade e se distraiam com o movimento das pessoas. Pouco antes de entrarem no cinema Ana começou a sentir certo desconforto, um medo que rapidamente foi tomando conta de si. Seu coração batia rapidamente, sentia tonturas, começou a suar, a respiração se tornou ofegante. Seu corpo tremia, tinha a sensação de que precisava sair dali correndo, estava angustiada, como se fosse morrer. Pegaram o carro e foram rapidamente até o pronto-socorro mais próximo. Chegando lá, se acalmou. Sua pressão estava boa, apenas o coração estava ainda um pouco acelerado. Foi medicada com um calmante e teve alta do pronto-socorro.
De acordo com o psiquiatra Mário Rodrigues Louzã Neto, o relato acima é típico de um ataque de pânico. Ele se caracteriza por dois aspectos, um psíquico e outro físico. Do ponto de vista psíquico surge a súbita sensação de medo, terror, angústia, ansiedade, sensação de morte iminente, sensação de perda de controle de si, sensação de estranheza em relação ao ambiente. Ao mesmo tempo várias manifestações físicas acontecem: palpitação, falta de ar, sudorese, vertigens, dor no peito, náuseas e tonturas. “Em geral o início do ataque é abrupto, pode ou não ter fatores desencadeantes (por exemplo, estresse, uso de drogas), sua duração em geral varia de minutos a horas, desaparecendo gradualmente”, explica o médico.
Agorafobia
Como no caso de Ana, é comum que os ataques se repitam com alguma frequência (desde várias vezes ao dia, até ataques esporádicos) passando a constituir aquilo que se conhece por transtorno de pânico. Os ataques podem ocorrer a qualquer hora ou local, sem aviso prévio. Isto pode deixar a pessoa insegura, podendo desenvolver um grande medo de novos “ataques”, o que é denominado agorafobia. A pessoa passa a evitar sair de casa por se sentir insegura ou a evitar os locais ou situações nos quais apresentou os ataques de pânico, como por exemplo, locais fechados, como carros, metrô, elevadores.
Dentre outras complicações do transtorno de pânico, estão a depressão e o abuso de bebidas alcoólicas. Depressão e transtorno de pânico ocorrem frequentemente juntos, sendo que uma doença prejudica a outra, criando um círculo vicioso de grande sofrimento para a pessoa. Com alguma frequência as pessoas recorrem ao álcool para “alívio” dos sintomas do pânico. “Esta substância, além de não melhorar a doença, ainda pode agravar a condição física da pessoa, levando-a a ter todos os prejuízos do uso crônico de álcool”, reconhece Louzã.
Estresse emocional
O transtorno de pânico ocorre frequentemente em famílias, o que leva a crer que haja um componente genético-hereditário na doença. Os mecanismos biológicos que levam ao ataque de pânico ainda não são bem compreendidos. Tais mecanismos biológicos estariam relacionados aos mecanismos cerebrais normais de reação a situações de medo. Os portadores de transtorno de pânico teriam uma propensão maior a desencadear as reações biológicas ao medo, mesmo numa situação ou local em que não existe motivo algum para o medo. Os ataques seriam disparados espontaneamente, mesmo sem qualquer ameaça. Tal vulnerabilidade os deixaria também mais propensos a ter ataques de pânico quando em situações de estresse emocional.
“Os sintomas do transtorno do pânico são muito intensos, acima do que poderia ser considerado, o limite de ansiedade normal, poderíamos dizer até que esta é a manifestação do grau mais alto de ansiedade”, afirma a psicóloga Adriana de Araújo, especializada no tratamento de fobias. Atualmente, com a maior divulgação dos sintomas da doença, médicos não especializados e pacientes estão mais familiarizados com os sintomas. Ainda assim, os transtornos do pânico demoram a ser diagnosticados corretamente.
Os especialistas recomendam o tratamento medicamentoso para combater as crises, visando, numa primeira fase, o restabelecimento do equilíbrio bioquímico do cérebro. Numa segunda fase, pode se recorrer a um tipo de psicoterapia específica, denominado terapia cognitiva. O objetivo, nesses casos, é ajudar o paciente a enfrentar os seus próprios limites e as adversidades com que, com certeza, vai se deparar no decurso da vida.
Tempo de duração
O curso do transtorno do pânico é imprevisível. Tanto pode durar alguns meses quanto vários anos. Como o pânico começou a ser estudado, há poucas décadas, ainda não foi possível avaliar se o distúrbio dura a vida toda. Nos estudos de mais longo seguimento, aproximadamente, 10% dos pacientes continua sintomático após esse período, ou seja, continua tendo ataques de pânico quando as medicações são suspensas.
É importante notar que o tratamento não cura o pânico, apenas suprime os sintomas e permite ao paciente ter uma vida normal, mas a suspensão do tratamento leva a uma recaída caso não tenha ocorrido uma remissão espontânea do transtorno. Mesmo bem conduzido o tratamento não há nenhuma garantia de cura, ou os sintomas remitem sozinhos ou permanece a necessidade de utilização das medicações.