O urologista e oncologista Armando Radesca Cavaller, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, chefiou a equipe que realizou com sucesso a primeira cirurgia de autotransplante renal com tumor de rim em ferradura, anomalia rara que torna a cirurgia de alta complexidade. Foi diagnosticado no paciente, David Ruivo, de 53 anos, um tumor de 10 centímetros de difícil manipulação que comprometia ambos os rins. A cirurgia, que durou 12 horas, foi realizada no Hospital Santa Lucinda, de Sorocaba.
Não se tem notícia na literatura brasileira desse tipo de procedimento e é raro registro na literatura internacional. O formato do rim, que tem a parte inferior dos pólos unidas, não impede o funcionamento do órgão, mas torna a cirurgia muito complicada. Segundo o dr. Cavaller, a decisão do autotransplante foi tomada no ato cirúrgico. “A idéia era fazer a retirada da parte tumoral no próprio paciente, mas durante a cirurgia estava ocorrendo isquemia, que é a falta de irrigação sangüínea, o que podia comprometer ainda mais o órgão”, explica o médico.
Os rins foram retirados e operados para a extração do tumor dentro de um recipiente com gelo. “Isso facilitou inclusive a limpeza e retirada dos nódulos linfáticos em torno da cava e da aorta, no corpo do paciente, evitando a recidiva do câncer”, diz Cavaller. Após a análise do patologista para se ter certeza de que não havia mais vestígios de tumor, foi reimplantado o rim remanescente ? dois terços do rim esquerdo. “Assim que a irrigação sangüínea foi restabelecida, imediatamente o rim começou a urinar, ou seja, retomou seu funcionamento”. Como o órgão é do próprio paciente, não existe risco de rejeição.
O paciente já saiu da UTI e passa bem.