Para Hirashima, a acupuntura é um método terapêutico que resiste há milhares de anos, comprovando assim sua eficácia. |
?Estamos passando por um momento importante e único em que duas medicinas (ocidental e oriental), que percorreram caminhos totalmente diferentes em sua evolução, unem-se e, dessa fusão, o maior beneficiado é o próprio paciente que agora pode dispor de um arsenal terapêutico maior para tratar da sua enfermidade.? É o argumento de Hélio Hirashima, médico acupunturista que atua em sua clínica de acupuntura em Curitiba.
O berço da acupuntura é a China. Embora não haja documentos que indiquem precisamente como foi o desenvolvimento inicial da acupuntura, evidências apontam que sua origem é muito antiga, data de aproximadamente 5.000 anos, principalmente após a descoberta de alguns vestígios encontrados em ruínas na China, como as agulhas feitas de pedra, a chamada pedra Bian, além de outros indícios
Seu histórico envolve algumas datas-chave, destacadas por Hirashima: nos 25 primeiros séculos a.C., a acupuntura já possuía suas bases. No século VI teve início seu processo de disseminação no mundo. O primeiro país a recebê-la foi a Coréia e, posteriormente, o Japão. No século XVI chegou na Europa. A França foi o primeiro país a utilizá-la. Desde a fundação da República Popular da China, acelerou-se sua propagação no mundo. Em 1975, a pedido da OMS – Organização Mundial da Saúde, foram criados os cursos de treinamento internacional, em Pequin, Shanghai e Nanjing na China. Em 1979, a OMS publicou uma lista de 43 doenças tratáveis por acupuntura. Hoje é praticada em centenas de países do mundo.
A acupuntura já não faz parte das medicinas alternativas. No Brasil, em 1995, foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como especialidade medica. Desde então ela se difunde rapidamente. O médico destaca que ?atualmente é a especialidade médica que mais atrai adeptos e faz parte do currículo de graduação de algumas faculdades de medicina do País. Atendimento gratuito nessa modalidade já é ofertado à população por alguns serviços médico-ambulatoriais, e a maioria dos planos de saúde privada faz sua cobertura?.
Outros pontos importantes são destacados na entrevista que segue.
Z – Qual é a essência do tratamento?
H – A palavra acupuntura veio do latim acus, que significa agulha, e puntura, que significa puncionar. É um método terapêutico que consiste em estimular com agulhas determinados pontos do corpo a fim de obter do organismo, como resposta, a recuperação geral da saúde, além da prevenção de muitas doenças. Os efeitos benéficos desta estimulação incluem, por exemplo: harmonização das funções endócrinas (hormonais), correção de disfunções dos órgãos internos, aumento da capacidade de defesa do organismo (imunidade), normalização das funções mentais, analgesias, entre outros.
Z – A natureza serviu de inspiração para o surgimento da acupuntura?
H – A acupuntura nasceu da observação dos fenômenos da natureza, do estudo e da compreensão dos princípios que regem a harmonia nela existente. O universo e o ser humano estão submetidos às mesmas influências. Desse modo, após observados os fenômenos que ocorrem na natureza, pôde-se, por analogia, estendê-los à fisiologia do corpo humano, pois nele se reproduzem os mesmos fenômenos naturais.
Z – Qual é a principal diferença?
H – Uma das diferenças fundamentais é a maneira com que são vistos os órgãos internos. Isto quer dizer que, além do aspecto funcional e orgânico (correspondente à fisiologia, histologia e anatomia patológica, estudados no ocidente), há o enfoque energético dos órgãos que é responsável pela integridade do corpo. Ao estar em harmonia, essa energia possibilitará que as funções mentais e dos órgãos internos além de outras estruturas do corpo tenham um bom desempenho. Além disso, há grande ênfase nos fatores causadores da doença e a prevenção da mesma. Dentre os fatores causadores do desequilíbrio da energia interna estão o meio ambiente (origem externa), a alimentação desregrada, as emoções retidas e os excessos cometidos no dia-a-dia, como o stress no trabalho entre outros.
Z – Por que seus pacientes buscam a acupuntura?
H – Na grande maioria dos casos tem-se observado que as queixas mais comuns dos pacientes que procuram este método terapêutico referem-se a doenças que não puderam ser resolvidas pela medicina tradicional, ou os pacientes procuram na acupuntura uma esperança de se verem livres de medicamentos que usam há muito tempo, como analgésicos e antiinflamatórios, no caso de portadores de dor crônica em geral; medicamentos controlados (portadores de distúrbios como depressão, ansiedade, insônia, entre outros).
No entanto, nota-se que há alguns anos cresce a busca direta do paciente pelo médico acupunturista sem ter previamente passado por um profissional praticante apenas da medicina convencional. O paciente opta, assim, pela possibilidade de resolver seu problema de saúde mediante um método terapêutico mais natural. Isto tem um efeito muito positivo, uma vez que, ao contrário do que se pensa, a acupuntura tem várias aplicações, ou seja, muitas doenças podem ser tratadas através dela.
Z – Então nem todos os problemas de saúde podem ser tratados por seu intermédio?
H – Não, assim como a medicina tradicional, a acupuntura tem suas limitações e, levando-se em conta que há uma procura direta cada vez maior por este tratamento, é de suma importância que o profissional médico que atua nesta área tenha o bom senso de encaminhar o paciente para o tratamento mais adequado, sendo através de medicamentos, acupuntura ou cirurgia. Da mesma forma, os profissionais praticantes da medicina convencional deveriam ter algumas noções básicas deste método terapêutico (pelo menos das indicações) para poder beneficiar alguns de seus pacientes, encaminhando-os para os respectivos especialistas. Devemos entender que acupuntura foi introduzida não para substituir a medicina tradicional e sim para completá-la, uma vez que ambas as medicinas têm suas vantagens e desvantagens.
Zélia Maria Bonamigo é jornalista, antropóloga pela UFPR, escritora, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná – zeliabonamigo@terra.com.br