Medicina especializada em adolescente

A adolescência é uma fase de transição que pode ser bastante problemática para alguns jovens e suas famílias, quando esses não estão bem orientados sobre as mudanças e conflitos que surgem nesse período. Para tentar minimizar esses problemas, existe uma área da medicina especializada em tratar de adolescentes: a ebiatria.

No Hospital de Clínicas (HC), em Curitiba, todas as quartas-feiras funciona o Ambulatório de Adolescentes. Além de tratamento médico especializado, os adolescentes têm acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais.

De acordo com a coordenadora do ambulatório, Marizilda Martins, pouca gente conhece a denominação ebiatra, mas o médico especialista em adolescentes é coisa antiga, que surgiu no início da década de 80. "O médico do adolescente tem que estar preparado não só para tratar problemas clínicos, mas também de assuntos comportamentais. Ele precisa escutar o que o adolescente tem a dizer", afirma a médica, que é membro das sociedades paranaense e brasileira de pediatria e em ambas atua no departamento de adolescentes.

Marizilda explica que a maior parte dos pacientes chega ao ambulatório ou ao seu consultório levada pelos pais. Os problemas mais comuns são crescimento inadequado, sobrepeso, inadaptação escolar. Chegando ao consultório, conversando com eles, é que se percebe que o problema aparente muitas vezes está camuflando o problema real. O médico descobre que aquela falta de vontade de fazer aulas de educação física é um sistema de defesa do adolescente que está acima do peso e não quer virar motivo de piada entre os colegas.

E Marizilda costuma dizer que a família toda entra junto na adolescência, que só vai ser uma fase boa para ser vivida se filhos e pais souberem como lidar com as mudanças. "A rebeldia é um fator positivo de crescimento, mas é preciso ser rebelde com causa, objetivando uma mudança para romper antigos padrões. E os pais precisam estar preparados para essa fase de perdas, de luto até, quando o filho deixa de ser o nenê da mamãe. Para evitar conflitos, os pais devem explicar a razão de seus medos e não simplesmente impedir que o filho vá a festas, saia com amigos. O adolescente precisa entender os motivos das limitações", afirma.

Família

Quase sempre os problemas dos adolescentes estão ligados à família ou ao grupo de amigos. Por isso, depois de receberem avaliação clínica, eles são encaminhados para a psicologia. E a psicóloga Tânia Madureira, que trabalha no ambulatório do HC, sempre pede para que a família, amigos e até namorados acompanhem o adolescente nas sessões. "Os problemas mais comuns que chegam aqui são os de convívio familiar. No entanto, na maior parte das vezes esses problemas estão mascarados por dores de cabeça ou dificuldade de relacionamento com os pais ou na escola", explica Tânia. E é no meio da conversa que a psicóloga descobre que a origem do problema está geralmente numa situação de impasse familiar.

Meninas acabam sendo levadas ao ginecologista

Enquanto os rapazes são os pacientes mais comuns nos consultórios do ebiatra, as moças acabam no consultório dos ginecologistas. Marta Rehme, responsável pelo serviço de ginecologia infanto-juvenil do HC, afirma que é preciso um preparo especial para atender adolescentes. "O ginecologista precisa ter uma empatia. Na maioria das vezes, elas vêm trazidas pela mãe, contra a vontade e chegam desconfiadas. É preciso dizer que o sigilo médico pode ser mantido entre o adolescente e o médico", afirma.

Marta conta que é necessário ter sutileza para deixar a questão bem explicada para os pais, principalmente. "Muitas vezes, a menina tem uma vida sexual ativa e a mãe nem desconfia. É preciso saber como abordar essas questões, geralmente quando o médico estiver a sós com a paciente", alerta.

Além de orientar sobre as dúvidas que surgem com o início da menstruação, é comum que as primeiras noções e orientações sobre a vida sexual sejam dadas pelo ginecologista. Marta conta que entre as camadas mais pobres da sociedade, as mães chegam já pedindo para que o médico esclareça essas questões com a filha adolescente. No entanto, quando se trata de famílias com maior poder aquisitivo, a dificuldade é maior. "Mães mais pobres já viveram situações de gravidez na adolescência e preferem ser diretas. E essas adolescentes humildes acabam engravidando por falta de acesso a métodos contraceptivos porque não têm dinheiro mesmo. Já as adolescentes ricas têm dinheiro, têm tudo, mas não conseguem chegar até o consultório e acabam grávidas por pura falta de informação", conta. (SR)

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