Medicamentos: Remédio ?tamanho único? pode estar com os dias contados

maissaude.jpgUma paciente procurou um médico geneticista recentemente. Mesmo sendo totalmente saudável, ela estava preocupada, pois tem um histórico de câncer de mama na família, e queria fazer o teste para saber se tem predisposição para essa doença. Sabendo disso, o especialista consultado indicou a realização de auto-exames e mamografias mais freqüentes. Neste sentido, as portas estão se abrindo para um novo segmento: a farmacogenômica, especializada em fazer medicamentos para pessoas para as quais determinados remédios não fazem efeito por causa da carga genética.

Conforme o geneticista Salmo Raskin, que faz parte do HUGO (Human Genome Organization), órgão internacional que organiza o Projeto Genoma Humano, a nova especialidade se tornou possível em função do estudo que faz o mapeamento genético de todo o corpo humano. O especialista cita como exemplo o próprio câncer de mama, que dispõe de medicamentos para tratar a doença em estado avançado, já em metástase. Ele explica que, por motivos até então desconhecidos, para a metade das mulheres é totalmente ineficaz, para a outra metade tem uma resposta excelente.

Mutação e eficácia

Foi por meio da farmacogenômica que se descobriu que, quando a pessoa tem uma mutação em determinado gene, o remédio pode trazer resultados positivos, mas quando o câncer ainda não fez com que aquele gene sofresse mutação, ele pode não funcionar. ?Conhecendo essas características podemos fazer um teste antes para saber se o medicamento será eficiente ou não?, diz Raskin, prevendo que, no futuro, poderemos fazer medicamentos personalizados, que reduzam os efeitos colaterais e sejam mais eficazes.

Conforme o gerente de pesquisas clínicas do Laboratório Schering, Eduardo Motti, a idéia parece simples: desenvolver medicamentos que não causem nenhum tipo de efeito colateral ao paciente, afinal poucas pessoas têm o costume de ler bulas dos remédios, principalmente aqueles tópicos localizados discretamente no final do texto, indicando os efeitos colaterais e reações adversas. ?Não é só para essas pessoas que a farmacogenômica está se desenvolvendo, mas que elas serão as principais beneficiadas, com certeza?, observa Motti.

Seleção de pacientes e não de remédios

A farmacogenômica envolve a aplicação de tecnologias como o seqüenciamento de DNA, análise da expressão gênica e estatística em pesquisas e testes clínicos de drogas. Como muitas doenças podem resultar da alteração de uma rede de genes que fazem parte do organismo, por meio da farmacogenômica poderiam ser identificados quais deles estariam envolvidos na determinação da resposta a determinada droga. Desse modo, a caracterização genética de populações de pacientes deverá ser parte integrante do processo de descoberta e desenvolvimento de drogas.

Os cientistas são comedidos em falar sobre o futuro da especialidade: ?Os estudos estão apenas começando?, dizem. Provavelmente, a seleção de drogas terapêuticas deverá ser substituída por seleção de pacientes nos quais uma determinada droga seria eficaz. Enquanto os sintomas de uma determinada doença pareçam ser uniformes, variações individuais podem determinar que drogas adequadas para certos pacientes sejam tóxicas para outros. A abordagem farmacogenômica será importante tanto no desenvolvimento de novas drogas como também no resgate de outras que podem fazer efeito em determinados grupos de pacientes.

Redução de tratamentos ineficazes

Com o mapa do genoma nas mãos, os cientistas vislumbram a possibilidade de criar remédios, quase que individuais, que bloqueariam o surgimento de efeitos colaterais. De acordo com Eduardo Motti, conhecendo essas características e diferenças, os médicos poderão prescrever o remédio correto na dose exata para cada paciente, ?reduzindo com isso o risco de fracasso dos tratamentos?. De acordo com pesquisas realizadas nos Estados Unidos, cerca de 100 mil pessoas morrem em virtude de reações adversas aos medicamentos.

Uma demonstração dos benefícios que virão com a evolução da farmacogenômica já ocorreu nos Estados Unidos. No ano passado, portadores da doença de Lyme ? problema causado por uma bactéria transmitida pelo carrapato, que pode causar meningite, paralisia facial e doenças cardíacas – entraram na Justiça contra o laboratório que fabrica o medicamento. Eles alegaram que uma vacina para a doença fabricada pela empresa poderia causar artrite em pessoas com um marcador genético previamente conhecido. O caso está na instância jurídica e a empresa vai ter que explicar por que o alerta para este problema não estava incluído nas contra-indicações da vacina.

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