A segurança dos remédios é um assunto que vem deixando a população preocupada. A confiança nos medicamentos vem sofrendo abalos desde a retirada do mercado de alguns antiinflamatórios de última geração. Não é estranho, então, que as pessoas desconfiem de que existem mais riscos embutidos nesses medicamentos do que se pode imaginar. De acordo com Marcelo Freitas Santos, diretor clínico do Hospital Cardiológico Costantini, os antiinflamatórios estão entre as drogas mais utilizadas em todo o mundo e podem representar riscos para o coração, se não utilizados de maneira correta.
O médico explica que os antiinflamatórios ajudam na redução da dor e na melhoria da capacidade e amplitude dos movimentos, mantendo sua independência e melhorando sua qualidade de vida. Mas, por outro lado, adverte que seu uso crônico pode trazer problemas para o aparelho digestório, como úlceras, gastrites, hemorragias do estômago e alteração de função renal.
Retirados do mercado
Se de um lado estudos mostram que coibir a inflamação pode proteger o coração, outros trabalhos realizados com antiinflamatórios revelaram que o próprio medicamento que serve para combater a inflamação pode fazer mal ao órgão. Os especialistas contam que a partir de 1999 foi desenvolvida uma nova classe de antiinflamatórios com o objetivo de redução dos efeitos colaterais gastrointestinais, suas complicações mais freqüentes. São os chamados inibidores específicos da COX-2. Assim, embora mais seguros para o aparelho digestório, alguns desses medicamentos foram relacionados ao aumento de mortes em pacientes com alto risco de doenças cardiovasculares (hipertensão, história anterior de infarto, AVC, etc.). ?Foi o resultado desses estudos que levaram à retirada do mercado de alguns fármacos desta nova classe?, diz Marcelo Santos.
O professor da especialidade de reumatologia, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sebastião Radominski, lembra que os médicos devem estar atentos ao receitar antiinflamatórios para seus pacientes. ?O que atualmente se discute é se antiinflamatórios da era pré-COX-2 também estão relacionados a eventos cardiovasculares?, ressalta o médico. Assim, no seu entender, os médicos devem tomar alguns cuidados com esses remédios e seguir as recentes recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso em pacientes com histórico de problemas gastrointestinais e, também, cardiovasculares.
O cardiologista Marcelo Santos esclarece que o uso desses remédios, mesmo daqueles que parecem ser mais inofensivos, deve ser acompanhado por um médico. Para ele, o monitoramento profissional se faz necessário para delimitar o custo-benefício que o uso de certas drogas proporciona. No entanto, o médico acredita que a população não precisa se alarmar com essa notícia, sem, no entanto, deixar de se informar sobre o assunto. Ele explica que um adulto sem qualquer tipo de evento cardiovascular e sem histórico familiar da doença pode tomar tranqüilamente drogas de última geração por determinados períodos. No entanto, o mesmo não vale para uma pessoa idosa com vários fatores de risco para problemas cardiovasculares, que deve ser monitorada freqüentemente.
