Diz o senso comum que a mulher é o sexo frágil. Mas será mesmo? Pelo menos a ciência contesta. Um estudo recente, publicado no periódico Harvard Men’s Health Watch, afirma que, do ponto de vista clínico, os homens perdem a partida. Os pesquisadores analisaram fatores biológicos, sociais e comportamentais da ala masculina.

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A vida atarefada que a maioria dos homens leva – o que é ainda pior para os que têm filhos – não contribui para a saúde deles. Alimentação ruim, estresse, tabagismo e álcool estão na lista de maus hábitos mais comuns nos homens do que nas mulheres. Além da famigerada mania que eles têm de não ir ao médico.
Coração na mira do estresse

Quanto aos fatores sociais que influenciam a saúde masculina, o estudo aponta que há características que são mais comuns em homens que em mulheres. Alguns deles são o alto nível de estresse, hostilidade e raiva, aumentando os riscos de ataques cardíacos. “Manter a calma diante das situações conflituosas doa dia a dia é fundamental para a saúde do coração. O estresse pode ser um gatilho perigoso para infarto do miocárdio”, explica o cardiologista Fabrício Braga.

Além do descontrole emocional, o trabalho também pode oferecer riscos ao coração. Ter uma jornada de trabalho de dez horas ou mais por dia eleva em 60% o risco de desenvolver problemas cardíacos, de acordo com outro estudo publicado pelo European Heart Journal. Muita gente por aí não só passa esse tempo dentro de escritório, como também leva trabalho para casa e passa toda a madrugada sem dormir.

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A idade também provoca transformações

Não são só as mulheres que sofrem com as alterações hormonais da idade. Assim como existe a menopausa para elas, há a andropausa para os homens, que é um período em que o homem passa por mudanças hormonais, fisiológicas e químicas. Em geral, ela ocorre entre 40 e 50 anos, com raras exceções acontecendo aos 35 ou aos 65 anos. “Os níveis dos hormônios androgênicos, como a testosterona, responsáveis pelas características biológicas masculinas nos homens, são mais baixos a partir dos 45 anos do que nos homens mais jovens. A produção desses hormônios está intimamente relacionada à idade e às manifestações da andropausa, também chamada de climatério masculino”, segundo o urologista Joaquim de Almeida Claro, da Escola Paulista de Medicina.

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A andropausa é uma doença, e é mais difícil de ser identificada que a menopausa, pois os homens não contam aom a parada da menstruação como sinal. Com isso, há homens que têm dificuldades para conseguir ter ou manter a ereção, outros sofrem queda do desejo sexual. Além disso, o homem pode ter menor resistência à atividade física e necessidade de urinar com maior frequência, além de ganhar peso e perder cabelo. As mudanças sexuais observadas em alguns homens que ultrapassaram os 55 anos estão relacionadas ao tempo mais prolongado que necessitam para atingir a ereção e à estimulação, que precisa ser mais direta.

Quando o homem apresenta essas alterações, são necessários exames laboratoriais para checar a diminuição do hormônio. Constatado o diagnóstico, é preciso fazer novos exames antes de submeter o paciente à reposição. “A reposição é contra-indicada para aqueles que apresentam algum fator de risco, como o sangue espesso, e tipos de distúrbios do sono. A possibilidade de o paciente apresentar câncer de próstata deve estar descartada, já que a reposição hormonal pode provocar o avanço da doença”, alerta o especialista.

Prato de macho?

As mulheres incluem mais vegetais em sua alimentação diária, enquanto os homens continuam devorando grandes quantidades de carne e frituras de acordo com um dos pontos citados na pesquisa. Dentre alguns fatores biológicos positivos, elas apresentam maiores níveis de HDL (colesterol bom), que as protegem de doenças do coração. Outro ponto é o excesso de peso, comum em ambos os sexos. As mulheres tendem a apresentar excesso de peso nos quadris e coxas, a chamada gordura periférica. Já os homens acumulam gordura na região abdominal, caracterizada como gordura visceral.

Segundo os pesquisadores, a localização da gordura masculina apresenta mais riscos à saúde do que a gordura dos membros inferiores do corpo, aumentando os riscos de problemas cardiovasculares, derrames, hipertensão e diabetes. “É mais importante prestar atenção na medida da circunferência da cintura do que no peso em quilos do paciente. O risco já começa a se elevar com uma cintura de 80 cm para as mulheres e de 90 cm para os homens. Medidas acima de 90 cm para as mulheres e acima de 100 cm para os homens fazem com que o risco entre na zona de ‘perigo'”, explica o endocrinologista Marcio Mancini.

Eles têm mais vícios

Hábitos como fumar, beber e abusar de drogas são classificados como fatores sociais mais frequente entre os homens. Mesmo que até certo ponto a diferença entre os sexos diminua, o estudo afirma que os homens ainda dominam hábitos autodestrutivos. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que 22,7% da população masculina são fumantes. As mulheres fumantes somam 16% da população. Além dos riscos aumentados de câncer de pulmão, de boca e de diabetes e doenças cardiovasculares, o tabagismo pode causar muitos outros problemas menos conhecidos. Cientistas do Brain Research Center, da Índia, descobriram uma ligação direta existente entre tabagismo e danos cerebrais.

Um composto do cigarro, chamado NNK, desencadearia uma resposta exagerada do cérebro a partir de células imunes no sistema nervoso central, fazendo com que os glóbulos brancos, que normalmente eliminam células danificadas, passem a atacar células saudáveis, resultando em graves danos neurológicos. O fumo também pode diminuir as funções sexuais masculinas.

“O tabagismo masculino está associado à redução na qualidade do sêmen, incluindo concentração de espermatozoides, motilidade, morfologia e efeito potencial na função espermática, além das alterações nos níveis hormonais”, diz o ginecologista Jogi Ueno. O hábito de fumar, com o passar dos anos, estabelece um declínio na capacidade reprodutiva masculina de maneira progressiva.

De acordo com o ginecologista Jogi Ueno, o tabagismo também pode causar uma diminuição da fertilidade por alterar os níveis hormonais séricos de testosterona e de estradiol, e por provocar alteração no DNA dos espermatozoides. Costumamos recomendar àqueles indivíduos que apresentam sêmen de qualidade marginal e história de infertilidade, que deixem de fumar para que haja uma melhora da qualidade do sêmen com a interrupção do tabagismo.