Uma avalanche de informações nos surpreende todos os dias, desde o momento em que acordamos. A vida moderna tem suas facilidades, mas também cobra o seu preço: mais trabalho, mais pressa, mais dores de cabeça.
É muito provável, no entanto, que em épocas não tão estressantes da humanidade, muitas pessoas já sofriam com a cefaleia, nome científico dado à dor de cabeça.
Como todas as outras enfermidades, o distúrbio também é agravado por fatores emocionais, contudo eles são apenas somáticos, já que a cefaleia possui outras causas.
De acordo com a neurologista do Hospital Santa Cruz em Curitiba, Viviane Flumignan Zétola, a dor de cabeça pode ser primária – que é a mais comum, causada por distúrbios neuroquímicos no cérebro – ou secundária, causada por outros problemas do organismo, como tumores cerebrais, infecções e aneurismas, entre outros.
A especialista explica que entre os tipos de cefaleias primárias está a popular “enxaqueca”, também conhecida por cefaleia migrânea, que atinge principalmente as mulheres em idade adulta. Além disso, existe a cefaleia tensional, mais comum em homens adultos.
“Em geral, esses tipos de dor e cabeça não são malignos e possuem diversas causas, entre elas as alterações hormonais e a predisposição genética”, afirma, salientando que, além disso, sabe-se que alguns alimentos também são seus desencadeadores, como chocolate, sucos com corantes, condimentos, glutamato monossódico (encontrado no shoyo e comidas chinesas) e bebidas alcoólicas, principalmente o vinho.
O tratamento da enxaqueca depende da frequência da dor, da intensidade das crises e da resposta à medicação. |
Hábitos cotidianos
Para detectar as causas da cefaleia, os neurologistas realizam uma cuidadosa e longa observação. “Antigamente se fazia uma lista daquilo que o paciente deveria modificar nos seus hábitos cotidianos”, explica a neurologista.
Hoje, de acordo com a médica, percebe-se que as causas (chamadas de gatilhos) variam entre os pacientes, por isso adotou-se um “diário de cefaleia” para observar quais hábitos do paciente coincidem com o aparecimento da dor – uma forma mais objetiva de reconhecer o tipo de cefaleia e encontrar o melhor tratamento para curá-la totalmente.
Os sinais de alerta passam a preocupar quando a cefaleia não respeita a faixa etária adulta, acometendo crianças ou idosos, ou quando as dores não mantêm um padrão e passam a se apresentar de forma diferente ou progressiva, em intensidade e frequência a cada crise.
“As dores muito abruptas, que não melhoram com o uso de analgésicos, ou são acompanhadas de amortecimentos em braços e pernas, dificuldade de fala e outros sinais e sintomas localizatórios, precisam ser averiguadas o quanto antes por um especialista”, completa a Viviane Zétola.
Tudo dá dor de cabeça
O Hospital Santa Cruz disponibiliza aos seus pacientes um Serviço de Neurologia que mantém especialistas de plantão, durante 24 horas. “O paciente que sofre crises intensas é tratado diretamente com um neurologista, que vai realizar um tratamento mais específico para o seu tipo de dor”, explica a neurologista.
A infraestrutura do hospital dispõe de um centro de imagens que auxilia o médico a detectar o motivo da dor, principalmente se ela tiver causas secundárias. O tratamento para a cefaleia acontece por meio de analgésicos que eliminam a dor e são específicos para cada paciente.
Existe, ainda, o tratamento preventivo, que pode durar de seis meses a um ano, a fim de evitar que a dor apareça novamente. A m&eacut,e;dica diz que costuma alertar aos seus pacientes que, de mau humor a tumor, tudo dá dor de cabeça. É preciso estabelecer individualmente o caso. “O fato é que ninguém precisa se acostumar com a dor e pode, plenamente, viver sem ela”, completaa.
Impacto econômico
O custo da migrânea (enxaqueca) ao sistema público de saúde do Brasil ultrapassa US$ 140 milhões anuais, cálculo com base no valor gasto com o atendimento, drogas preventivas e no custo de tratamento e internações, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe).
Um estudo da entidade revela que 138 milhões de brasileiros sofrem de dor de cabeça. Os casos de migrânea são mais prevalentes na Região Sudeste, com 20,5%. A Região Sul vem em seguida com 16,4%, a Região Nordeste com 13,6%, a Região Centro-Oeste com 9,5% e a Região Norte com 8,5%.
No dia a dia, a enxaqueca e a cefaleia crônica são as que mais afetam as pessoas, deixando-as com variação de humor, falta de energia, além de atrapalhar a concentração no trabalho e nas atividades familiares.
Para o neurologista da SBCe, Luiz Paulo de Queiroz, os impactos da doença são muito maiores do que podemos imaginar. A perda de produtividade no trabalho é o mais evidente, pois cerca de 20% das faltas se devem à enxaqueca.
“Caso os pacientes tivessem condição de tratamento adequado, os gastos com a doença seriam menores e o valor usado para o tratamento poderia ser aplicado em outras áreas”, avalia.
Não só na vida profissional a enxaqueca atrapalha, na vida social e familiar, também. De acordo com estudo da SBCe, 50% dos enxaquecosos brigam mais com os companheiros e com os filhos devido à cefaleia.
Além disso, 36% deles acham que seriam melhores companheiros se não sofressem com as dores de cabeça. Já outros 24% reclamam que, devido às crises, deixam de comparecer às atividades sociais e familiares.