Apesar do bombardeio de informações e do acesso a médicos cada vez mais fácil, a maioria das gestantes não realiza o pré-natal, uma série de consultas e exames que verificam a saúde do bebê e da própria mulher. No Paraná, somente 30% das grávidas fazem o acompanhamento. Essa baixa incidência dá origem a outro dado alarmante: o da mortalidade materna. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, são 57 mortes a cada cem mil bebês nascidos vivos. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de, no máximo, 20 mortes a cada cem mil nascidos vivos. No Brasil, neste mesmo parâmetro, ocorrem 74,5 óbitos.
O coordenador dos programas de saúde da mulher da Secretaria, Gleden Teixeira Prates, explica que há muitas razões para o grande número de mortalidade materna. Entre elas estão a realização inadequada do pré-natal, médicos não capacitados para fazer o acompanhamento e hospitais despreparados para atender os casos de gravidez de alto risco. Esse quadro gera as principais causas desses óbitos: hipertensão, hemorragias, infecções e abortos. As mortes acontecem durante a própria gestação, no parto e no puerpério (período pós-parto).
A grande ocorrência de gestação na adolescência também é um dos fatores que contribui para o índice de mortalidade. “O fato de ser adolescente por si só já é um motivo de risco porque o corpo nessa idade ainda é imaturo”, explica Prates. Os conflitos familiares que podem surgir com a notícia da gravidez de adolescentes também geram problemas. Por muitas vezes, elas tentam esconder que estão grávidas e não procuram orientação médica. Algumas também fazem abortos, que podem resultar em graves lesões para a mulher, causando hemorragia. O resultado final pode ser a morte da adolescente.
Qualidade de vida
As mortes de mulheres decorrentes da gravidez, aborto ou parto são entendidas pelos especialistas como indicadores da qualidade de vida dessas pessoas. Para Prates, o baixo nível sócio-econômico e o ambiente em que a grávida vive também influenciam no processo. “As mulheres que vivem em lugares inóspitos estão mais sujeitas a infecções, têm acesso a produtos químicos que podem causar deformações do feto, não se alimentam direito e não fazem uma higiene pessoal correta”, afirma o coordenador. “A população que vive abaixo da linha da pobreza tem uma qualidade de vida muito baixa e não possui acesso facilitado aos hospitais, causando muitos casos de alto risco.” Prates também destaca que a incidência de várias doenças, como as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), durante a gravidez, aumentam ainda mais o risco de vida para a mulher e o bebê.
Ações de combate à mortalidade
A Secretaria de Estado de Saúde está colocando em prática diversas ações, desde o ano passado, para diminuir os índices de mortalidade materna. “Estamos capacitando os médicos de saúde familiar, que não são obstetras, a realizar o pré-natal”, comenta Gleden Teixeira Prates.
De acordo com ele, as unidades de gravidez de alto risco de alguns hospitais também estão sendo melhor estruturadas. “Com esses novos equipamentos, muitas mulheres não vão precisar sair da cidade onde morar para os grandes centros. Isto também evita a perda da mãe e do bebê enquanto se espera por uma vaga em hospital”, conta Prates.
Para esclarecer as gestantes quanto à importância do pré-natal, a Secretaria vai lançar uma campanha ainda no primeiro semestre deste ano. Já o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, divulgou anteontem um pacto com as secretarias municipais e estaduais e organizações civis para reduzir em 15% os índices atuais de mortalidade materna até 2006. A intenção é diminuir os números em 75% até 2015. O ministério pretende investir R$ 120 milhões na extensão do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência para 152 cidades do País. Os oito municípios que integram o programa já estão contando com equipamentos para emergências obstétricas. (JC)