A depressão, uma das doenças de maior impacto social no mundo, deve ser considerada um problema de saúde pública. Aproximadamente 10 milhões de brasileiros, ou 5% da população em geral, sofre dessa doença, que é grave, incapacitante e onerosa. O Brasil não possui registros recentes sobre as perdas provocadas pela doença, mas só nos Estados Unidos, os custos sociais da depressão são calculados em US$ 44 bilhões, ao ano, sendo que 55% desse total é perdido com a redução da produtividade do paciente. E as projeções para o futuro não são nada animadoras: segundo a OMS, a depressão será a segunda maior causa de incapacitação no trabalho no ano de 2020 (hoje, é considerada a quinta depois das infecções respiratórias, AIDS, doenças do período perinatal e diarréia).
O mais grave, porém, é que por falta de informação, apenas dois terços dos pacientes com depressão procuram tratamento e, destes, somente 10% recebem medicação em doses adequadas, de acordo com dados do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH), aumentando ainda mais os custos com a doença.
A depressão resulta em um grande prejuízo na vida profissional do paciente. Segundo o Prof. Dr. Kalil Duailibi, psiquiatra e chefe da Disciplina de Psiquiatria da Universidade de Santo Amaro (Unisa), de São Paulo, “são grandes as chances de um paciente com depressão ser demitido, pois sua capacidade de trabalhar é comprometida, bem como seu desempenho, concentração, energia e iniciativa”. Um estudo internacional (Minta J., Arch. Gen. Psych., 1992) mostrou que 11% dos pacientes depressivos estão desempregados. Outro estudo, este realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em quatorze países, revelou que pacientes deprimidos passam, em média, sete dias por mês incapacitados de trabalhar, enquanto que o grupo controle (pessoas não deprimidas), apenas um dia. “O impacto da depressão na saúde ocupacional, portanto, vai além das faltas no trabalho, pois ela afeta sensivelmente o rendimento do trabalhador deprimido”, conclui o Dr. Duailibi.
Sobre a saúde do paciente, a depressão interfere no resultado do tratamento de outras enfermidades, como doenças cardiovasculares, diabetes, derrame, câncer, doença de Parkinson etc. Essa associação agrava a doença já existente e diminui muito a resposta a seu tratamento. E o que é pior: aumenta a mortalidade dos pacientes por causa da doença de base ou por suicídio. “É muito comum doentes hospitalizados apresentarem algum transtorno depressivo, cerca de 30%. O que é mais preocupante, no entanto, é que de 15 a 20% dos pacientes com depressão grave realizam condutas suicidas”, alerta o psiquiatra.
Tratar inadequadamente, ou simplesmente deixar de tratar a depressão, causa um prejuízo muitas vezes irreversível para o paciente e para a sociedade como um todo. Incapacitação, perda da produtividade no trabalho, peregrinação em vários médicos, compra de medicamentos descartados, exames inapropriados, piora do quadro de outras doenças concomitantes, além do aumento da mortalidade e suicídio, são as principais conseqüências. Além dessas questões, para o paciente, existem os danos afetivos e psicológicos que variam de pessoa para pessoa, como o afastamento dos amigos e familiares, a dificuldade em se relacionar, a perda do sentido de prazer em quase tudo o que se faz, qualidade de vida ruim e a conseqüência extrema que é a perda da vontade de viver, podendo acabar com a própria vida.
“A depressão nos envolve numa malha misteriosa, nos fragiliza e arranca de nós todo poder sobre nossa vida, nos regredindo emocionalmente e mentalmente, nos infantilizando e roubando os melhores anos da nossa vida”, declara Wanda Alves, autora do livro “O Quintal Iluminado ? Testemunho real e comovente de quem lutou e venceu a depressão”, da editora Magia das Letras. Ela conta em seu livro que, por causa da doença, ela não conseguia ter emprego fixo, com carteira assinada, pois se sentia presa e insegura. “Sentia-me frágil e principalmente incapaz de levar adiante qualquer trabalho convencional, de horário fixo”, afirma.
O pesquisador norte-americano P. E. Greenberg, que estimou quanto a depressão custa para a sociedade, demonstrou também que os custos com o tratamento da depressão, que inclui medicamentos, internação e atendimento ambulatorial, são bem menores se comparado ao custo total (US$ 12 bilhões, aproximadamente). “Isso mostra que o tratamento da depressão compensa em todos os aspectos, econômicos também. Se bem sucedido, ele devolve a vida social e profissional do paciente e diminui os custos para a sociedade”, afirma o Dr. Kalil Duailibi.
Boas notícias
Nos últimos vinte anos, houve grande avanço científico no conhecimento da depressão, principalmente na área farmacológica. A descoberta dos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRSs) modificou significativamente o tratamento com uso de medicamentos. Apesar de apresentarem eficácia semelhante aos seus antecessores, os tricíclicos (ADTs), os ISRSs apresentam mais segurança e redução dos efeitos colaterais, tornando-se substancialmente mais bem tolerados.
O citalopram é o mais moderno e o mais utilizado ISRS nos Estados Unidos, pois, se comparado com outros ISRSs do mercado, é mais potente, apresenta menos efeitos colaterais, interfere menos com outros medicamentos e tem rápido início de ação. A Libbs Farmacêutica lançou recentemente o Procimax, medicamento cujo princípio ativo é o citalopram, a um custo mais acessível ao consumidor.
“Não é possível justificar a depressão. Além do impacto emocional no paciente, a doença altera quimicamente seu sistema nervoso. Por isso, é necessário o uso de medicamentos, que estão cada vez mais eficazes, seguros e com menos efeitos colaterais. Outra boa razão para iniciar o tratamento é que 70% dos casos têm resposta satisfatória aos tratamentos disponíveis”, explica o Prof. Dr. Fábio Eustáquio Peres Munhoz, psiquiatra e chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Mas, por mais que os medicamentos tenham sido aprimorados ao longo dos anos, o tratamento da depressão continua sendo um processo prolongado e que pode variar de seis meses a dois anos. “O grande erro no tratamento é o paciente ou o médico suspender o medicamento depois que observa melhora. O risco de a depressão voltar é grande e a recaída é ainda pior. É preciso cumprir rigorosamente o tratamento”, ressalta o Dr. Fábio Munhoz. Ele acrescenta que ao final de um mês, 80% dos pacientes ainda estão seguindo o tratamento e, ao final de seis meses, esse número cai para 60%.