Somente vontade de amamentar não é o bastante. A mulher encontra uma série de questões que podem dificultar o aleitamento.
Os conceitos equivocados de leite fraco e pouco leite aparecem como principais fatores para o desmame precoce.
A medicina tem uma parcela de culpa por demorar a entender que, diferente de outros mamíferos, o ser humano precisa receber orientações para o ato de amamentação.
Se o aleitamento materno é tão bom, porque muitas mulheres não amamentam? A partir dessa questão, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez uma série de estudos qualitativos no Brasil. Em foco, a fala do principal ator para a amamentação: a mulher, que guarda uma trajetória de vida antes da maternidade.
‘’A jornada da mulher é múltipla. Ela vira mãe, mas continua tendo jornada de trabalho, vida particular, companheiro. Tem todos esses papéis sociais a serem cumpridos e ainda o de amamentar o filho”, analisa o pesquisador da Fiocruz do setor de saúde da mulher a da criança, João Aprígio.
Mortalidade infantil
Os pesquisadores tiveram uma surpresa. Imaginava-se que o mercado de trabalho era o principal elemento que leva a mulher ao desmame precoce dos filhos. Mas apenas 3,4% alegaram isso.
Para Aprígio, esse dado confirma uma dura realidade: a maioria das mulheres trabalhadoras estão fora do mercado formal de trabalho. ‘’São diaristas, lavadeiras, domésticas e, por incrível que pareça, acabam encontrando alternativas e seguem amamentando”.
Como o principal motivo para o desmame, aparecem expressões conhecidas, como leite fraco, pouco leite, meu leite não sustenta o bebê. ‘’A gente descobre que esse pensamento de leite fraco surge pela primeira vez no século XVII, quando a medicina chega ao Brasil”, explica o pesquisador.
A amamentação aparece como principal instrumento para reduzir a mortalidade infantil. Na época, a medicina adota o discurso de que a saúde do filho depende da mulher, que ela teria obrigação de amamentar. Já que, como mamíferos, a amamentação era natural, instintiva e biológica ao homem. Foi construído um conjunto de regras que a mulher tinha que observar.
Orientações adequadas
‘’Naquele momento, a medicina não tinha alcance para compreender que o ser humano talvez seja o único mamífero facultativo que a natureza conhece”, analisa Aprígio.
Ele aponta que em diversos momentos da história, ou por opção, ou por imposição, a mulher buscava outras alternativas à amamentação. E, em diversos momentos, havia uma censura social para o aleitamento materno.
‘’A prática do desmame na história da humanidade é muito mais forte do que se pode imaginar”, ressalta. Ele acrescenta que quando a medicina impõe a amamentação à mulher não tinha avanços suficientes para entender que esse é um hábito cultural, que precisa ser aprendido. ‘’Não entendia que, apesar de mamífero, a mulher precisava de ajuda”.
Sem conseguir dar respostas às dificuldades que algumas mães enfrentavam, os profissionais de saúde escrevem a incapacidade de amamentar como síndrome do leite fraco ou pouco leite.
Com o tempo, isso passou a ser chamado de hipogalactia e a ama de leite foi substituída por produtos industrializados. ‘’Estabeleceu-se uma reciprocidade pesada de interesses entre a indústria e a medicina”, aponta. ‘’Aí, a vaca foi para o brejo”, brinca.
Aprígio defende que a principal forma de promover a amamentação é dar à mulher orientações adequadas. A psicóloga Luciana Peregrino, do Grupo Origem, lembra que, apesar de todas as vantagens, a amamentação é um direito, não obrigação da mulher, além de prevenir o câncer. ‘’É ela quem decide”, define, mas ressalva que, recebendo informações e apoio necessário, vai ser difícil ela percorrer outro caminho por opção.
Os cuidados com a alimentação
Quando tocamos no assunto amamentação, em ge,ral, as pessoas se interessam somente pela saúde do bebê. A discussão é essencial, mas também devemos dar atenção à mamãe, afinal é ela quem o produz e precisa estar sempre bem nutrida para não ter problemas de saúde neste período. “Uma mulher em fase de amamentação chega a gastar 30% mais calorias do que o normal”, explica o nutrólogo Máximo Asinelli.
Logo, é necessária uma alimentação reforçada para suprir as necessidades do organismo. O cardápio deve ser composto com boa variedade de verduras, legumes, frutas, cereais, e alimentos ricos em proteínas, como carnes.
Esses nutrientes não vão fortalecer o leite materno, ajudando a manter a saúde geral da mulher em boas condições. As proteínas, por exemplo, são importantes para as células e a construção e restauração de tecidos. A mãe também precisa repor suas reservas de energia. “Aqui, entram os carboidratos”, ressalta o médico.
O ferro é outro nutriente fundamental durante essa fase, pois é um componente importante na composição do sangue. Sua falta pode gerar franquezas e anemia, acarretando graves prejuízos à mulher.
“A amamentação é um momento marcante e exige muito do organismo, então é imprescindível manter-se saudável para não sofrer complicações nessa fase”, completa Asinelli.
Para a amamentação se tornar um prazer
* A mãe deve escolher uma posição confortável, de forma que o corpo do bebê esteja bem juntinho do seu.
* Uma posição correta: a cabeça do bebê na dobra do cotovelo da mãe.
* Um sinal de que a posição está desconfortável é quando o bebê solta o peito repetidamente.
* Caso esteja sentindo dor no bico do peito durante a mamada é porque a pega não está correta. O certo é o bebê abocanhar toda a aréola (parte escura da mama).
* A mãe deve oferecer sempre as duas mamas.
* Para ter leite suficiente, basta oferecer a mama. Quanto mais o bebê mamar, mais leite será produzido.
* Quando sentir as mamas cheias, a mãe precisa esvaziá-las. Coloque o bebê para mamar ou retire o leite com as mãos.
* O excedente do leite pode ser doado e utilizado na recuperação de crianças em hospitais e maternidades.
Fonte: Fiocruz
Direitos da mãe trabalhadora
* Licença maternidade de 180 dias
* Quando retornar ao trabalho, dois descansos remunerados de meia hora por dia para amamentar seu filho até ele completar seis meses de idade
* Berçário ou creche no local de trabalho, sempre que a empresa tiver trinta ou mais mulheres trabalhando