Vinte e cinco anos após os primeiros casos de aids virem a público, cientistas confirmam que o vírus HIV que atinge os humanos realmente veio dos chimpanzés selvagens, naturais de Camarões.
Cientistas mergulharam nas selvas para recolher fezes de macacos selvagens – 1.300 amostras ao todo. Antes disso, foram necessários sete anos de pesquisa só para desenvolver os exames capazes de rastrear geneticamente a versão primata do vírus em chimpanzés vivos, mas sem ferir os animais.
Até agora, "ninguém tinha sido capaz de procurar. Ninguém tinha as ferramentas", disse a cientista Beatrice Hahn, da Universidade do Alabama em Birmingham. Ela liderou a equipe internacional de pesquisadores que informa o sucesso da pesquisa na edição da revista Science desta sexta-feira.
Cientistas sabem há tempos que os primatas não-humanos carregam sua própria versão do vírus da aids, conhecido como SIV, ou vírus da imunodeficiência dos símios. Mas, com uma única exceção o SIV só havia sido encontrado em chimpanzés em cativeiro, particularmente numa subespécie que, na natureza, habita principalmente a África Ocidental.
Não se sabia o quanto o vírus seria freqüente nos chimpanzés silvestres, ou qual a diversidade genética e geográfica do SIV, o que tornava difícil definir o ponto em que teria ocorrido o salto do macaco para o homem.
A equipe de Hahn testou fezes de chimpanzé para anticorpos do SIV, descobrindo-os numa subespécie chamada Pan troglodytes troglodytes, no sul de Camarões.
Chimpanzés tendem a formar comunidades diferentes em diferentes áreas geográficas. Ao analisar geneticamente as fezes, pesquisadores foram capazes de rastrear macacos infectados. Os cientistas descobriram comunidades com até 35% de taxa de infecção, e outras sem nenhum indivíduo contaminado. Todos os macacos infectados tinham um padrão genético comum, que indica um ancestral comum, disse Hahn.
Há três tipos de HIV-1, a cepa do vírus da aids responsável pela maior parte da epidemia mundial. Análise genética permitiu que Hahn identificasse comunidades de chimpanzés perto do Rio Sanaga em Camarões, cujos vírus mais se assemelham ao tipo mais comum do HIV-1. "A semelhança genética é marcante", diz a pesquisadora.
O primeiro humano infectado, até onde se sabe, foi um homem de Kinshasa, Congo, que teve uma amostra do sangue guardada em 1959 para um estudo médico, décadas antes que os cientistas soubessem da existência do HIV. Presume-se que alguém, em Camarões, foi mordido por um chimpanzé ou cortou-se ao matar um, infectando-se com o vírus símio. Essa pessoa teria passado o vírus para outra, e assim por diante. Em algum momento dessa disseminação, o vírus se tornou mais letal para seres humanos do que para chimpanzés – mesmo os macacos infectados raramente são incomodados pelo SIV.
