Livrando-se do trauma de dirigir

Valdinéia Ramos, de 28 anos, tem duas filhas e tem habilitação para dirigir desde 2004. No entanto, o medo de dirigir a deixava longe do volante.

Bastava assumir a direção para que as sensações de mal estar, tremor nas pernas, dor de barriga e insegurança pegassem carona.

As crianças ela leva a pé para o colégio. Para outros afazeres, depende da boa vontade de alguém para levá-la. Valdinéia começou um tratamento para assumir o controle do seu veículo e já se sente muito melhor. “Consigo dirigir com alguém ao lado, mas tenho certeza que logo vou dirigir sozinha”, acredita.

Fim de férias, volta às aulas e a volta do trânsito caótico. Ruim para todos, mas especialmente pior para aquelas pessoas que entram em pânico só de pensar em pegar o volante para levar os filhos para escola, por exemplo.

O que parece simples e automático, para a maioria da população, não é para 6% das pessoas habilitadas do Brasil. Essa parcela de motoristas sofre de uma doença conhecida por amaxofobia, um medo irracional que toma conta na hora de dirigir.

Só de se imaginarem no meio do trânsito, guiando um carro, os sintomas desse medo aparecem. Dá medo o risco de bater o carro, machucar alguém ou de fazer algum tipo de “barbeiragem” e ser criticado por outros. Os dados apontam que a maioria daqueles que têm medo de dirigir são mulheres: cerca de 80%, com idades que variam dos 30 aos 60 anos.

Autonomia e autoestima

O primeiro passo para superar a amaxofobia é não ter vergonha de admitir que convive com esse tipo de medo. Diversos motivos levam a esse comportamento, entre eles fatores históricos, culturais, o medo do desconhecido e as inovações tecnológicas.

Outras razões dizem respeito ao inconsciente, provocadas por sensações não resolvidas. O primeiro passo para fazer as pazes com o volante é buscar ajuda especializada.

A psicóloga Salete Coelho Martins, especialista em trânsito e em terapia cognitiva, da Clínica-Escola Psicotran, que trata exclusivamente de casos de medo de dirigir, alerta que nem tudo está perdido.

“Existem tratamentos que ajudam a superar essa fobia”, explica. Para ela, o principal é uma reestruturar os pensamentos e provocar uma mudança de comportamento. “O objetivo principal do tratamento é aumentar a autoestima, devolver a autonomia e confiança para que o paciente possa não apenas dirigir seu veículo, mas também a sua vida”, ressalta.

Quem não dirige, passa a depender de amigos, táxis ou do desgastante transporte público. Para a psicóloga comportamental Neuza Corassa, especializada em medos e fobias, o medo de dirigir poda a liberdade das pessoas e interfere na sua liberdade.

“Na maioria dos casos, a fobia atinge pessoas extremamente responsáveis, detalhistas e com um elevado padrão de exigência, que invariavelmente não gostam de se sentir incapazes”, reconhece.

Transformações à vista

Elisângela Brandão, de 35 anos, já passou pelo tratamento. Com carteira de motorista há 10 anos, carro novo na garagem e dois filhos pequenos, ela se sentia refém do medo insuportável que sentia ao dirigir.

“Era lamentável o pânico que eu sentia, o medo do carro, das ruas, minha autoestima era zero”, admite, contando que chegou a colocar os filhos em uma escola não tão boa, por ser perto de casa para poder levá-los a pé.

Hoje, se sente vitoriosa. Leva os filhos sozinha em todos os lugares: parque, médico, escola. “uso o carro várias vez pó dia e me arrependo de não ter procurado ajuda há mais tempo”, comemora.

Uma das opções é visualizar as transformações que ocorrerão que a pessoa sente em guiar seu próprio carro. A sensação de liberdade, o acréscimo na autoconfiança e o aproveitamento maior do tempo, longe das “caronas”, dos táxis e coletivos são as mais importantes.

Segundo Salete Martins, o tratamento é feito em duas etapas: no consultório e com o veículo. Na parte prática a psicóloga acompanha o cliente no seu próprio veículo fazendo os percursos mais comuns do seu dia a dia, como ir ao superm,ercado, buscar o filho no colégio e ir ao trabalho. “A pessoa aprende a lidar com o que a apavora de forma gradativa e pode voltar a dirigir em até dois meses”, garante a psicóloga.

Dicas práticas

* Vá eliminando o medo etapa por etapa. Não brigue com automóvel
* Decore os sinais de trânsito
* Dedique um tempo para aprender, como qualquer outra fase da vida
* Vencer o medo de dirigir não depende de força de vontade e, sim, de mudança de comportamento
* Não pense em todos os lugares que pretende quer ir, ao mesmo tempo
* Dirija apenas quando quiser ou precisar
* Não fique imaginando como reagiria no lugar dos outros, tudo tem seu tempo
* Não se sinta um intruso no trânsito, afinal todos os outros motoristas são iguais a você
* Dirigir é uma tarefa de movimentos repetitivos, portanto não menospreze a sua capacidade de fazê-lo.
* Coloque o ato de dirigir na sua lista de prioridades.
* Procure saber o que fazer no caso de se envolver em algum acidente. Não tenha medo, todos estão sujeitos a isso.

Fonte: livro Vença o medo de dirigir, de Neuza Corassa

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