Quem nunca passou por estas situações: ao sair de casa, percebe que esqueceu o guarda-chuva ou então, vai ao Shopping Center e não lembra onde estacionou o carro.
Nada é pior, por exemplo, do que a saia justa de encontrar um conhecido na rua e não fazer a mínima ideia de onde o conhece e nem o seu nome. Com a agitação e o estresse da vida moderna, esquecimentos como esses são considerados normais.
Porém, é preciso estar atento quando esses lapsos de memória se tornam mais frequentes. “A perda da memória para fatos recentes é um dos sintomas mais comuns do início da doença de Alzheimer”, afirma a psiquiatra Cássio Bottino.
A doença, que normalmente afeta idosos com mais de 65 anos, é muitas vezes negligenciada nas fases iniciais, por ser facilmente confundida com o processo normal de envelhecimento.
Se analisarmos somente as falhas de memória, não é possível afirmar que o paciente é portador da doença. O esquecimento de alguns fatos pode ser fruto de alguma dificuldade pela qual a pessoa possa estar passando, problemas familiares, sobrecarga de trabalho, depressão, alcoolismo e uso de drogas.
“Antes de a pessoa se preocupar, é necessário que um médico investigue essas queixas e demais sinais característicos da enfermidade”, pondera o especialista. O diagnóstico precoce é a chave para impedir que os efeitos da doença avancem e comprometam a qualidade de vida do idoso.
Porém, a doença possui uma evolução lenta e isso também pode se tornar uma barreira para a sua detecção. Nesse momento, a participação e observação da família é fundamental.
Prestar atenção nas mudanças de comportamento da pessoa e fazer uma comparação com outros idosos pode ajudar na hora de confirmar o diagnóstico e começar um tratamento.
Controle de enfermidades
No momento em que o Alzheimer é diagnosticado, é preciso saber que os esquecimentos continuarão acontecendo cada vez mais, já que a doença não tem cura.
Os familiares devem estimular o idoso a manter a mente e o corpo ativos por meio de jogos de tabuleiro, leitura de livros e jornais, palavras-cruzadas, aprendizado de outro idioma ou instrumento musical. Caminhadas e a manutenção do convívio social ativo também são importantes.
Para Cássio Bottino, atividades como essas são sempre indicadas aos idosos em geral, principalmente para se tentar retardar o aparecimento da demência, que é mais comum no processo de envelhecimento.
O psiquiatra chama atenção para o controle de enfermidades, como hipertensão arterial, diabetes, hipercolesterolemia, obesidade e tabagismo, considerados fatores de risco para demência.
Para quem já tem a doença diagnosticada, essas medidas e o tratamento medicamentoso podem retardar de forma significativa o declínio da função cognitiva em portadores com o distúrbio leve ou moderado.
Vale lembrar que se iniciado na fase leve da doença, durante o surgimento dos primeiros sintomas, o tratamento terá resultados importantes para a manutenção da qualidade de vida do idoso. Contudo, o médico deve ser sempre procurado para avaliar e indicar o tratamento mais adequado para cada paciente.
Medicina molecular
Na visão do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), estudos apontam a chegada do tratamento da doença de Alzheimer em um futuro próximo.
“O mais estimulante é que o tratamento para a doença está entrando em uma nova e interessante fase, com várias novas drogas começando ensaios clínicos”, relatou a neurologista Márcia Lorena Fagundes Chaves, especialista em neurologia cognitiva.
Para ela, as medica&cced,il;ões até agora disponíveis mostram benefícios sintomáticos moderados, entretanto, um maior progresso na medicina molecular sugere outros alvos para medicações.
“Muitas dessas novas terapias são baseadas no melhor entendimento atual sobre a patogênese do distúrbio e são desenvolvidas para tentar lentificar ou interromper a progressão da doença”, completa.
Importante destacar o número de pessoas com idade superior a 80 anos, faixa etária em que a frequência da doença de Alzheimer é superior a 15%. A estimativa é de que exista hoje, no Brasil, 1,5 milhão de pessoas nessa condição.
Em 2017, serão 2,4 milhões. O aumento do número de idosos deverá gerar um significativo impacto econômico e social. A ABN alerta que o governo deveria estabelecer metas e planos de ações específicos para a melhoria da saúde dessas pessoas.
Lapsos de memória frequentes podem ser sintomas da doença, e observar os demais sinais é fundamental para o diagnóstico precoce. |
Sintomas iniciais da doença
Perda de memória recente – Um dos primeiros sintomas da doença. Atenção caso a pessoa comece a esquecer as coisas com mais frequência e fique incapaz de relembrar o assunto posteriormente.
Dificuldade em realizar atividades rotineiras – Não conseguir planejar e completar tarefas do cotidiano, como preparar uma refeição ou fazer uma ligação telefônica.
Desorientação espacial – Esquecer onde está e de como chegou até lá. Perder-se na própria vizinhança ou esquecer o caminho de casa também são comuns.
Poder de julgamento e raciocínio abaixo do normal – Vestir-se de forma inapropriada, com várias camadas de roupa em dias quentes ou pouca vestimenta em dias frios. Pacientes mostram pouca capacidade de julgamento, como doar alta soma de dinheiro sem motivo específico.
Problemas com pensamento abstrato – Dificuldade acima do comum para realizar raciocínios mentais. Esquecer para que servem os números ou como devem ser usados.
Errar o lugar das coisas – Trocar o lugar de coisas usuais, como colocar o ferro de passar no freezer. Porém, é normal colocar as chaves do carro ou carteira em lugar estranho de vez em quando.
Mudanças de humor e comportamento – Rápida alternância de humor e comportamento, sem motivos aparentes. O paciente pode ir de um estado calmo ao depressivo e raivoso em pouco tempo.
Transformações de personalidade – Mudança drástica na personalidade. Podem se tornar confusos, desconfiados, medrosos ou dependentes de um membro da família.
Perda de iniciativa nas atividades – Pessoas com Alzheimer tornam-se muito passivas. Ficam horas em frente à TV, dormem mais que o normal e não têm disposição para realizar tarefas usuais.
Problemas com a linguagem – Esquecer palavras simples, substituir palavras comuns e usuais, dificultar a forma de falar ou escrever pode ser um sinal da doença.
Para diminuir o risco
* Atividade mental regular e diversificada (aprender outro idioma ou instrumento musical)
* Manter a mente e o corpo ativos por meio de jogos, leitura e palavras-cruzadas
* Exercícios físicos com regularidade
* Boa alimentação
* Bom sono
* Lazer
* Não fumar
* Beber com moderação
* Cuidados com a saúde física em geral