A fase crônica é a mais perigosa, e requer, a exemplo do coquetel para a aids, medicação constante e controle de carga viral. Nesta etapa, o paciente pode desenvolver câncer de fígado ou cirrose. Anualmente, no mundo, cerca de 1 milhão de pessoas morrem em decorrência da hepatite B. No Brasil, o número de infectados chega a 2 milhões, dos quais apenas 3% recebem tratamento adequado. O Ministério da Saúde está realizando o Inquérito Nacional de Prevalência das Hepatites Virais, para mapear a abrangência da doença.
Estudos indicam que a taxa de cronicidade, ou seja, o percentual de pessoas que evoluem para a fase crônica da doença, varia conforme a idade em que ela foi infectada. A pesquisa aponta que 90% dos recém-nascidos, 25% a 30% de crianças com menos de cinco anos e 5% a 10% dos adultos infectados chegam a esse estágio da doença. E de 15% a 25% dos pacientes que chegam a esse nível morrem devido a doenças no fígado.
?Nos casos crônicos, a determinação da carga viral de base é mais importante que outros fatores, como etnia e idade de aquisição, para determinar o tratamento?, esclareceu João Silva de Mendonça, diretor do Serviço de Moléstias Infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, durante o 14.º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado no fim do mês passado, em Belo Horizonte.
Contágio
A principal forma de contágio pelo vírus VHB se dá em relações sexuais e transfusões de sangue, na chamada contaminação horizontal, e, na vertical, pelo leite materno. Em menor escala, o vírus pode ser transmitido por saliva, suor, secreções vaginais e urina, desde que haja alguma lesão que permita a troca desses fluidos. ?Beijo na boca, desde que não haja lesões com sangramento, não transmite a hepatite?, antecipa a infectologista Tânia Cristina Biatti Barreto, gerente médica do laboratório Bristol-Myers Squibb. Ela conta que o vírus pode sobreviver até cerca de cinco dias em uma escova de dentes, por exemplo. ?Por isso é preciso cuidado ao compartilhar objetos de uso pessoal?, alerta.
Na fase inicial da doença, o paciente tem sintomas como anorexia, náusea, vômitos, dores musculares, febre, desordem gustativa (não diferencia os sabores) e dor moderada e intermitente na região do fígado. Com a evolução da doença, aproximadamente um terço começa a apresentar urina escura, fezes claras e pele amarelada. Na fase crônica, os sintomas podem ser fadiga e descompensação hepática, além dos outros sintomas. Como esses sinais podem ser confundidos com outras doenças, é necessária a avaliação médica.
Duas especialidades, infectologistas e hepatologistas, têm se dedicado ao estudo e tratamento da hepatite B. ?O tempo entre a infecção e o estágio avançado da doença varia de 20 a 40 anos?, disse Raymundo Paraná, professor de hepatologia da Universidade Federal da Bahia e coordenador do grupo de estudos de hepatite Brasil-França, palestrante do congresso. Ele desenvolve pesquisas no Norte do Brasil, onde o percentual de pessoas sujeitas à doença é elevado.
Tratamento
A melhor forma de não contrair a doença é, claro, a prevenção. Hoje, existe vacina para a hepatite B, inclusive em campanhas do Ministério da Saúde, que deve ser tomada em suas três doses, respeitando-se os intervalos entre cada uma. Caso não sejam tomadas todas as doses, o tratamento se torna ineficaz. Os programas de vacinação podem ser consultados no site da Sociedade Brasileira de Imunizações (www.sbim.org.br). Na rede pública, na maioria dos estados brasileiros, ela está disponível apenas para pessoas com menos de 20 anos de idade.
Como a principal porta de entrada no meio adulto é a relação sexual, o uso de preservativo é a forma mais eficaz de não se contrair o vírus. Exames pré-natais e acompanhamento médico constante de mães infectadas podem evitar que o bebê contraia a doença e permite que ele seja vacinado nas primeiras horas após o nascimento, caso diagnosticada a necessidade.
Uma vez cronificada a doença, resta apenas acompanhamento contínuo para reduzir ou controlar a carga viral. Esse é um conceito muito próximo daquele utilizado no tratamento do HIV. ?Apesar de não se conseguir a cura da hepatite B crônica, a redução da carga viral se reverte positivamente na melhora da história natural da doença e na redução dos desfechos mais graves relacionados a ela?, comentou Raymundo Paraná.
O uso de medicamentos para impedir a replicação do vírus e diminuir a sua carga viral no paciente vem ganhando força no meio médico. ?O problema apresentado ultimamente é que muitos pacientes desenvolveram resistência às drogas tradicionalmente usadas, ou seja, o vírus não é mais combatido com a mesma eficácia, já que ele sofre mutações?, alertou Paraná. Porém, outros medicamentos estão surgindo, como o entrecavir (nome comercial Baraclude) produzido pelo laboratório Brystol-Myers Squibb, aprovado pela Anvisa e lançado em novembro.