O inverno chegou e é justamente na estação mais fria e seca do ano que há um aumento substancial da carga viral na atmosfera. A consequência disso é a proliferação de doenças de diversos alérgicas e respiratórias, especialmente nas crianças, que estão interagindo socialmente cada vez mais cedo.
As doenças típicas desta época desencadeiam uma prática que ano após ano gera grande preocupação entre os pediatras: a utilização desenfreada de antibióticos. Essa atitude, tomada muitas vezes sem conhecimento por parte dos pais, é a grande responsável pela chamada resistência bacteriana, que acaba comprometendo a eficácia dos antibióticos existentes e criando superbactérias.
De acordo com otorrinolaringologista Tania Sih, a principal indicação do uso de antibióticos na infância é para o tratamento da infecção de ouvido causada por bactérias.
Para a especialista, infelizmente, essa classe de medicamentos tem sido usada no tratamento das doenças causadas por vírus, “O problema é que não existe ação desses medicamentos contra os vírus causadores dos resfriados e de gripes”, alerta.
Conforme a médica, nem sempre uma amigdalite, por exemplo, necessita de um antibiótico, para definir a conduta adequada, o médico sempre deve analisar um conjunto de fatores para receitar esse tipo de medicamento. Com efeito, muitas vezes, o estágio da doença exigirá apenas um analgésico.
Uso consciente
Período seco favorece a incidência de diversas doenças que, erroneamente, são tratadas com antibióticos |
Visão semelhante possui o pediatra e professor de otorrinolaringologia Ricardo Neves Godinho. Segundo o especialista, o uso indiscriminado de antibióticos pode comprometer a eficácia dos mesmos em casos necessários e apropriados, prejudicando inclusive as futuras gerações.
Para o pediatra, os médicos precisam praticar a chamada “terapia da informação”, difundindo os malefícios do uso indiscriminado dos antibióticos. Godinho também ressalta que esse medicamento, de uma forma geral, é um recurso não renovável.
“Hoje, as pesquisas de novas formulações não são tão intensas, justamente porque a cultura da automedicação compromete a longevidade e eficácia do produto”, constata.
A indústria farmacêutica também está se mobilizando para discutir essa importante questão de saúde pública. Muitos encontros são promovidos para, justamente, discutir o uso consciente de antibióticos.
“A prescrição equivocada desses medicamentos para crianças é um problema sério e que deve ser evitado”, afirma o vice-presidente de Mercado da EMS, Waldir Eschberger Junior.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 50% dos antibióticos são usados sem prescrição médica. Só em 2009, a venda de antibióticos no Brasil movimentou R$ 1,6 bilhão, segundo relatório do IMS Health, principal auditoria do setor farmacêutico.
Microorganismos
“No âmbito da saúde pública, infecções comunitárias como amigdalites, faringites, pneumonias, infecções urinárias e de pele estão se tornando mais dificeis de serem tratadas”, reconhece a infectologista Thais Guimarães, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A determinação das mães ao querer resolver “rapidamente” o,s problemas de saúde dos filhos, serve para alimentar as estatísticas que apontam que cerca de 30% dos médicos receitam antibióticos pressionados pelos pais que insistem, geralmente por excesso de precaução, na prescrição desse tipo de medicamento. De acordo com especialistas, esse é um dos motivos que mais faz crescer a “antibioticoterapia”.
Segundo o infectologista Juvencio Furtado, a capacidade dos microorganismos, em especial, das bactérias se tornarem resistentes aos diversos antimicrobianos é reconhecida há décadas. O tema tem sido amplamente abordado em diversas publicações, pois apresenta grande impacto na morbidade, na mortalidade e nos custos associados à saúde. “A automedicação de antibióticos, que são vendidos em farmácias sem receita médica é uma das principais causas do cenário atual de infecções resistentes”, enfatiza o especiaklista. A recomendação da SBI é de que, ao sinal de sintomas de qualquer tipo de infecção, o paciente deve procurar o médico, pois só ele pode dar a orientação correta quanto ao tipo e ao tempo de uso dessa classe de medicamentos.
Os cientistas alertam que “a guerra contra as bactérias está longe de ser encerrar”. O ponto mais preocupante é que a proliferação de microorganismos resistentes aos antibióticos tem ocorrido em velocidade e frequência muito superiores ao ritmo de produção de novos medicamentos. Isso quer dizer que, tão logo surja um novo antibiótico, os microorganismos começam a desenvolver resistência a ele.
Dicas de prevenção
Muitos problemas nas crianças podem ser evitados com atitudes simples. Os médicos Tania Sih e Ricardo Godinho, autores do livro Cuidando dos Ouvidos, Nariz e Garganta das Crianças, repassam várias dicas que podem ajudar as crianças a não adoecerem.
Amamentação – seja no seio ou na mamadeira, a cabeça e o tronco da criança devem ficar mais elevados em relação ao plano horizontal (cerca de 45º), para evitar que o leite escorra para a porção posterior do nariz.
Chupetas – Utilize as chupetas ortodônticas, pois estas possuem um bico com formato mais semelhante ao do mamilo materno e são mais adequadas, pois permitem a elevação da ponta da língua na cavidade oral, estimulando a língua a uma deglutinação que não provoca alteração na arcada dentária.
Precauções no inverno – Evite aglomerações, especialmente em locais fechados; agasalhar as crianças adequadamente, oferecer uma dieta rica em frutas e sucos naturais para garantir uma boa hidratação, evitar ambientes com fumaça de cigarro e tentar manter a casa aquecida. Lembre-se da fórmula: casa saudável = família saudável.
Cuidados com o nariz – Importante para prevenir doenças respiratórias e ajudar no tratamento das rinites e sinusites, bem como nas gripes e resfriados. As crianças costumam chegam a produzir mais de um litro de secreção por dia no nariz. Por isso uma boa hidratação é fundamental. Usar soro fisiológico na limpeza é indicado.
Tosse – na tosse seca, os pais devem avaliar o ambiente, principalmente no quarto das crianças. Tapetes, falta de ventilação, cortinas, brinquedos de pelúcia, pó ou mofo geralmente desencadeiam tosse. Tosse, seguida de expectoração ou febre, ou tosse seca persistente, deve ser avaliada por um médico.
Alimentação e exercícios – Deve ser balanceada, rica em frutas e verduras. As vitaminas que as crianças precisam ingerir diariamente estão nestes alimentos. Além disso, é preciso incentivar a prática de esportes por parte das crianças.
Observação constante – Os pais devem ficar atentos ao comportamento dos filhos. Dificuldades na escola e hábito de aumentar demais o volume da televisão podem ser sinais de problemas na audição. É fundamental que os pais também conheçam a estrutura de berçários e creches, pois o ambiente e o contato com outras crianças também é uma fonte de transmissão de bactérias.