O ceratocone é uma deformação progressiva da córnea com piora da visão, que pode provocar forte abalo emocional se o médico não esclarecer todas as dúvidas que o paciente tem sobre a doença durante a consulta. Conforme a oftalmologista Luciane Moreira, a falta de esclarecimento traz proporções tão sérias que pessoas com a doença desistem de procurar ajuda médica, por acharem que o seu caso não tem tratamento, quando, na verdade, o tratamento do ceratocone pode ter uma boa correção óptica em todas as suas fases. No entanto, esse pânico, originado pelo desconhecimento da doença, faz com que muitos pacientes incorporem rotinas extremas no seu dia-a-dia, como caminhar de olhos fechados pela casa, acreditando que viver na escuridão será o seu fim.
A especialista explica que a córnea do portador de ceratocone tem o formato de um cone. Esta deformidade provoca visão borrada, irritações, redução no brilho da córnea, fazendo com que a pessoa tenha necessidade de apertar os olhos para enxergar e, assim, faz diminuir sua acuidade visual. ?Sem o tratamento adequado, o portador sofre perda sistemática da qualidade da visão, que poderá influenciar de forma importante sua vida particular e profissional?, adverte a médica.
Campanhas de esclarecimento
Após acompanhar alguns dramas relatados pelos portadores de ceratocone, a oftalmologista, responsável pela Unidade de Lentes de Contato do Hospital de Olhos do Paraná, decidiu estudar os componentes psicossociais relacionados à doença e transformá-los em tese de doutorado, que foi defendida no início de junho, na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. O trabalho de pesquisa teve início há cerca de dois anos, a partir da aplicação de questionários entre pessoas portadoras das várias limitações impostas pelo ceratocone; e como elas passaram a enxergar o mundo após o tratamento bem sucedido.
Os relatos dos pacientes deixaram evidente, segundo Luciane Moreira, que é preciso investir em campanhas de esclarecimento para impedir que muitas pessoas façam da internet o ?consultório particular? e procurem auxílio dos especialistas ao invés de lerem reportagens sem conteúdo didático ou entrevistas com informações distorcidas. A médica salienta que o paciente vítima de ceratocone deve ser tratado em todas as fases da doença.
Anel intracorneano
Luciane Moreira explica que as lentes de contato rígidas permeáveis são utilizadas por 80% dos portadores de ceratocone atendidos na unidade, sem necessidade de outro procedimento. Mas, dependendo de cada caso, acrescenta, existem outras alternativas igualmente eficazes para correção óptica, desde os anéis intra-estromais e os transplantes de córnea.
A cirurgia de implante do anel intracorneano (ou anel corneano intra-estromal) é considerada atualmente como um dos maiores avanços da medicina para tratar portadores de ceratocone que não se adaptam às lentes de contato ou não têm a visão comprometida a ponto de necessitarem do transplante. O procedimento consiste na implantação de um anel na córnea defeituosa com a função de substituir o suporte de estabilização natural.
Apesar de complexa, a técnica possibilita a recuperação pós-operatória rápida e a anestesia é realizada apenas com a utilização de colírios. A melhora da acuidade visual, para a maioria dos pacientes, ocorre no primeiro dia após a cirurgia.
A doença
O ceratocone, uma doença hereditária que provoca uma deformidade da córnea, causa dificuldade de foco e comprometimento da capacidade de visão. Conforme dados das secretarias de saúde estaduais, a enfermidade atinge perto de 50% dos pacientes da fila de espera para transplante de córnea pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisas chegam a relatar de dois a seis portadores da doença a cada mil habitantes. A doença começa a dar seus primeiros sinais no final da adolescência ou início da fase adulta, prejudicando sobremaneira a capacidade produtiva dos pacientes, que percebem as imagens distorcidas.
Muitos pacientes desconhecem o distúrbio, pois seus sintomas se confundem com os da miopia e do astigmatismo. Em muitos casos, a doença pode evoluir rapidamente, podendo afetar gravemente e limitar as pessoas perante as tarefas normais do dia-a-dia. Em outros casos, o ceratocone pode levar anos para se desenvolver.