Só de ouvir falar em infecção hospitalar, muitos pacientes sentem arrepios. Pelo temor, até parece que esta silenciosa e temida inimiga permanece à espreita nos corredores dos centros de saúde, pronta para causar estrago. Na verdade, a principal causa desse tipo de infecção chega ao hospital ou à clínica junto com o paciente: é a sua própria flora bacteriana que se desequilibra pelo estado de saúde, cujo mecanismo de defesa contra infecções fica debilitado.
De acordo com a infectologista e epidemiologista Marta Francisca de Fátima Fragoso, chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas da UFPR e do Hospital Vita Batel, estão mais propensos à infecção pacientes submetidos a procedimentos invasivos ou que utilizam cateteres vasculares ou urinários. ?O processo infeccioso está ligado a fatores inerentes a cada pessoa isoladamente, afetando pacientes imunocomprometidos, por meio de doenças graves, que passam por cirurgias de maior porte ou aqueles sujeitos à quimioterapia?, ressalta.
Diretora médica do laboratório de microbiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, a infectologista Flávia Rossi comenta que 70% das infecções hospitalares têm caráter endógeno (ocasionado por fatores internos do organismo) e o restante é provocada em hospitais. Mesmo assim, conforme a especialista, isso não implica que o relaxamento na assepsia e demais cuidados sejam ignorados dentro dos hospitais.
Comissão de controle
De acordo com a infectologista, as bactérias que causam as infecções hospitalares são diferentes das que costumam causar infecção na comunidade. Flávia Rossi cita o estafilococos aureus e o coagulase negativos como as mais preocupantes, pois vêm se tornando resistentes progressivamente a um número cada vez maior de antibióticos. As bactérias que desenvolvem essa resistência são rápidas e inteligentes, como observa o especialista da Universidade Federal de São Paulo Eduardo Medeiros. ?Elas fazem com que os pontos de ação dos antibióticos em si próprias se modifiquem e possuem a capacidade de produzir enzimas capazes de neutralizar o efeito dos antibióticos?, destaca.
Marta Fragoso atesta que alcançar índice zero de infecção hospitalar é praticamente impossível, visto que essas bactérias também existem fora do ambiente hospitalar. ?Elas podem e devem ser controladas?, realça. Para isso é que uma lei obriga que clínicas e hospitais mantenham uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Para a coordenadora, uma das maiores dificuldades encontradas é manter um pessoal capacitado, por meio de um treinamento continuado de toda a equipe e um sistema interno de auditoria.
*Nosso repórter viajou a convite do laboratório Wyeth.
Mitos e verdades
MITOS
* Em toda internação ou cirurgia, o paciente vai ?pegar? infecção hospitalar.
* Toda infecção hospitalar é culpa do hospital.
* Infecção hospitalar é causada por erro médico.
* Lavar as mãos ajuda a combater infecção hospitalar.
* Todas as viroses precisam ser tratadas com antibiótico.
* Todos pacientes, vítimas de infecção hospitalar, morrem.
* Infecção hospitalar não tem cura.
* Infecção hospitalar pode ser eliminada por completo.
VERDADES
* O risco existe, mas não pode ser generalizado.
* A infecção hospitalar é geralmente provocada pela própria flora bacteriana do paciente, cujo mecanismo de defesa contra infecções fica debilitado.
* A infecção hospitalar depende de uma série de fatores, como a atitude do médico, as condições do hospital, a qualidade do material utilizado e o organismo do paciente.
* O hábito de lavar as mãos é um procedimento fundamental de higiene, mas como medida isolada não combate a infecção hospitalar.
* Normalmente, os antibióticos não são eficazes para o tratamento de viroses. Ao contrário, o uso inadequado pode fazer com que as bactérias se tornem ainda mais resistentes.
* No Brasil, estima-se que entre 6,5% e 15% dos pacientes internados contraem infecção e que entre 50 mil e 100 mil óbitos anuais estejam associados a sua ocorrência.
* Alguns antibióticos são eficazes, mas o sucesso do tratamento depende do estado geral do paciente e de seu grau de resistência bacteriana.
* A infecção hospitalar pode ser melhor controlada, mas não eliminada por completo, uma vez que as bactérias também existem fora do ambiente hospitalar.