Todas as mães sabem que infecções sucessivas de garganta são praticamente comuns a todas as crianças. Porém, se essas faringites ou amigdalites não forem tratadas corretamente na infância, podem trazer conseqüências sérias ao coração na fase adulta. Segundo Edgard Ferreira Júnior, cardiologista e chefe do setor de emergência do Hospital São Camilo, isso ocorre porque as faringites de repetição podem levar a uma complicação grave, chamada de febre reumática. ?Principalmente nos países subdesenvolvidos, em que as crianças com infecção na garganta não recebem diagnóstico nem tratamento adequado?, diz o médico.
De acordo com Rubens Darwich, cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini, normalmente infecções comuns provocam febre e dor de garganta e têm duração de uma semana. Algumas dessas infecções se complicam com surtos de febre reumática, que surgem uma ou duas semanas após o surgimento da doença, provocando febre e dor nas articulações. ?Essas complicações ocorrem até os 11 anos de idade, em média?, esclarece Darwich, acrescentando que o surto reumático pode causar manchas no corpo, coréias (movimentos incontroláveis que parecem tremores), ou trazer complicações cardiológicas.
O especialista explica que, quando a febre reumática ataca o coração, pode deixar lesões permanentes nas válvulas cardíacas. Só que isso acontece, de acordo com Darwich, entre 10 e 15 anos depois. ?Em muitas pessoas essa enfermidade, por vezes, só é descoberta perto dos 40 anos, quando a lesão cardíaca pode já ter produzido uma insuficiência?, admite. De acordo com Ferreira Júnior, o diagnóstico nesses casos é feito com exames clínicos e laboratoriais, e confirmado por métodos mais específicos como o ecocardiograma. ?E, dependendo da gravidade da lesão, o tratamento mais efetivo é mesmo a cirurgia?, alerta o cardiologista.
Cuidados básicos de saúde
De acordo com especialistas, o devido tratamento das infecções da garganta, com uso adequado de medicamentos, bem como a prevenção de recidivas, são eficazes para prevenir a febre reumática. Essas medidas rotineiramente simples podem fazer com que as chances de as válvulas cardíacas serem lesadas se tornem bem menores. ?O importante, como sempre, é a prevenção?, ressalta Darwich. Por isso ele recomenda que pediatras e otorrinolaringologistas sejam consultados sem demora, quando essas infecções teimam em se suceder.
Nos casos em que a criança já teve febre reumática, algumas medidas mais agressivas de prevenção podem ser necessárias, como o uso contínuo de antibióticos para evitar novas infecções de garganta. O acompanhamento regular com especialistas, inclusive o cardiologista, é indispensável para esses pequenos pacientes. Rubens Darwich comenta que nos países ricos da América do Norte e Europa a febre reumática praticamente deixou de existir. ?A melhoria das condições de habitação e de saneamento, além do acesso aos cuidados básicos de saúde, são a forma mais segura de prevenção dessa grave doença?, completou.