A pessoa que sofre de incontinência urinária (IU) e não trata vive uma vida pela metade. Para manter uma vida social normal precisa se arriscar a passar algum aperto até encontrar um banheiro por perto. Ou, então, se privar de passeios, shows ou outros programas que demandem mais tempo. Tudo para não ter que passar pelo incômodo de sentir uma vontade incontrolável de fazer xixi. Os números não são oficiais, mas estima-se que afete cerca de 12 milhões de brasileiros.
O desconforto é tanto, que eles não querem nem ouvir falar, e o que é pior: a maioria não procura ajuda médica por acreditar que isso é ?coisa da idade?. Sem contar o constrangimento e o tabu que o assunto aflige. A maioria das vítimas, no entanto, sofre desnecessariamente. Com os novos tratamentos, a incontinência urinária pode ser curada ou, pelo menos, administrada de maneira eficiente. ?Pelo menos 85% dos que sofrem de incontinência podem ser totalmente curados?, garante o urologista radicado na Holanda, Bary Berghmans. O especialista esteve em Curitiba, participando do lançamento de uma campanha nacional patrocinada pela Amil, com o apoio da Associação Brasileira de Ajuda e Formação sobre Incontinência Urinária (Abafi), que visa desmistificar e orientar sobre a IU no Brasil.
Conforme Maura Seleme, presidente da Abafi, existe um programa de exercícios que ajuda a fortalecer os músculos do assoalho pélvico, que revestem a parte inferior do osso da bacia, região onde se localizam os órgãos genitais e a bexiga. Nas mulheres, em decorrência de lesões produzidas em virtude dos partos, é comum o mau funcionamento (disfunção) desses músculos. Esses exercícios ajudam a controlar e até curar a incontinência. ?Até mesmo as mulheres de mais idade, que sofrem a mais tempo da doença, podem se beneficiar com esse tipo de tratamento?, ressalta.
Esforço ou urgência
A causa da incontinência pode estar tanto na bexiga ou no músculo que a control,a quanto na uretra, canal encarregado de expelir a urina. Em outros casos, pode estar no próprio assoalho pélvico, uretra (nas mulheres), entre outros. Berghmans explica que a IU é dividida em dois tipos: por esforço ou de urgência. A incontinência por esforço ocorre quase sempre em mulheres, num momento de esforço físico: tosse, espirros, riso, ao levantar peso ou, mesmo, ao subir escadas. ?Geralmente, em decorrência do enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico, fazendo com que qualquer pressão exercida sobre a bexiga faça a urina escapar?, esclarece. Já a incontinência de urgência, em ambos os sexos, acontece pela incapacidade de prender a urina.
Dependendo do caso, os especialistas recomendam que os exercícios sejam associados a recursos, entre eles, a eletroestimulação (emissões de ondas que estimulam a musculatura), o uso de modernos medicamentos e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos. ?Os recursos são inúmeros, basta o(a) paciente estar disposto(a) a se tratar?, lembra Maura Seleme, salientando que, em qualquer um deles, quanto mais precocemente for iniciada a fisioterapia, melhor será o resultado, independente de a IU ser leve, moderada ou severa.
Para o tratamento ser bem-sucedido é necessária uma avaliação bem minuciosa. A fisioterapeuta Cibele Maróstica explica que a atuação fisioterapêutica se dá pela reeducação do assoalho pélvico, que tem como função melhorar a força de contração das fibras musculares. ?Os exercícios de reforço muscular podem ajudar a fortalecer os músculos necessários para manter a continência da bexiga?, salienta. Por isso, quem sofre da doença e não procura ajuda, muitas vezes acaba se isolando, com vergonha do problema, que na maioria dos casos é de fácil solução.
INFOGRÁFICO
A Sociedade Brasileira de Urologia classifica as seguintes situações como normais:
* A bexiga do adulto consegue armazenar cerca de dois copos de urina antes de precisar esvaziá-la. É normal urinar até sete vezes durante o dia e, às vezes, uma vez durante a noite.
* A urina deve sair com um jato forte e imediato, sem desconforto ou necessidade de esforço, oferecendo uma sensação de esvaziamento completo ao terminar.
* Qualquer perda de urina é anormal. As pessoas de mais idade podem ter a necessidade de urinar com maior freqüência porque a bexiga consegue armazenar volumes menores.
ALGUNS CONSELHOS
* Procure beber entre seis e oito copos de líquidos por dia.
* Evite cafeína e álcool.
* Não tenha pressa ao urinar e espere a bexiga esvaziar completamente.
* Mantenha bons hábitos intestinais.
* Controle o peso, pois o excesso representa para os músculos do períneo uma sobrecarga que pode prejudicar seus reflexos urinários.
* Longos períodos sem urinar podem significar que você está ingerindo pouco líquido e aumentam o risco de infecções urinárias.
* A ingestão de grande volume de líquidos em pouco tempo faz a bexiga encher mais depressa e causa a urgência para urinar.
