O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que haverá quase um milhão de novos casos de câncer em 2008 e 2009 – 466 mil a cada ano. A expectativa é a de que haja um aumento na incidência de todos os tipos de tumores, com exceção dos localizados no estômago e no colo do útero. O problema é que, enquanto nos países desenvolvidos a incidência aumenta e a mortalidade diminui, no Brasil a ocorrência e a letalidade estão aumentando. No ano passado, 130 mil pacientes morreram por causa da doença.
“A palavra-chave é acesso. A população tem que ter acesso ao sistema de saúde, às políticas de prevenção e ao diagnóstico precoce. Alguns medicamentos e tratamentos que prometem ser revolucionários ainda não são fornecidos no sistema público porque estão em fase de estudo”, disse o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini, que apresentou nesta segunda-feira (26) a Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil 2008, durante o Congresso Internacional de Controle de Câncer.
Os gastos do governo federal na assistência oncológica de alta complexidade dobraram em cinco anos. Segundo o Inca, entre 2000 e 2005 os gastos com o tratamento contra o câncer subiram 103%, atingindo R$ 1,2 bilhão por ano. “O Inca gasta 14% do seu orçamento com um único medicamento, que é fundamental no tratamento de um pequeno grupo de pacientes”, revelou Santini. Estudo da Unimed de Belo Horizonte, que também será apresentado no congresso, mostra que os custos do paciente com câncer em estágio avançado é oito vezes maior do que o diagnosticado na fase inicial.
Envelhecimento
“O câncer é uma doença multifatorial, mas o envelhecimento da população e a maior exposição a fatores de risco aumentam a incidência”, explicou Santini. Segundo ele, os tumores malignos já são a segunda maior causa de morte dos brasileiros – a primeira são as doenças cardiovasculares. A tendência é a de que com o aumento da expectativa de vida da população brasileira, seja a principal causa, como já acontece em alguns países europeus, afirmou.
O mapa regional de incidência de tumores mostra bem as diferenças regionais. Os Estados do Norte e Nordeste têm as menores incidências. “O câncer aumenta à medida em que as doenças infecciosas diminuem”, analisa o coordenador de Prevenção e Vigilância do Inca, Claudio Noronha.
Pela primeira vez, a estimativa do número de casos de câncer no colo do útero caiu. “Essa redução aconteceu principalmente no Sul e Sudeste, o que nos leva a crer que foi resultado das campanhas de prevenção e diagnóstico precoce”, afirmou Noronha. Também espera-se uma diminuição do número de tumores no pulmão de homens jovens, reflexo da política antitabagista do governo brasileiro elogiada pela Organização Mundial de Saúde. O câncer de estômago – primeira causa de morte por câncer há algumas décadas – hoje está em terceiro lugar em incidência nos homens e quinto entre as mulheres.