Começa com um remedinho para pressão, depois com um comprimido para circulação e, quando o idoso se dá conta, já está com as prateleiras de casa lotadas de caixinhas e frascos de nomes complicados e bulas ininteligíveis. Geralmente é assim que tem início o processo de dependência química entre os representantes da terceira idade.
De acordo com as autoras Maria Laís Guidi e Maria Regina Moreira, no livro Rejuvenescer a Velhice, da editora Universidade de Brasília, com o envelhecimento observa-se uma maior proximidade entre a dose de remédios considerada terapêutica e o limiar tóxico. “As complicações devido ao uso de medicamentos estão incluídas entre os cinco maiores problemas de saúde do idoso”, alertam.
Além do arsenal de medicamentos receitados pelos diversos especialistas, os médicos geriatras também são obrigados a se preocupar com receitas e chás caseiros, aparentemente inofensivos, que alguns idosos costumam tomar por conta própria. “A grande maioria dos pacientes com idade acima de 65 anos atendidos nos consultórios de geriatria de todo País fazem automedicação”, estima o geriatra Mauro Roberto Piovezan. “É uma maneira de eles se sentirem independentes de médicos, provarem aos familiares que são pessoas capazes e cientes das próprias decisões, e buscarem soluções para os próprios problemas”.
Apesar de apenas os medicamentos psicotrópicos, como os calmantes, causarem dependência orgânica, outros remédios quando usados ao mesmo tempo podem apresentar efeitos antagônicos ou potencializados e causar a chamada “dependência psicológica”.
É o caso dos antidepressivos, diuréticos, remédios para baixar a pressão, combater problemas estomacais e labirintite. “São os remedinhos sagrados, que os idosos acham que não podem viver sem”, afirma Mauro. “É muito difícil vencer a dependência psicológica. Sem os medicamentos, alguns pacientes passam a sofrer com a síndrome de abstinência, que causa insônia, agitação, ansiedade, depressão, irritabilidade e nervosismo”, explica.
Uma donadecasa de 76 anos, que não quis se identificar, conta que chega a usar nove medicamentos diferentes por dia, entre colírios, chás, soníferos, remédios para controlar a pressão, para o coração e calmantes. Apesar de ganhar alguns medicamentos em postos de saúde da Prefeitura de Curitiba, ela gasta cerca de R$ 85 mensais em farmácias. “É bastante difícil, pois um problema gera outro e a quantidade de remédios sempre vai aumentando”, declara Eunice, que diz não se tratar com geriatra e confessa sempre ouvir conselhos de amigos e vizinhos sobre chás e simpatias. “Penso que, se fez bem para uma pessoa, pode fazer bem para mim também. Acho que se não ajudar, mal também não vai fazer”.
Prevenção do problema
Segundo Piovezan, livrar os idosos da dependência é bastante difícil, pois normalmente os remédios entram para suprir uma carência afetiva ou falta de atividade. “Os medicamentos devem ser retirados bem lentamente e sempre sob orientação profissional. É importante que o idoso entenda que não precisa de determinado tipo de remédio e que aquele comprimido que ele acha que faz bem, só aumenta seus males”.
Para amenizar o problema, o papel dos familiares é fundamental. O médico alerta que filhos e netos devem sempre monitorar o paciente idoso, indo com ele às consultas médicas, controlando os horários de tomar os remédios, lendo atentamente as bulas, evitando que eles estoquem medicamentos em casa e verificando prazos de validade. “Às vezes, por problemas de memória, os idosos esquecem de tomar os remédios ou os tomam mais de uma vez”, afirma o geriatra. “Para evitar tais situações, é fundamental que os parentes estejam sempre atentos e disponíveis”.
Exercícios físicos, uma ótima opção
Entre os representantes da terceira idade, a manutenção da saúde está diretamente ligada à qualidade de vida. Em todo mundo, muitos idosos conseguem se livrar das doenças e dar adeus aos estoques de medicamentos através da prática constante de exercícios físicos.
Os exercícios mais indicados às pessoas de mais idade costumam ser a yoga, que proporciona alongamento muscular e relaxamento através de exercícios de respiração, e a hidroginástica, ideal para evitar a osteoporose. Alguns centros desportivos que oferecem programas especiais de condicionamento físico aos idosos, como o Sesc Água Verde (Sesc Terceira Idade), em Curitiba, disponibilizam exercícios de fisioterapia preventiva, que melhoram a flexibilidade, lateralidade e coordenação motora dos praticantes.
Outra modalidade também bastante procurada costuma ser a dança. “No Sesc, a dança, principalmente a de salão, costuma ser a modalidade mais procurada pelos idosos”, comenta o professor de Educação Física e diretor da unidade do Sesc Água Verde, Marcus Vinícius de Mello. “Além de trabalhar o corpo, trazer benefícios cardiorrespiratórios e exercitar a memória, a dança ajuda na sociabilização. Ela proporciona contato físico e evita que a pessoa se sinta sozinha e deprimida”.
Musculação
Porém, o que nos últimos anos vem conquistando cada vez mais a simpatia dos idosos é a musculação. Até há pouco tempo, a modalidade era indicada apenas aos jovens. Hoje, sabe-se que ela traz uma série de benefícios quando também praticada na terceira idade. Em algumas clínicas médicas e academias especializadas da capital já é comum encontrar pessoas com sessenta, setenta e até mais idade puxando pesos e levantando barras de ferro.
“Faço musculação três vezes por semana e me sinto bastante disposto a realizar as atividades cotidianas”, conta o aposentado Téo Francisco Nuncke, de 62 anos. “Depois que comecei a fazer os exercícios, minha musculatura se tornou mais rígida e minha postura melhorou. Não tenho pressão alta, nem diabetes e associo isso à pratica constante da musculação”.
Segundo o diretor do Instituto Lyon de Curitiba, Antônio Augusto de Arruda Silveira Júnior, que é cardiologista e geriatra, a partir dos 30 anos de idade, as pessoas perdem, a cada década, 10% da força física. Sendo assim, quando chegam aos 60 anos, possuem apenas 70% de suas funções musculares normais. “Isso faz com que as pessoas percam a capacidade de realizar normalmente suas atividades cotidianas. Muitos idosos não conseguem, por exemplo, se levantar de uma cadeira sem o apoio de algo ou a ajuda de alguém, pois não possuem força muscular suficiente para isso”, afirma. A musculação contribui para que as pessoas recuperem parte dessa força perdida.
A maioria dos profissionais de geriatria e Educação Física recomenda que os idosos realizem atividades desportivas em academias especialmente voltadas a eles. Assim, têm todas as suas necessidades atendidas, mais facilidade para fazer amigos e se sentem mais à vontade. (CV)
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