Hipertensão: Primeiro e último aviso

"O problema da hipertensão arterial é que não dói, pois se ao menos doesse, as pessoas procurariam o médico ainda numa fase precoce da doença." A afirmação do cardiologista Paulo Roberto Brofman, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, explica por que a hipertensão arterial é considerada uma doença silenciosa. Muitas vezes o primeiro aviso vem com o acidente vascular cerebral (AVC). Por isso, o especialista sublinha a importância de se desenvolver campanhas de sensibilização e prevenção da doença. Uma das opções, segundo Brofman, seria a difusão de uma educação alimentar saudável, uma vez que os erros alimentares e o sedentarismo são os principais fatores desencadeantes da doença.

Sem estatísticas oficiais, estima-se que o País tenha perto de 30 milhões de hipertensos. Com esse enorme contingente de vítimas, a doença deve ser tratada como uma das grandes vilãs da saúde pública. Como se não bastasse, milhares de pessoas morrem todos os anos em conseqüência da doença, sobretudo de derrame e ataques cardíacos. Por isso, uma medida básica que deve fazer parte da rotina de grande parte dos brasileiros é o controle da pressão arterial.

Causas indefinidas

Perder peso, evitar o cigarro, diminuir o consumo de sal e aumentar a ingestão de frutas, reduzir as gorduras e praticar atividade física (30 minutos de caminhada por dia é o bastante) contribuem para evitar ou atenuar a hipertensão. Para quem não conseguir controlar a pressão com essas medidas, a oferta de medicamentos anti-hipertensivos é grande e eficaz, reconhece Brofman. Uma pitada de cada um desses fatores, portanto, forma um ciclo vicioso que faz com que o coração precise da ajuda de medicamentos para conseguir resistir.

Não há só uma causa definida para a pressão alta, com vários fatores influindo em sua ocorrência. O primeiro é a hereditariedade. Estatisticamente, filhos de pais hipertensos têm mais chances de desenvolver a doença, sendo, portanto, um grupo que precisa estar ainda mais atento. O excesso de peso também se relaciona com o aumento da pressão arterial, assim como o abuso no uso do sal. Nos idosos, o problema é agravado pela arteriosclerose, que, ao endurecer as paredes dos vasos arteriais, reduz a capacidade de acomodação do sangue e acaba por determinar o aumento na pressão.

Apesar de poder afetar uma pessoa sem que ela saiba da sua existência, há, contudo, várias pistas, além da hereditariedade, que podem ajudar no seu diagnóstico. Dor de cabeça na nuca, principalmente ao acordar, visão de pontos luminosos e história de sangramento nasal sugerem a existência de pressão alta. A primeira medida para se controlar a hipertensão é procurar a orientação de um médico.

Sem dor, sem tratamento

Não existe um levantamento oficial, mas estima-se que metade dos indivíduos hipertensos desiste do tratamento ao fim do primeiro ano de medicação, reduzindo a eficácia do controle. A hipertensão arterial é assintomática, ou seja, os seus sintomas são imperceptíveis e, por isso, raramente o doente aceita e cumpre à risca as orientações recomendadas pelos médicos. De acordo com especialistas, uma das causas do abandono do tratamento é a necessidade de cumprir uma rotina rígida que inclui a ingestão de medicamentos específicos e uma mudança muitas vezes radical no estilo de vida da pessoa. Por isso, se torna difícil controlar a adesão dos pacientes, que não retornam assiduamente ao consultório. Assim, fazer as pessoas com pressão alta continuar com uma terapêutica de longo prazo é a grande dificuldade do tratamento da hipertensão arterial. Os especialistas são unânimes em afirmar que, se causasse dor, pouca gente deixaria o tratamento da hipertensão em segundo plano.

No Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), uma grande parte da população não considera fundamental medir a pressão arterial. Dados não oficiais estimam que o Brasil tenha cerca de 15 milhões de hipertensos. A doença cardíaca é a principal causa de morte no País, com índices superiores à soma das vítimas de cânceres ou de acidentes automobilísticos, segundos e terceiros nessa estatística sombria. "Tratar a hipertensão como um dos maiores problemas de saúde pública deve ser, portanto, uma das prioridades dos governos em todas as suas esferas", enfatiza o cardiologista Marcos Pereira.

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