No Brasil, há aproximadamente 45 mil casos de hanseníase diagnosticados. Destes, mais de 1.500 estão na região Sul, conforme dados do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
De acordo com o médico da família, Cleo Borges, ainda existem pontos que dificultam o tratamento, especialmente no setor público, como acessibilidade, falta de capacitação dos profissionais, a falsa ideia de que a doença “acabou” em algumas regiões do País.
Sem a devida atenção, o especialista reconhece que a hanseníase se torna uma doença negligenciada pelos gestores municipais, com pouco investimento e falta de atenção devida.
“Este cenário contribui para uma baixa adesão ao tratamento, por parte do próprio paciente, que enfrenta ainda o preconceito da doença”, ressalta o especialista. A doença é quase sempre atrelada às coisas ruins, morte, epidemia, exclusão e pobreza.
Não hereditária
No enfrentamento da hanseníase, os médicos atuam agentes promotores de qualidade de vida ao paciente e na detecção precoce da doença. “É importante, o diagnóstico precoce de qualquer alteração dermatológica e, nos casos confirmados utiliza-se uma ferramenta de grande importância: o exame dos contactantes”.
Borges ressalta a necessidade promover ações diárias e vigilância contínua por meio de um programa de trabalho anual que contemple o diagnóstico de novos casos e o término do tratamento dos já existentes.
No passado, não havia tratamento e os doentes eram isolados. Hoje, porém, a doença é bem conhecida. Pode ser tratada e curada. O tratamento é longo, mas leva à cura.
A doença, que não é hereditária, só se transmite por meio da respiração de uma pessoa infectada que esteja eliminando o agente causador – o bacilo de Hansen – pelas vias respiratórias.
O tratamento no Brasil é totalmente gratuito. O País é o segundo no ranking com a maior incidência de casos, perdendo apenas para a Índia. “De acordo com alguns estudos, a concentração dos casos de hanseníase ocorre em áreas mais pobres e superpopulosas”, diz o dermatologista Maurício Shigueru Sato.
Inicialmente, a pessoa infectada apresenta lesões de pele, como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas com perda de sensibilidade no local, que podem aparecer em qualquer parte do corpo, com maior frequência no rosto, orelhas, braços, nádegas, pernas, costas e mucosa nasal.
Valorizar os sinais
Quando não é tratada no início, ocorrem problemas nos nervos, deixando-os engrossados e doloridos, diminuindo a sensibilidade na área afetada. “Essas lesões são responsáveis pelas incapacidades e deformidades características da doença”, esclarece o médico, salientando que, por ser uma doença crônica e os seus sintomas serem confundidos com os de outras doenças, a demora no diagnóstico é frequente e prejudica o tratamento.
Isso acontece porque o paciente que apresenta uma mancha na pele não valoriza o problema, demorando a procurar o auxílio especializado de um dermatologista. “Muitas vezes, ele acredita que se trata de algum tipo de micose”, explica o médico.
A estatística sobre a doença no Brasil se mantém alta, já que um bom número de portadores pode transmitir a doença sem saber. De acordo com os especialistas, o diagnóstico feito no início ajuda a cortar a cadeia de transmissão da doença e favorece o tratamento.
Além disso, ao contrário do que se imagina, o paciente em tratamento pode conviver, com a família, no trabalho e na sociedade, sem qualquer restrição. Atualmente, os tratamentos contam com o apoio de equipes multidisciplinares que incluem médicos, psicólogos e assistentes sociais.
A doença
A hanseníase é causada pelo bacilo de Hansen (médico norueguês que o descobriu em 1673), um parente do agente causador da tuberculose. Ela pode afetar os nervos periféricos, que ligam o sistema nervoso central a diversos órgãos, internos e externos, a pele, a mucosa do trato superior, os olhos e outras estruturas.
Começa com uma ou mais manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele, em qualquer parte do corpo. Em cima dessas manchas, a pele fica com sensibilidade diminuída ou sem sentir calor, dor ou o toque. Na maioria das vezes, as manchas nem são notadas, pois não coçam, não doem ou incomodam.
“As manifestações clínicas da hanseníase são resultantes de uma resposta do sistema imunológico à invasão do bacilo que combate a expansão do bacilo, mas destrói os tecidos e as áreas atingidas”, explica a dermatologista Ewalda Stahlke.
O período de incubação, que vai do momento do contato até o aparecimento dos primeiros sintomas é de cinco anos. A transmissão se dá diretamente de pessoa para pessoa, através da vias aéreas superiores, no convívio íntimo e prolongado da pessoa sadia com o doente da forma multibacilar não tratado. Para diagnosticar a doença é feito um exame clínico e uma pesquisa de bacilos na linfa da pele, além de uma biópsia, se necessário.