Aumenta o número de mulheres que procuram um caminho mais natural para dar à luz. Hoje, há grávidas que fazem questão de ter o bebê por parto normal. Muitas delas já vão aos consultórios médicos exigindo o procedimento. Segundo o obstetra Eduardo Egídio de Oliveira, a maioria das mulheres, cerca de 70% a 80%, podem ter o filho por meio do parto natural. Mas em alguns casos como mulheres hipertensas ou posição irregular do feto, mesmo que a mãe queira, não é possível ter o bebê naturalmente.
Para a vendedora Adriane Bento dos Santos, de 22 anos, que está grávida do seu quarto filho e fez duas cesáreas e um parto normal, a vantagem de ter um filho sem realizar uma cirurgia é maravilhosa, principalmente pela recuperação rápida. Além disso, segundo ela, é melhor sentir a dor somente na hora do parto do que nos dias seguintes.
Já a auxiliar de restaurante Rosane Fátima Oliveira, de 30 anos, que teve o primeiro filho por meio de parto normal, afirma que a temida dor que acreditava sentir na hora do parto a surpreendeu. “Não senti quase nada. Quando cheguei no hospital, meu filho já estava quase na minha mão. Se puder, com certeza, vou ter meu próximo filho de forma natural”, afirma.
Império
Até pouco tempo atrás, era difícil imaginar que o império do parto cirúrgico pudesse ser abalado por essa pequena, mas significativa, mudança na atitude das mulheres. Afinal, nos últimos 20 anos, as estatísticas garantiram ao Brasil um lugar entre os campeões mundiais de cesáreas, ao lado de Chile, México e Argentina. Nossos índices ainda mostram que, todos os anos, milhares de mulheres e bebês correm riscos desnecessários em cirurgias igualmente desnecessárias. Não faltam, no entanto, sinais de que essa tendência vem sendo lentamente revertida, principalmente, através de campanhas intensivas do governo orientando as mães sobre as vantagens do parto natural.
Outro indicador de que houve um importante aumento na demanda pelo parto normal está nas maternidades. O Hospital e Maternidade Victor Ferreira do Amaral, considerado referência em parto normal em Curitiba, registrou ano passado 1.352 procedimentos dessa forma. Atualmente, por mês, são feitos aproximadamente 200 partos -apenas 30% são cesáreas.
Segundo o obstetra e diretor do hospital, José Soria Arrabal, as vantagens do parto normal são a recuperação rápida e o custo. Hoje, é possível fazer um parto normal, dependendo do caso, até em bebes prematuros que estejam na barriga da mãe acima de 34 semanas”, acrescenta Arrabal.
Programa
Em 1999 foi lançado na capital paranaense o programa de assistência a gestantes, intitulado Mãe Curitibana. O objetivo principal era abaixar o índice de mortalidade infantil. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em quatro anos, o índice de 16 óbitos para cada mil bebês nascidos caiu para 11,8 mortes no ano de 2002. Até 2005, a meta é ficar abaixo de dez casos, o que igualaria Curitiba a indicadores encontrados em países europeus.
Segundo Edvin Javier Boza, coordenador do programa Mãe Curitibana, aproximadamente 97% das pacientes assistidas pelo SUS na capital paranaense estão cobertas pelo programa, que inclui transporte ao hospital na hora do parto e todo o planejamento pré-natal, com exames de diabetes, HIV, toxoplasmo e acompanhamento psicológico. Além disso, ele afirma, que as mulheres também podem fazer uma visita antecipada ao hospital onde darão a luz, para conhecer melhor o local e se sentir mais confortável no ambiente.
Após a implantação do programa, além da diminuição nos índices de mortalidade infantil, a materna também caiu. De 14 óbitos para cada grupo de 100 mil partos em 2001, a SMS registrou sete casos em 2002 e dois casos em até o final de junho de 2003. A média nacional chega a 21 óbitos para cada grupo de 100 mil partos. O programa desde a criação já atendeu mais de 51 mil mulheres.