Genéricos nem sempre são |
O alto custo e a grande quantidade de medicamentos encurtam a renda dos idosos todos os meses. Eles vivem um intenso dilema: mesmo que o orçamento familiar não seja suficiente, dão um jeito de conseguir o remédio, pois a falta dele pode resultar em complicações na saúde. Alguns não têm a mesma sorte e acabam não adquirindo o medicamento, passando a correr riscos. Segundo os médicos, a solução é racionalizar a quantidade de remédios prescritos.
Para o médico geriatra Rodolfo Pedrão, do Hospital Vita, o bom senso entre os vários profissionais que cuidam do idoso pode amenizar a angústia da compra de remédios caros e em grandes quantidades. A maioria dos velhinhos se consulta com vários médicos, pois é grande a diversidade de problemas de saúde nessa fase da vida. Como cada um prescreve o que é necessário em sua área, passa a existir um acúmulo de recomendações, que nem sempre o idoso consegue dar conta. "Mesmo que a pessoa tenha condições, a racionalização necessita ser aplicada. Cada médico passa a sua lista de medicamentos. Com a evolução da ciência, mais remédios surgem, o que é bom para a proteção. Mas, por outro lado, é preciso ter certeza que o medicamento vai fazer bem ao paciente e se não interage com outros que esteja tomando", afirma.
O idoso ainda possui uma particularidade, agravada em função da grande quantidade de remédios que a maioria toma. Os efeitos colaterais podem ser mais freqüentes e intensos com o passar dos anos. "Os idosos podem confundir os medicamentos ou esquecem de tomá-los. Além disso, muitos tomam remédios 5 ou 6 vezes por dia, o que diminui a qualidade de vida dos pacientes", comenta Pedrão.
Esse quadro fica ainda mais complicado com a ingestão de remédios sem a receita médica. Na opinião do geriatra, o consumo de remédios sem a ordem do médico ocorre com mais freqüência entre os idosos. Essa atitude vai de encontro com a racionalização da quantidade de medicamentos. "O paciente deve consultar seu médico para discutir as necessidades e benefícios daquele remédio. Senão ele gasta mais, tem mais efeitos colaterais, pode se confundir com outros medicamentos e ainda não trazer nenhum benefício", aponta Pedrão.
Mais caros
Ele explica que o controle do colesterol, a doença de Alzheimer, a osteoporose e a depressão são alguns dos tratamentos mais caros atualmente. "O paciente que precisa controlar o colesterol de forma rígida gasta por mês entre R$ 150 e R$ 200, fora os outros remédios. Imagine como é complicado. O tratamento de Alzheimer é bancado pelo governo, o que já ajuda um pouco. O custo é alto também para os remédios de uso contínuo. Por isso é função do médico conhecer bem seu paciente, fazer um atendimento individualizado e racionalizar a quantidade de medicamentos", opina.
Segundo Pedrão, os médicos podem receitar remédios genéricos para diminuir os custos aos pacientes. Mas há situações que mesmo esse tipo de remédio tem um valor alto. "Existe situações que não dá para fazer muita coisa, como quando a pessoa precisa controlar bem a pressão e o colesterol. Às vezes, o tratamento é custoso do mesmo jeito", declara.
Custo, qualidade ou praticidade?
Para Cláudio Pereira da Cunha, presidente da Associação Médica do Paraná, a venda de genéricos está sendo estimulada em função da tentativa de reduzir os custos do tratamento. "Não tenho tido dissabores em utilizar os genéricos. Mas nem sempre eles são os mais baratos", informa.
Ele explica que os medicamentos similares, que são produzidos por outros laboratórios que copiam as fórmulas dos concorrentes, podem ser menos custosos. "Eles podem vender mais barato, mas cabe alertar que alguns laboratórios não possuem a estrutura técnica adequada. Como fazem mais barato e dão comissão para as farmácias, há o interesse de vender esses produtos. O médico deve orientar diversas opções e o paciente não devia simplesmente aceitar a mudança do balconista, que pode oferecer produtos com procedência desconhecida", revela.
Cunha acredita que uma das saídas para o alto custo dos medicamentos seria a maior participação do governo em ceder remédios para esses pacientes. "Uma série de remédios tem sido fornecida pelos postos de saúde. Mas existem dificuldades, pois os medicamentos doados nestes locais normalmente são mais antigos, às vezes não sendo tão práticos", expõe. Ele cita que enquanto um comprimido comprado na farmácia pode envolver diversas ações, nos remédios conseguidos nos postos o número de comprimidos pode aumentar. "É de graça, mas o tratamento pode ficar mais complicado. O paciente não vai morrer por falta de medicamento", observa. Outra solução, de acordo com ele, é a adoção de medidas que barateiam os tratamentos. Para isso, seria necessária a intervenção governamental junto à comercialização de remédios. Cunha ressalta que o médico deve sempre facilitar ao máximo o tratamento para qualquer pessoa. (JC)